Estamos também a apenas três quilómetros da primeira linha de casas na zona norte da Faixa de Gaza. A olho nu não é possível ver nada a não ser uma mancha de prédios encavalitados uns nos outros, naquela que é uma das zonas mais densamente povoadas de todo o mundo. Através de uma lente fotográfica de alta resolução, porém, conseguimos ver perfeitamente os prédios totalmente destruídos, na cidade à nossa frente, Beit Hanoun. Sabemos que algures à nossa esquerda, mais a sul, estará o que resta do campo de refugiados de Jabalia, que foi bombardeado pelas IDF no final de outubro de 2023, num ataque que terá matado dezenas de pessoas e um comandante do Hamas.
[A polícia é chamada a uma casa após uma queixa por ruído. Quando chegam, os agentes encontram uma festa de aniversário de arromba. Mas o aniversariante, José Valbom, desapareceu. “O Zé faz 25” é o primeiro podcast de ficção do Observador, co-produzido pela Coyote Vadio e com as vozes de Tiago Teotónio Pereira, Sara Matos, Madalena Almeida, Cristovão Campos, Vicente Wallenstein, Beatriz Godinho, José Raposo e Carla Maciel. Pode ouvir o 7.º episódio no site do Observador, na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E o primeiro episódio aqui, o segundo aqui, o terceiro aqui, o quarto aqui, o quinto aqui e o sexto aqui]
Aquilo que vemos num dos cantos norte do enclave são escombros atrás de escombros. Daquela distância, não há ali qualquer vestígio percetível de vida. Ao longo do último ano, os civis de Gaza foram sendo concentrados na zona sul do enclave, perto da fronteira com o Egito. Mas as operações no norte — onde o Exército israelita acredita estarem ainda escondidos responsáveis do Hamas — continuam.

A prova disso é um dos primeiros sons que ouvimos quando chegamos ao nosso ponto de observação. À frente, estende-se a Faixa de Gaza em toda a sua largura e é possível ver o mar Mediterrâneo ao fundo. Da nossa direita, na direção norte, ouve-se o som de um projétil a ser disparado. Esperando alguns segundos, olhamos para a esquerda e vemos uma coluna de fumo a formar-se no exato sítio onde caiu, no meio dos prédios. O ritual da guerra vai-se repetindo, a uma cadência de cerca de dez em dez minutos. Há alguns intervalos pelo meio, mas não há 20 minutos que passem sem se ouvir mais uma explosão.