Os debates da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30),  reforçaram algo que os brasileiros percebem na prática: as mudanças climáticas já fazem  parte do nosso cotidiano. Chuvas cada vez mais intensas provocam enchentes em grandes cidades, calor intenso e longos períodos de seca prejudicam colheitas, vendavais e ciclones que arrancam telhados, derrubam árvores e destroem a rede de energia elétrica são fenômenos que afetam nossa rotina — e também o nosso orçamento. 

Do aumento da conta de luz ao preço mais alto dos alimentos, passando por prejuízos com carros, casas e interrupção de faturamento de pequenos negócios, os efeitos do clima extremo têm um impacto financeiro direto na vida dos cidadãos e suas famílias. Por isso, além de discutir soluções globais para o clima, precisamos falar sobre como podemos nos preparar, individualmente, para enfrentar esses eventos e reduzir os riscos ao patrimônio.

Quando os efeitos climáticos pesam no bolso

Nos últimos quatro anos, 83% dos municípios brasileiros registraram ao menos um desastre provocado por chuvas, como enchentes, enxurradas ou deslizamentos. O contraste com o passado mostra o tamanho da mudança: na década de 1990, apenas 27% das cidades haviam enfrentado esse tipo de evento. 

Os dados integram a série “Brasil em Transformação”, elaborada pelo Programa Maré de Ciência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e da Fundação Grupo Boticário. 

Segundo o levantamento, intitulado “Temporadas das águas: o aumento das chuvas extremas”, a ocorrência de desastres relacionados a chuvas intensas triplicou no período, evidenciando que tempestades severas vêm se tornando mais frequentes e mais danosas em todo o país. Cerca de 86% das mortes associadas a eventos climáticos no país ocorreram em razão de tempestades severas — são 4.247 óbitos, de um total de 4.923 registrados. O impacto social é ainda mais amplo: 8,7 milhões de pessoas ficaram desalojadas ou desabrigadas por causa de enchentes e enxurradas, o que representa 94% de todos os casos de deslocamento forçado provocados por desastres naturais.

O estudo mostra ainda que a média anual de pessoas afetadas por chuvas intensas cresceu de forma significativa a partir dos anos 2000, tendência que se acentuou na última década. O desastre ocorrido no Rio Grande do Sul em 2024 — que sozinho atingiu cerca de 2,4 milhões de pessoas — exemplifica como esses eventos vêm ganhando escala e gravidade. Esses fenômenos, classificados como eventos climáticos extremos, ocorrem fora do padrão esperado em termos de intensidade, duração ou frequência, e geram impactos profundos na sociedade, na economia e no meio ambiente.

De acordo com Pedro Werneck, Gerente de Sustentabilidade da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), as secas e eventos provocados por chuvas são responsáveis pela maior parte das perdas decorrentes de eventos climáticos. “Elas geram os maiores prejuízos econômicos totais, especialmente porque afetam grandes áreas agrícolas, levando a quebras de safra, perda de produtividade e impactos em cadeias inteiras. Já os eventos associados à chuva (enchentes, enxurradas e deslizamentos) são os que mais causam vítimas e pessoas afetadas, além de provocarem danos significativos em regiões urbanas”, explica.

Esse cenário se intensifica em um momento crítico: 2024 foi o ano mais quente já registrado no planeta, o primeiro a superar consistentemente a marca de 1,5°C de aquecimento global em relação ao período pré-industrial. O aumento das temperaturas da atmosfera e dos oceanos está diretamente ligado ao avanço das tempestades severas, ao desequilíbrio do ciclo das chuvas e à maior frequência de desastres extremos no Brasil.

Diante desse quadro, especialistas apontam que a adaptação das cidades é urgente. “Quando falamos das cidades, o risco está muito ligado ao tipo de infraestrutura disponível e às características do território. Bairros com drenagem insuficiente, construções em áreas de encosta, loteamentos irregulares, sistemas de esgoto precários e falta de manutenção urbana são naturalmente mais vulneráveis. Nessas áreas, mesmo chuvas de menor intensidade podem causar danos expressivos a residências, veículos e estabelecimentos comerciais”, aponta Pedro Werneck.

Como se proteger financeiramente dos efeitos do clima

proteger seu negócio e sua residência é fundamental diante dos eventos climáticos cada vez mais frequentes.

Mas como se proteger dos eventos climáticos extremos? A recomendação é que famílias e empresas reforcem sua proteção financeira. Isso inclui seguro residencial e seguro de automóvel que contemplem danos causados por chuva, vento forte, queda de árvores ou alagamentos — coberturas que muitas pessoas acreditam ter, mas que nem sempre estão previstas no contrato. 

“Atualmente, apenas cerca de 9% das perdas econômicas decorrentes de eventos climáticos são cobertas pelo seguro no Brasil”, alerta Pedro Werneck. “Há ainda fortes desigualdades regionais. Enquanto Sul e Sudeste têm taxas médias de cobertura de perdas climáticas de 16% e 11%, respectivamente, as regiões Norte e Nordeste apresentam a maior lacuna do país, com menos de 2% das perdas cobertas pelo seguro”.

