A foto de Brais Lorenzo (para a agência EFE) que ilustra o texto noticioso do jornal El País, não deixa margem para dúvidas: A paisagem tranquila da barragem de As Conchas (perto de Bande), na província galega de Ourense, esconde um problema ambiental grave e de evolução lenta.
A contaminação do embalse por cianobactérias e níveis elevadíssimos de nitratos está a afetar todo o ecossistema da região, incluindo a emblemática zona termal de O Baño, em Bande — conhecida pelas suas águas quentes e procurada tanto por turistas como por locais.
Note-se que é neste local – agora parcialmente submergido pela água de tom esverdeado – que se encontra Aquis Querquennis, um notável sítio arqueológico romano que foi acampamento militar. Abrigava cerca de 500–600 soldados, encarregues de construir a Via XVIII (Via Nova), que ligava Bracara Augusta (Braga) a Asturica Augusta (Astorga).
O alerta ambiental, contudo, é fruto do século XXI. Segundo peritagens apresentadas recentemente em tribunal, a concentração de bactérias perigosas na água chegou a atingir 97 milhões por litro, com valores de nitratos entre 500 a 1000 vezes superiores ao considerado aceitável.
A origem do problema remonta a mais de uma década, mas ganhou expressão crítica a partir de 2011, com episódios sucessivos de florescimento de cianobactérias e colorações verdes densas na superfície da água. A situação agravou-se com o crescimento da pecuária intensiva na zona, em particular suiniculturas e avícolas que descarregam purinas sem tratamento adequado para o solo e ribeiras — acabando, por via direta ou subterrânea, no embalse.
A gravidade do caso levou à declaração de nível 3 de alerta sanitário, o mais elevado, e à proibição total de atividades recreativas na barragem. Embora não haja, para já, interdição formal das termas de O Baño ou de outras estâncias próximas, os especialistas alertam para o risco de infiltração das toxinas nos aquíferos que alimentam as nascentes termais, podendo afetar a qualidade da água mesmo quando esta parece limpa e inodora.
Cianotoxinas como as microcistinas não são detetadas facilmente nas análises convencionais, mas têm efeitos reconhecidos ao nível hepático, respiratório e neurológico, sobretudo com exposições prolongadas. O receio é que o uso contínuo das águas, sem controlo rigoroso e regular, exponha a população a riscos invisíveis.
A recuperação da zona, segundo peritos do CSIC e de várias universidades espanholas, pode levar entre 10 a 20 anos, caso não haja uma mudança profunda no modelo de gestão agrícola e ambiental da região. A renovação natural das águas é lenta, e os sedimentos contaminados no fundo da barragem continuarão a alimentar novos episódios de contaminação se não forem intervencionados.
Alternativas seguras para os amantes do termalismo
Enquanto não há garantias científicas que confirmem a segurança das águas em O Baño e nas imediações de As Conchas, os especialistas recomendam que se opte por estâncias com controlo sanitário regular.
Entre as alternativas mais próximas e seguras estão:
– Termas de Outariz e Chavasqueira (Ourense), com águas controladas e infraestrutura de apoio; as Termas de Prexigueiro (Ribadavia), em ambiente natural e com histórico de boa gestão; e o Balneário Termal de Melgaço, com acompanhamento médico e boa reputação na área da balneoterapia.
A situação em As Conchas é mais do que um alerta ecológico: é um teste à capacidade de resposta das autoridades, e um espelho das consequências de décadas de permissividade ambiental.