A transição para uma economia de baixo carbono deixou de ser uma aspiração futurista e se tornou um imperativo econômico e social que define a competitividade das nações no século XXI. Para o Brasil, um país com uma matriz energética relativamente limpa, mas com desafios estruturais em setores como transporte, indústria e infraestrutura, a descarbonização em escala exige um salto de ambição e, sobretudo, de execução. É neste ponto que a sinergia entre o setor público e o capital privado, formalizada pelas Parcerias Público-Privadas (PPPs), ganha centralidade como mecanismo para acelerar a transformação.
O desafio da descarbonização é vasto e exige investimentos que superam a capacidade orçamentária de qualquer governo. De acordo com Anuário de Dados sobre a Transição Energética do Brasil 2025produzido pela BloombergNEF, estima que a transição completa para uma economia líquida zero no Brasil exija mais de US$ 6 trilhões em investimentos até 2050. Projetos de infraestrutura verde, como a modernização da mobilidade urbana, a eficiência energética em edifícios públicos e a gestão de resíduos sólidos, são cruciais para reduzir emissões e, ao mesmo tempo, gerar valor econômico e social.
As PPPs oferecem o arcabouço ideal para destravar o capital privado necessário para esses empreendimentos. Ao provarem segurança regulatória, previsibilidade de longo prazo e um mecanismo de compartilhamento de riscos, eles transformam projetos de alto impacto ambiental em investimentos financeiros mais competitivos.
Neste cenário, o setor de serviços financeiros assume um papel que transcende o de mero financiador. As instituições do setor passam a atuar como estratégicas estratégicas, direcionando o fluxo de capital para áreas capazes de gerar o impacto máximo positivo. Isso implica ir além da análise de crédito tradicional e integrar profundamente os critérios ESG (Ambiental, Social e Governança) em todas as decisões de investimento. A descarbonização, vista por essa lente, deixa de ser protegida como custo e passa a ser entendida como uma estratégia de mitigação de riscos e de criação de valor de longo prazo.
E esse movimento já começa a aparecer nos números: segundo a Iniciativa de Política Climática (CPI/PUC-Rio)o financiamento climático no Brasil dobrou entre 2019 e 2023, alcançando US$ 67,8 bilhões em 2023, volume ainda distante do necessário, mas que sinaliza maior mobilização de recursos. Empresas que lideram a transição para o baixo carbono tendem a ser mais resilientes e, consequentemente, mais atrativas para o investimento.
A cooperação entre os entes públicos e privados é a espinha dorsal dessa nutrição. O poder público tem a responsabilidade de estabelecer metas claras, criar um ambiente regulatório estável e sinalizar as prioridades nacionais, como a eletrificação da frota e a adoção de combustíveis sustentáveis. O setor privado, por sua vez, traz eficiência operacional, inovação tecnológica e capacidade de execução em escala. Quando o arcabouço jurídico e a ambição política se encontram com a liquidez e a expertise do mercado, o resultado é a materialização de projetos que, de outra forma, permaneceram no papel.
Uma janela de oportunidade para o Brasil liderar a transição verde global está aberta. O sucesso da nossa jornada de descarbonização dependerá da nossa capacidade de transformar a intenção em investimento, e o investimento em impacto real. As Parcerias Público-Privadas são o veículo mais robusto para essa jornada, exigindo de todos os stakeholders, do formulador de políticas ao gestor de capital, um compromisso consistente com a sustentabilidade como pilar do desenvolvimento nacional. É um caminho de responsabilidade compartilhada, mas de benefícios coletivos e duradouros.
Petrina Santos, Gerente Executiva de Sustentabilidade e de Relações Governamentais da Volkswagen Financial Services
