Uma falha na esterilização de materiais provocou a suspensão de procedimentos cirúrgicos na Santa Casa de São Paulo. Médicos apontam mais de dois meses de problemas como a remarcação e o cancelamento de cirurgias eletivas com impacto em pacientes de diferentes especialidades do hospital.

Profissionais de saúde e pacientes ouvidos pela CBN denunciam que as cirurgias eletivas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo chegaram a ser suspensas por risco de contaminação dentro da unidade.

O problema começou, segundo os relatos, após a terceirização da Central de Esterilização de Materiais cirúrgicos.

Fontes da área cirúrgica afirmam que há pelo menos 60 dias existe uma falha operacional contínua, que estaria causando a suspensão de cerca de 70% das cirurgias eletivas. É o que relata um médico, que pediu pra não ser identificado por medo de represálias.

“A rotina nossa é assim: o material é aberto antes de o paciente ser anestesiado para confirmar. Normalmente quem abre é um cirurgião ou médico residente, assistente. E, se houver, algum indício de contaminação, a cirurgia é cancelada.”

Uma paciente da ortopedia aguarda uma cirurgia de reparação para retirar uma placa da perna. Desde agosto, ela não recebe nova data para o procedimento.

“Não passaram a data, eu passei aqui em agosto, uma semana depois eu vim, tirei o raio X, tudo que deu, aí depois agora eles marcaram o retorno pra agora. Então é agora que eles vão falar. Tenho dor e quero tirar a placa, aí ela [a médica] falou que não porque os parafusos tá muito exposto, né. Qualquer coisinha que toca dói.”

Bárbara Helen, que fez uma cirurgia de emergência há 30 dias após um acidente, não foi diretamente prejudicada, mas afirma ter presenciado pacientes que tiveram procedimentos cancelados por falta de instrumentos esterilizados.

“No meu caso, eu não fui prejudicada, né, mas houve casos de que pessoas que até mesmo estavam internadas foram prejudicadas por conta que teve contaminação dos equipamentos e tal, contaminação que eles não poderiam usar e essas pessoas saíram prejudicadas, né. E aí não conseguiam fazer a cirurgia e a cirurgia foi cancelada”

O problema não se limita à ortopedia.

Uma paciente que viajou de Buritama, no interior paulista, para acompanhar o marido em um tratamento intestinal na Santa Casa relata que ele precisa fazer uma colonoscopia. O exame depende de um medicamento caro e obtido pelo programa de alto custo, mas a família não consegue agendar o procedimento porque, segundo informaram, três aparelhos de colonoscopia estão quebrados.

“O medicamento a gente já conseguiu, uma medicação cara, que a gente só consegue no alto custo, porque nós não temos condições de comprar, né? E ele já conseguiu, com o prazo de validade curta, não dá pra adiar mais esse exame, porque senão a gente vai perder essa medicação, porque já é agora pra próxima semana e a gente precisa ter uma resposta, sim ou não, pra ele começar a fazer essa preparação pra fazer o exame, e nós não temos essa certeza.”

A Santa Casa negou o percentual de 70% de cancelamentos de cirurgias eletivas e afirma que as vagas dependem dos casos de urgência e emergência, que são prioridade.

O hospital sustenta que a terceirização do serviço da Central de Material e Esterilização foi uma decisão estratégica com o objetivo de aprimorar a qualidade da operação e fortalecer a gestão operacional.

A entidade diz que não existem interrupções dos exames de colonoscopia. Em nota, a Santa Casa diz que prioriza o atendimento humanizado e de qualidade em conformidade com as diretrizes do SUS.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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