Chegamos ao fim de mais uma Conferência das Partes e depois de duas semanas intensas de debates, insights e aprendizados, iniciar, de fato, a implementação é urgente. Num ambiente de diversas negociações, a tomada de ação é inegociável. As mudanças climáticas e as mudanças do clima já são uma realidade, o que nos coloca numa posição de adaptação.

Mas muitos podem estar se perguntando a diferença entre mudanças climáticas e mudanças do clima. Parecem sinônimos, mas não são. O primeiro trata-se de um processo, que envolve principalmente planos de longo prazo, como descarbonização. Enquanto o segundo se refere ao agora, ao curto prazo. Independentemente, adaptação é a palavra de ordem para a realidade e envolve diversos stakeholders:  iniciativa privada, os governos, sociedade civil e academias. E não à toa foi a palavra que definiu grande parte das plenárias de encerramento dessa COP.

O aquecimento, os eventos extremos, secas, chuvas são cada vez mais frequentes e, muitas vezes, irreversíveis. Por isso, precisamos fazer o possível para equilibrar os pratos. Dentro desse contexto, as cidades são extremamente importantes. Investir na adaptação significa investir em infraestrutura e consequentemente trabalhar para oferecer melhores condições à população. No Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil (PN-PDC), encontramos dois insights que ajudam a compreender de forma prática essa pauta: os investimentos em prevenção e redução de riscos de desastres podem gerar economia de até 15 vezes a mais do que no período pós-desastre e que para cada US$ 1,00 investido em infraestrutura resistente pode-se economizar até US$ 4,00 (o equivalente a R$ 22) em reconstrução.

Quanto mais desenvolvido um local, mais capital teremos direcionados à infraestrutura. E isso inclui pilares fundamentais: resiliência climática, gestão de resíduos, água e saneamento, infraestrutura sustentável e um plano diretor. E com isso, torna-se, mais uma vez, imprescindível uma ‘coalizão’ entre iniciativa privada, entes públicos (governos, prefeituras e secretarias) e sociedade civil para chegarmos a um denominador comum. O acordo final apresentado pela presidência da COP30 no último sábado (22) aprovou a estrutura para triplicar o financiamento mundial para adaptação climática até 2035.

E esse dado não é meramente um número diplomático. É um sinal da urgência para o mercado. A gestão de riscos climáticos físicos deixou de ser uma nota de rodapé nos relatórios de sustentabilidade para se tornar um imperativo de continuidade de negócios e uma reconfiguração imediata na alocação de capital.

Vale ressaltar também que a questão de capital é outra frente que necessita dessa dualidade entre público e privado. O setor público não conseguirá triplicar esse financiamento sozinho. Para isso, as empresas precisam estruturar mecanismos financeiros inovadores que atraiam capital privado para projetos de infraestrutura resiliente, diluindo riscos e garantindo retorno socioambiental. E esses mecanismos incluem, por exemplo, blended finance e títulos verdes.

Outro ponto são as soluções baseadas na natureza, que serão uma alavanca para essa adaptação. Na EY, desenhamos cinco temas principais para direcionar isso:  infraestrutura resiliente, cidades sustentáveis, capital natural, supply chain descarbonizada e economia circular.

A carta final apresentada ao final do evento não é a resolução final para todos os problemas. O caminho ainda é árduo e colaborativo. Temos muito pela frente até a COP31, na Turquia, mas a COP30 nos deu o mandato da realidade. As empresas que liderarão a economia na próxima década não serão apenas as que descarbonizarem mais rápido, mas aquelas que demonstrarem maior capacidade de adaptação e resiliência em um mundo em profunda transformação climática. A hora da ação coordenada é agora.

*Ricardo Assumpção, sócio-líder de Sustentabilidade e CSO para América Latina da EY

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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