“O Legado do ESG” foi título de um dos painéis no Forbes Annual Summit, realizado na sede da EDP, em Lisboa, e que conta com a presença de Mafalda Duarte (Diretora Executiva do Green Climate Fund), Carla Marques, (CEO da Intelcia Portugal), Francisco Vilaça (Diretor-Geral da Uber), Márcio Lopes (CEO da Márcio Lopes Wine Maker), e com a moderação de Mafalda Rebordão (Economista).
Mafalda Duarte abriu o painel destacando que, apesar dos avanços alcançados desde o Acordo de Paris, o mundo entrou numa fase crítica marcada pela primeira ultrapassagem dos 1.5°C e pelo agravamento dos riscos climáticos sistémicos. A Diretora Executiva do Fundo Verde para o Clima enfatizou, também, que as alterações climáticas são hoje o maior multiplicador de riscos globais, alimentando migrações, insegurança alimentar, desigualdades e dificuldades geopolíticas, exigindo respostas específicas e transversais. Identificou ainda a Inteligência Artificial como um segundo eixo de transformação: uma ferramenta poderosa para a medicina e para a gestão climática, mas simultaneamente um novo polo de emissões, consumo energético e impactos sociais, com potencial para representar 1,5% das emissões globais até 2035.

Mafalda Duarte, Diretora Executiva do Fundo Verde para o Clima, enfatizou que as alterações climáticas são hoje o maior multiplicador de riscos globais, e desativa respostas específicas e transversais.
O terceiro risco estrutural apontado foi a perda de biodiversidade, que já ameaça a estabilidade financeira global, num contexto em que seis dos nove limites planetários foram ultrapassados, reforçando a necessidade de integrar o capital natural nas decisões económicas. Apesar da gravidade do cenário, Mafalda Duarte mantém confiança na capacidade global para converter compromissos em ação, reforçada em novos roteiros de transição e maior mobilização de capital sustentável. Concluir defender que uma ambição crescente observada na sociedade, combinada com uma participação mais robusta de mulheres em cargas de liderança, é essencial para enfrentar os riscos globais e construir um futuro sustentável.
Uma visão crescente observada na sociedade, combinada com uma participação mais robusta de mulheres em cargas de liderança, é essencial para enfrentar os riscos globais e construir um futuro sustentável.

Carla Marques, CEO da Intelcia Portugal, afirmou que o ESG já faz parte da agenda de todas as empresas, mas alertou que não pode ser tratado como um simples exercício de checklist. No caso da Intelcia, que trabalha com clientes de setores tão diversos como bancos, seguros, telecomunicações e e-commerce, a sustentabilidade está diretamente ligada à continuidade e prosperidade dos modelos de negócio. Como empresa que “vende experiências de cliente”, a Intelcia vê o ESG como um requisito estrutural para garantir qualidade, ética e resiliência em organizações expostas a uma grande diversidade de riscos e expectativas.
Para Carla Marques, CEO da Intelcia Portugal, a sustentabilidade está diretamente ligada à continuidade e à prosperidade dos modelos de negócio.
Os pilares críticos do ESG na Intelcia são a ética empresarial e a dimensão social, afirma Carla Marques. Cerca de 80% da operação assenta em pessoas, o que torna a gestão de talentos, comunidades e relações humanas centrais para o desempenho e para a sustentabilidade. A CEO da Intelcia sublinhou ainda que o futuro do trabalho será marcado pela transformação trazida pela Inteligência Artificial, o que torna urgente a responsabilidade das empresas em promover upskilling e requalificação. Defendeu que o ESG “não é só o verde”, mas um conjunto diário de decisões que garantem a sobrevivência das organizações, incluindo a preparação de novas lideranças capazes de enfrentar um mercado em rápida mutação e garantir a continuidade dos negócios.
Cerca de 80% da operação da Intelcia assenta em pessoas, o que torna a gestão de talentos, comunidades e relações humanas centrais para o desempenho e para a sustentabilidade.
Francisco Vilaça, sublinhou que o contributo da Uber para a sustentabilidade vai muito além da eletrificação da frota da empresa. Recordou-se que o transporte rodoviário é um dos maiores emissores de gases com efeito de estufa e que, para atingir as metas globais de mitigação, não basta substituir carros a combustão por carros elétricos: é necessário alterar comportamentos de mobilidade. Para Vilaça, mover-se num carro individual é “a pior opção” em termos ambientais, e o papel da Uber é oferecer alternativas que mudem hábitos e tornem o sistema de mobilidade mais eficiente, partilhado e sustentável.

Francisco Vilaça, Diretor-Geral da Uber, afirmou que não basta substituir carros a combustão por carros elétricos: é necessário alterar comportamentos de mobilidade.
O Diretor-Geral da Uber explicou que Portugal é hoje um caso de liderança dentro da Uber, com cidades que operam níveis de eletrificação até 14 vezes superiores à média nacional. A Uber já funciona como complemento estrutural ao transporte público, permitindo que muitas famílias prescindam do segundo carro, ou mesmo do primeiro, graças à transferência de metro, trotinetes, bicicletas eléctricas e viagens Uber. Destacou três pilares desta transição: produto (como o Uber Electric e o Uber Share, que agrega passageiros na mesma rota), investimento (mais de 800 milhões desde 2020 para acelerar a eletrificação global) e compromisso estratégico (atingir 100% de viagens de emissões zero nas principais cidades da Europa e América do Norte até 2030). Para Francisco Vilaça, a Uber demonstra que mudanças estruturais na mobilidade podem ocorrer no cotidiano das pessoas e que a sustentabilidade deve estar incorporada em todas as decisões operacionais.
Para Francisco Vilaça, a Uber demonstra que mudanças estruturais na mobilidade podem ocorrer no cotidiano das pessoas e que a sustentabilidade deve estar incorporada em todas as decisões operacionais.
Márcio Lopes, CEO da Márcio Lopes Wine Maker, explicou que a sustentabilidade está no centro da sua atividade desde 2010, com foco na recuperação de vinhas antigas e no trabalho com agricultores locais. O projeto começou aproveitando vinhas superadas, cultivadas de forma manual, sem precisão ou atomização, priorizando métodos que respeitam o ciclo natural da água e do solo. Para Márcio Lopes, este trabalho não é apenas ambiental, mas também social e económico, pois garante a preservação de um grupo crescente de agricultores e protege um património genético crítico de mais de 300 castas portuguesas.

Para Márcio Lopes, a sustentabilidade está no centro da atividade de Márcio Lopes Wine Maker, cujo projeto começou por aproveitar vinhas supervisionadas, cultivadas de forma manual, sem supervisão ou atomização, privilegiando métodos que respeitam o ciclo natural da água e do solo.
O CEO destacou que seu modelo combina transformação mínima da uva em vinho com práticas agrícolas sustentáveis e cooperativas, promovendo a consciencialização e a colaboração entre os produtores. A abordagem visa coerência a longo prazo, garantindo que a produção vinícola seja resiliente, ecológica e socialmente responsável, preservando tradições e conhecimentos antigos enquanto constrói um futuro sustentável para o setor primário em Portugal.
Para o CEO de Márcio Lopes Wine Maker, este trabalho não é apenas ambiental, mas também social e económico, pois garante a preservação de um grupo crescente de agricultores e protege um património genético crítico de mais de 300 castas portuguesas.
O painel declarou que ESG vai além de compromissos formais: é estratégia, ética e inovação, capaz de transformar negócios, mobilidade e setores primários, para construir um futuro sustentável e inclusivo.
