Um voluntário levanta um pássaro sem vida numa praia varrida pelo vento em Odessa, a cidade portuária ucraniana do Mar Negro, onde a vida selvagem está a lutar pela sobrevivência, com a ajuda do jardim zoológico local. A origem do desastre foi um derrame de óleo de girassol que as autoridades ucranianas atribuem aos ataques russos.
Dezenas de aves foram vítimas de um derrame que, segundo o governador regional de Odessa, Oleh Kiper, foi causado por ataques russos na semana passada, que danificaram os tanques de armazenamento de óleo de girassol no porto de Pivdennyi.
O Jardim Zoológico de Odessa partiu para a costa para tentar salvar e limpar as aves que sobreviveram ao derrame de óleo de girassol. “As aves perdem a capacidade de se mover, porque ficam com as penas revestidas de óleo. Não conseguem levantar voo nem nadar”, afirmou o director do Zoo, Ihor Biliakov, à saída de um ponto de salvamento para a reabilitação das aves.
“As aves perdem a mobilidade e congelam muito rapidamente, porque está muito frio”, explicou Ihor Biliakov.
Ambiente também é vítima
Odessa tem sido um dos principais alvos russos desde que as tropas de Moscovo invadiram a Ucrânia, em Fevereiro de 2022, mas os ataques têm-se tornado mais intensos nas últimas semanas e a vida selvagem está entre as vítimas da guerra.
A Rússia não comentou o derrame no Mar Negro, que a Administração Militar Regional de Odessa atribuiu aos bombardeamentos russos feitos antes do Natal, segundo fontes de informação ucranianas. Moscovo tem negado ter como alvo dos seus ataques infra-estruturas civis.
Nos ataques aos portos da região de Odessa, sofreram danos navios com as bandeiras de vários países, bem como depósitos de cereais, dizem as autoridades ucranianas, citada pela agência Ukrinform.
Procuradores do Departamento de Combate a Crimes Cometidos em Situações de Conflito Armado e do gabinete do Procurador Regional de Odessa estão a conduzir uma investigação ao abrigo do trabalho da Comissão de Crimes de Guerra na Ucrânia. Kiev pretende pedir uma indemnização à Rússia no valor de 43 mil milhões de dólares (37 mil milhões de euros) por danos ambientais e crimes contra o clima, apoiada pela União Europeia e outras instituições europeias.
Manchas de óleo de girassol na água, junto ao terminal portuário de Odessa atingido por ataques russos recentes
Nina Liashono/REUTERS
Mergulhões mais afectados
As aves gritam indignadas enquanto os voluntários as limpam do óleo que cobre do bico às patas. Ihor Biliakov disse que duas espécies foram mais afectadas: o mergulhão-de-crista (Podiceps cristatus) e o mergulhão-de-pescoço-castanho (Podiceps auritus).
“O mergulhão-de-crista é uma ave aquática especialmente vulnerável a este tipo de contaminação, tal como a derrames de petróleo”, afirmou o director do Zoo de Odessa.
As equipas de emergência instalaram barreiras flutuantes e enviaram embarcações especializadas para conter o derrame, enquanto o canal de aceso ao porto foi temporariamente encerrado, informou a administração.
As autoridades afirmaram que, como o óleo é de origem vegetal, acabará por se degradar, mas os esforços de monitorização e limpeza continuam para evitar que se espalhe mais.
