O Colégio Estadual Indígena Benedito Rokag, na Terra Indígena Apucaraninha, em Tamarana (PR), enfrenta dois meses sem acesso regular à água potável após envenenamento dos rios pelo latifúndio local. Cerca de 400 estudantes Kaingang são afetados pela falta de abastecimento, que compromete higiene, funcionamento dos banheiros e preparo da merenda.
Sem água para cozinhar, a merenda ficou suspensa por semanas e só retornou após a própria comunidade buscar água em outra localidade. Alunos e servidores têm levado garrafas de casa.
Pressão para manter o colégio funcionando sem água
Educadores denunciam que a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED) continuou exigindo o funcionamento normal da unidade, com presença obrigatória dos profissionais, carga horária integral e recomposição das aulas perdidas sem a garantia de qualquer solução emergencial.
Segundo relato dos professores à imprensa progressista Jornal Plural Curitiba, um representante da SEED visitou a escola e afirmou que os recursos já teriam sido repassados e estariam esgotados, mas não apresentou nenhum documento que comprovasse a transferência.
“Estamos sendo pressionados a cumprir horário e recompor a aprendizagem, enquanto o colégio não tem água, não tem banheiro funcionando e não tem sequer como preparar a merenda”, afirmou um dos docentes.
Em nota, a SEED afirmou que o caso é acompanhado pelo Núcleo Regional de Educação de Londrina, que parte dos recursos para um novo poço já foi disponibilizada e que galões de água potável fornecidos pela Sanepar estariam garantindo o abastecimento temporário, o que é desmentido pelos relatos dos professores e alunos.
A falta de água é resultado de contaminação dos latifúndios locais
A ausência de água potável é agravada pela contaminação dos rios próximos — Apucaraninha, Apucarana Grande e Tibagi — por agrotóxicos usados pelo latifúndio ao redor da terra indígena. Há latifúndios na vizinhança com áreas plantadas e arrendadas que são exploradas para cultivo comercial de soja, milho e trigo — culturas que, no Paraná, costumam empregar pulverizações de agrotóxicos em larga escala.
A região é marcada por disputas entre o povo Kaingang e latifundiários, incluindo conflitos envolvendo a Fazenda Tamarana, tema recorrente em reportagens e pelos avanços das retomadas indígenas, tendo sido noticiado inclusive no Jornal AND.
Segundo dados do DATASUS, o município de Tamarana registrou 56 contaminações por agrotóxicos no ano de 2020 à 2025, uma delas sendo em circunstâncias de envenenamento.
Enquanto o latifúndio atua de forma a tentar sufocar e expulsar os indígenas e camponeses locais, através até mesmo do envenenamento da população, o velho Estado que acoberta estes mesmos crimes não consegue sequer oferecer água potável nas escolas indígenas.
Até a publicação desta matéria, a situação já havia sido regularizada, mas segue o receio entre as populações indígenas de que, enquanto o latifúndio subsistir ao redor de suas terras, problemas como este seguirão a ocorrer.
