Com a chegada do calor e das férias, cresce também o risco de intoxicações alimentares. A combinação entre altas temperaturas, falhas no preparo e armazenamento incorreto favorece a multiplicação de microrganismos que podem causar desde quadros leves de mal-estar até infecções graves.
Preparo e conservação dos alimentos
Segundo Elizia Carolline Rodrigues Araujo, infectologista do Hospital Brasília Águas Claras, o perigo não está apenas no alimento em si, mas na forma como ele é manipulado, preparado e conservado. Ela diz que a combinação de microrganismos com condições inadequadas de temperatura cria o ambiente perfeito para proliferação: “As preparações culinárias que apresentam maior risco de intoxicação são as que têm maior manipulação de quem está preparando a refeição, como é o caso de maioneses caseiras, saladas, carnes mal passadas, leite e derivados, ovos e molhos prontos.” Esses alimentos são altamente suscetíveis à contaminação por bactérias como Salmonella e Staphylococcus aureus.
Letícia Salgueiro Otoni, nutricionista do Hospital Sírio-Libanês, reforça que as doenças transmitidas por alimentos (DTAs) continuam sendo um problema de saúde pública. Ela lembra que o risco é ainda maior quando as refeições passam longos períodos fora da geladeira, situação típica de férias, praias, viagens e eventos ao ar livre.
“As formas que os alimentos são preparados, armazenados e manipulados são influenciadores significativos no risco de intoxicação alimentar e ditarão o tempo de durabilidade/utilização antes do descarte”, explica Letícia, acrescentando que temperaturas incorretas são um dos principais fatores para o crescimento de patógenos, especialmente em pratos com ingredientes crus ou sem cozimento completo.
Por isso, o conceito de cadeia do frio é tão importante. Respeitar a cadeia do frio significa garantir que alimentos perecíveis sejam mantidos em temperaturas seguras desde a compra até o consumo. Isso inclui transportar produtos em bolsas térmicas, armazená-los imediatamente na geladeira ou freezer, evitar exposição prolongada ao calor e manter a geladeira abaixo de 5°C. Interromper essa cadeia aumenta significativamente o risco de proliferação bacteriana.
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Quais alimentos oferecem risco maior?
Entre os alimentos mais associados à intoxicação alimentar, as especialistas destacam:
- Ovos, maioneses e molhos caseiros
A alta manipulação favorece contaminações cruzadas. Preparações artesanais, sem pasteurização, tornam-se ambiente propício para Salmonella.
- Carnes mal passadas
Carnes bovinas, aves e pescados mal cozidos podem carregar bactérias que só morrem com temperatura interna adequada e, no calor, o estrago é ainda mais rápido, segundo a infectologista.
- Leite e derivados
Produtos frescos, especialmente quando deixados fora da refrigeração, deterioram rapidamente. Queijos, iogurtes, cremes e sobremesas à base de leite exigem atenção redobrada.
- Saladas e vegetais crus
Quanto maior o manuseio, maior a chance de contaminação. Sem lavagem correta, podem conter vírus, parasitas e bactérias.
- Preparações prontas mantidas em temperatura ambiente
Alimentos que ficam muito tempo fora da geladeira criam condições ideais para proliferação microbiana, mesmo que tenham sido bem preparados inicialmente.
Como evitar a intoxicação alimentar?
A dra. Elizia reforça que pequenas atitudes fazem grande diferença na cozinha:
- Higienizar mãos e superfícies;
- Usar utensílios diferentes para alimentos crus e cozidos;
- Evitar ovos crus em receitas;
- Resfriar rapidamente preparações prontas;
- Manter geladeira abaixo de 5°C.
A nutricionista complementa que planejamento e organização são aliados. “O controle de tempo e temperatura é fundamental para manter a segurança dos alimentos”. Isso inclui transportar refeições em bolsas térmicas, descartar itens que ficaram horas fora da geladeira e observar sempre aparência, odor e textura.
Combinando alta temperatura e deslocamentos constantes, os meses de verão costumam concentrar mais episódios de intoxicação alimentar. Quando houver dúvida sobre a segurança de um alimento, as especialistas reforçam: é melhor descartar do que correr o risco.
Vômitos, diarreia, febre, dor abdominal e mal-estar geral são sinais clássicos de intoxicação alimentar. Caso os sintomas sejam intensos, persistam por mais de 48 horas, haja sinais de desidratação ou o paciente seja do grupo de risco, a recomendação é buscar atendimento médico imediatamente.
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