Enquanto líderes mundiais se reúnem na COP30, em Belém, para discutir o futuro climático do planeta, um dado da ONU expõe uma contradição desconfortável: a eficiência energética global caiu, e os investimentos em infraestrutura verde seguem muito abaixo do necessário. Isso revela algo importante – não é uma tecnologia que falta, e sim a capacidade de aplicá-la em escala e com urgência.
Nos últimos anos, governos e empresas multiplicaram discursos sobre inovação verde, transição energética e compromissos ESG. Mas, na prática, uma parte significativa do potencial existente segue inexplorado. Há tecnologias simples, maduras e amplamente disponíveis — automação, gestão inteligente de equipamentos, modelos de uso em vez de propriedade, remanufatura, rastreabilidade — capazes de gerar impacto ambiental imediato. Mesmo assim, permaneceram subutilizados.
O Brasil simboliza bem esse desalinhamento. O país é hoje o quinto maior gerador de lixo eletrônico do mundo, com cerca de 2,4 milhões de toneladas descartadas por ano e menos de 3% recicladas de forma adequada, segundo a ONU. Grande parte desse passivo nasce dentro das empresas, que ainda operam sob uma lógica linear: comprar, usar, armazenar ou descartar. Equipamentos funcionais permanecem parados em salas e depósitos; outros são descartados antes do fim da vida útil; muitos circulam sem rastreabilidade, criando riscos ambientais e de segurança de dados.
No entanto, soluções já consolidadas apontam caminhos concretos para quebrar esse ciclo. Modelos baseados em economia circular — como o uso de equipamentos por assinatura, a revitalização de dispositivos, a extensão da vida útil e a destinação adequada ao fim do ciclo — economizam emissões, diminuem custos e evitam a geração de novos resíduos. São alternativas que unem sustentabilidade, eficiência e racionalidade econômica.
Empresas que adotam esse tipo de abordagem têm ganhos relevantes: menos desperdício, maior produtividade, menor necessidade de compra de novos equipamentos, redução de resíduos e melhoria direta em indicadores ESG. Esses resultados mostram que a sustentabilidade deixou de ser um custo adicional e passou a ser parte do próprio desenho de eficiência operacional.
A transição verde, é claro, depende de grandes acordos globais, regulamentações internacionais e investimentos estruturais. Mas ela também depende — e muito — das decisões cotidianas tomadas dentro de cada organização. Enquanto os governos discutem metas para 2030 ou 2050, as empresas que utilizam com inteligência os recursos e tecnologias já disponíveis colhem benefícios imediatos: redução de emissões, diminuição de despesas, simplificação de processos e criação de operações mais resilientes.
O desafio agora não é apenas inventar novas soluções. É ampliar o uso das soluções que já existem. Porque, quando o assunto é impacto ambiental, o futuro não depende apenas de inovação — depende de aplicação.
Vittorio Danesi, CEO da Simpress.
