Um trio de ciclones tropicais, somados à estação de monções, geraram uma crise humanitária no sudeste asiático. Do Sri Lanka à Indonésia, foram cerca de 1.800 mortos, centenas de desaparecidos e ao menos US$ 20 bilhões (R$ 108 bilhões) de prejuízos materiais. E as mudanças climáticas estão por trás da intensificação desses eventos, conclui um estudo de atribuição da rede global de cientistas climáticos World Weather Attribution (WWA).
As tempestades provocaram chuvas torrenciais e inundações que varreram casas e comércios, danificaram estradas, ferrovias e plantações, e paralisaram polos industriais. Somente no Sri Lanka, o volume de chuva variou de 400 a 500 mm diários – proporção semelhante às inundações de São Sebastião, litoral de São Paulo, em 2023, conta a Folha.
A falta de infraestrutura em áreas alagáveis, o desmatamento e o urbanismo desordenado aumentaram a catástrofe. “Durante a estação das monções, esperamos inundações, mas de até cerca de 30 a 60 centímetros. Em algumas áreas, a elevação ultrapassou 4 a 4,5 metros”, disse Lalith Rajapakse, da Universidade de Moratuwa, no Sri Lanka, na Bloomberg.
Mas as mudanças climáticas tiveram papel essencial para aumentar o desastre, mostra o estudo. As duas tempestades mais fortes, Ditwah e Senyar, deveriam ocorrer a cada 30 e 70 anos, respectivamente.
“Esses episódios ilustram como as mudanças climáticas e a Natureza podem se alinhar para produzir chuvas intensas excepcionais”, afirma Mariam Zachariah, pesquisadora do Centro de Política do Imperial College, de Londres.
Segundo a especialista, os modelos climáticos apontam para tendência de aumento na frequência de chuvas intensas nas últimas duas décadas: na Indonésia, de 9% a 50%, e no Sri Lanka, de 28% a 160%. A variação se dá pelo uso de quatro modelos, mas Mariam reforça que o mais importante é a direção que eles indicam.
A água do Oceano Índico está cerca de 0,2°C mais quente que as médias sazonais, o que colaborou para alimentar as tempestades, fornecendo calor e umidade extras. Sem o aquecimento causado pela queima de combustíveis fósseis, as temperaturas do Índico estariam 1°C mais frias, destacam Guardian e Washington Post.
A dinâmica de chuvas em excesso é observada com frequência nas pequenas ilhas, e o desafio de reconstrução se agrava com as crises econômicas. No caso do Sri Lanka, antes dos eventos extremos, o país havia recebido US$ 2,9 bilhões (R$ 16 bilhões) de empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Agora, as primeiras estimativas mostram que o país precisará de US$ 7 bilhões (R$ 38 bilhões) para sua reconstrução. Um a cada dez habitantes foi afetado pelas inundações.
Maja Vahlberg, conselheira técnica da Cruz Vermelha, afirma que o processo de reconstrução precisa ser bem conduzido para prevenir ou ao menos minimizar as próximas catástrofes. Áreas de risco devem ser evitadas, e florestas e áreas alagáveis, reconstituídas, para diminuir a velocidade da água em uma próxima enchente.
Energy Mix, CBC e Business Standard também noticiaram o estudo da WWA.
