Por Everardo Gueiros*
A Praça dos Três Poderes continua sendo o centro nervoso da política brasileira, mas o enredo mudou. A crise que começou no Judiciário não desapareceu, apenas trocou de protagonista. E que ninguém se engane: o Judiciário não está silencioso nem desapercebido. Malandramente, sai de cena temporariamente, aproveitando-se do despreparo do Legislativo para deixar que o foco e a pressão se concentrem no Congresso Nacional.
Quase num surto de esquizofrenia institucional, o Parlamento decidiu puxar a crise para dentro de si. O que deveria ser um espaço de equilíbrio e moderação se transformou no novo epicentro da instabilidade. O Judiciário, antes alvo de críticas e tensões diárias, agora assiste de camarote à turbulência que ajudou a deflagrar, mas que no momento não o atinge diretamente.
A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro é um dos marcos dessa nova fase. Mais do que um fato jurídico, tornou-se um acontecimento político de alto impacto, reacendendo divisões e alimentando sentimentos de injustiça. Ao mesmo tempo, no cenário internacional, Donald Trump atiça seu próprio incêndio com um tarifaço que cria tensões no comércio global, enquanto a diplomacia americana adota um tom de pouco interesse em construir pontes.
No Brasil, a política externa é um desastre total, sem rumo claro, condicionada às preferências ideológicas e pessoais do presidente Lula, o que nos custa dinheiro, posição, protagonismo e prestígio. Falta planejamento de Estado, sobra improviso, lembro dos aloprados. E é nesse ambiente instável, interno e externo, que o Congresso resolve se expor, amplificando suas divisões e fragilidades.
Enquanto o Legislativo se perde em disputas internas e agendas de ocasião, o Judiciário permanece em posição confortável, fora da linha de fogo, aguardando o momento certo para voltar à cena. A crise mudou de endereço, mas não perdeu intensidade e, se não for contida, pode comprometer o equilíbrio institucional por muito mais tempo.
*Everardo Gueiros é advogado e empresário. Foi Secretário de Projetos Especiais do Governo do Distrito Federal, Desembargador do TRE-DF, Conselheiro Federal da OAB, presidente da Caixa de Assistência da OAB/DF e Diretor da Escola Superior de Advocacia da OAB/PE.