Esse desequilíbrio reflete diferenças estruturais de acesso, renda e cultura de seguro, mas também abre espaço para políticas de inclusão securitária e desenvolvimento de soluções sob medida para as regiões mais vulneráveis do país.

Pequenos negócios também precisam se proteger

uma estrutura sólida e finanças saudáveis aumentam a resistência do negócio a desastres.

Os eventos climáticos extremos não afetam apenas residências e famílias — pequenos negócios e prestadores de serviço estão entre os mais vulneráveis. Enchentes, vendavais e longos períodos de calor ou estiagem podem destruir estoques, danificar equipamentos, interromper atividades e comprometer meses de faturamento.

A dinâmica é semelhante à velha lição dos Três Porquinhos: em um cenário em que as “rajadas de vento” — agora na forma de tempestades, alagamentos e eventos extremos — chegam com mais força e frequência, negócios que não estão estruturados acabam expostos como casas frágeis, incapazes de resistir ao primeiro impacto. Já aqueles que constroem bases sólidas — com seguro adequado, reserva financeira e planejamento — têm mais chances de atravessar a tempestade sem desmoronar.

A tragédia de 2024 no Rio Grande do Sul mostrou isso de forma dramática: milhares de micro e pequenas empresas tiveram que fechar as portas, muitas delas definitivamente, porque não tinham seguro empresarial, reserva financeira ou qualquer instrumento de proteção para lidar com a interrupção das operações. Lojas perderam estoques inteiros, salões de beleza e oficinas ficaram semanas sem funcionar, serviços autônomos ficaram sem renda — e a maior parte desses prejuízos não tinha cobertura.

A proteção do setor agrícola é outro ponto crítico, especialmente porque este é o setor mais afetado economicamente por secas e outros eventos extremos. “Apenas 6% da área plantada no país possui seguro agrícola, apesar de esse ser um dos instrumentos mais eficazes para reduzir perdas financeiras”, afirma Pedro Werneck. 

Os principais tipos de seguros disponíveis para você

Entenda os tipos de seguros disponíveis para proteger você, sua família, seu negócio e seus bens das perdas causadas por desastres naturais:

  • Seguro de vida: garante uma indenização aos beneficiários em situações de morte decorrente de uma tragédia climática, ajudando a família a manter estabilidade financeira. Já os seguros de acidentes pessoais podem cobrir invalidez permanente ou temporária e despesas médicas relacionadas a acidentes provocados por esses eventos, funcionando como um importante complemento de segurança.
  • Seguro para bens: o seguro residencial costuma contar com coberturas para danos causados por enchentes, vendavais, queda de árvores, raios e desabamentos. No seguro automóvel, a maior parte das apólices cobre alagamentos, enchentes, queda de galhos e danos por granizo, mas é essencial verificar quais dessas proteções estão incluídas no contrato, já que algumas dependem de contratação adicional.
  • Seguros para seu negócio: para MEIs e pequenos empreendedores, o seguro empresarial é uma ferramenta importante para proteger equipamentos, mercadorias, instalações e móveis do negócio. Ele também pode incluir a cobertura de lucros cessantes, que indeniza pela perda de receita e ajuda a pagar despesas fixas, como aluguel, folha de pagamento e impostos, durante o período em que a empresa precisa ficar temporariamente parada após um sinistro coberto.
  • Seguro agrícola: para quem trabalha no meio rural, existem seguros específicos, como o seguro agrícola e o seguro pecuário, que protegem a produção, o rebanho e a receita do produtor em casos de seca, excesso de chuva, granizo, incêndio acidental e outras ocorrências climáticas que podem comprometer a atividade.

Se precisar acionar o seguro, o primeiro passo é priorizar a segurança, afastando-se de áreas alagadas, estruturas instáveis ou locais com risco elétrico. Em seguida, notificar a seguradora, quando possível, usando os canais de atendimento 24h, aplicativos ou central telefônica. A abertura do sinistro o quanto antes permite que a seguradora acione equipes de assistência, envie orientações e inicie a regulação.

Outros cuidados importantes

Para além dos seguros, também é essencial manter uma reserva de emergência para enfrentar imprevistos sem recorrer a crédito com juros altos, além de revisar periodicamente apólices e contratos para garantir que riscos climáticos e desastres naturais estejam efetivamente incluídos. 

“Esteja atento ao item de riscos cobertos da apólice. Em seguida, é essencial conferir a seção de riscos ou eventos excluídos, que sempre acompanha o contrato e pode conter limitações importantes. Também vale observar os limites de indenização, franquias e eventuais cláusulas especiais que afetem a proteção”, ensina Pedro Werneck.

Essas medidas ajudam a reduzir perdas e a minimizar o impacto financeiro de eventos que se tornam cada vez mais frequentes e severos.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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