Há exatos 41 anos, o futebol brasileiro era surpreendido por uma tragédia que chocou o país. Em 20 de dezembro de 1984, o zagueiro Cláudio Figueiredo Diz (1960-1984), então com apenas 23 anos, morreu em um acidente aéreo no Pico da Caledônia, em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio de Janeiro. O desastre envolveu um avião monomotor que havia decolado do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, e marcou para sempre a história do Flamengo e do esporte nacional.

De acordo com reportagens do jornal local, A Voz da Serra, à época, e da Folha de São Paulo, o avião modelo Corisco, de prefixo PT-NJS-193, desapareceu pouco depois da decolagem e só foi localizado dias depois, cravado entre rochas a cerca de 2 mil metros de altitude, em uma área conhecida pela neblina constante e pela baixa visibilidade. As condições climáticas adversas atrasaram o resgate, que só foi concluído após quase três dias de buscas. Além de Figueiredo, morreram no acidente Nilton Gama de Oliveira, irmão do jogador Bebeto (61), Viviane Rocha, uma modelo amiga dos dois atletas e o piloto Moacyr Gomes Neto. O corpo do zagueiro foi encontrado justamente no dia em que ele completaria 24 anos.

O local da tragédia, aliás, já carregava um histórico sombrio. Vinte anos antes, em 1964, um avião da Vasp havia se chocado contra o mesmo maciço, provocando a morte de 39 pessoas. Reportagens da época chegaram a levantar a hipótese de que uma carta aeronáutica com altitude incorreta do Pico da Caledônia poderia ter contribuído para o acidente de 1984.

Pedaço de um jornal anunciando o acidente com Cláudio Figueiredo Diz em dezembro de 1984 – Arquivo

Uma carreira promissora interrompida cedo demais

Nascido em 23 de dezembro de 1960, em São Paulo, Cláudio Figueiredo Diz começou no futebol ainda criança, nas categorias de base do Palmeiras. Aos 15 anos, transferiu-se para o Rio de Janeiro para defender os times inferiores do Flamengo, clube que o lançaria profissionalmente em 1979, aos 18, em uma partida contra o Fluminense de Nova Friburgo.

Zagueiro técnico e disciplinado, Figueiredo integrou um dos elencos mais vitoriosos da história rubro-negra. Foi campeão da Libertadores da América e do Mundial Interclubes em 1981, além dos Campeonatos Brasileiros de 1982 e 1983, atuando como titular nas decisões. Em 1980, ainda nos juniores, chegou a chamar a atenção do lendário técnico Helenio Herrera (1910-1997), então treinador do Barcelona, que esteve no Brasil observando jovens talentos.

Apesar de não ser considerado uma grande estrela em um time repleto de craques, o defensor vinha se firmando como titular absoluto da zaga em 1984. Sua última partida pelo Flamengo ocorreu em 1º de dezembro daquele ano, pouco antes da tragédia, em um clássico contra o Fluminense.

Figueiredo, Sérgio Ramirez, Pelé e Manguito - Foto: Arquivo
Figueiredo, Sérgio Ramirez, Pelé e Manguito – Foto: Arquivo

O sobrenome que virou símbolo político

Além do talento em campo, Figueiredo carregava um sobrenome que despertava curiosidade e comentários. Em plena fase final da ditadura militar, o jornal Folha de S. Paulo chegou a registrar que parte de seu prestígio estava ligada à associação simbólica com o então presidente da República, João Figueiredo (1918-1999), embora não houvesse parentesco algum entre eles.

Por causa disso, o jogador ganhou o apelido de “Presidente” entre os companheiros de equipe e acabou sendo escolhido, em janeiro de 1984, como padrinho da torcida Fla-Diretas, ligada ao movimento Diretas Já. Com isso, entrou para a história como um dos primeiros futebolistas a manifestar apoio público à campanha pela redemocratização do país.

A morte precoce de Cláudio Figueiredo interrompeu uma carreira promissora e deixou uma marca profunda no Flamengo e no futebol brasileiro. Quarenta e três anos depois, o acidente no Pico da Caledônia segue sendo lembrado não apenas pela tragédia, mas também pela simbologia histórica que envolveu um jovem jogador, seu sobrenome e um dos períodos mais delicados da história política do Brasil.

Em 2018, um grupo de montanhistas foi até o local do desastre aéreo no Pico da Caledônia em Nova Friburgo (RJ) e encontrou destroços do avião no local. Confira:

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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