A crise de contaminação da água no Condado de Morrow, Oregon, evoluiu de um problema agrícola de longa data para um escândalo que envolve a gigante de tecnologia Amazon, segundo um relatório da Rolling Stone. O aquífero da Bacia Inferior de Umatilla, única fonte de água para até 45 mil moradores, está severamente contaminado por nitratos, o que tem sido associado a graves problemas de saúde, como cânceres raros, insuficiência renal e abortos espontâneos.

O ex-comissário Jim Doherty, que se tornou um denunciante, relatou ter ouvido histórias de 25 abortos espontâneos e atípicos casos de câncer de laringe em não fumantes nas casas de moradores que dependiam de poços. 68 dos 70 poços testados por ele violaram o limite de segurança federal para nitrato.

O coquetel tóxico de Morrow County

A base do problema reside em megafazendas e fábricas de processamento de alimentos (como Lamb Weston e Tillamook Creamery) que, por décadas, bombearam milhões de litros de água rica em nitrogênio e resíduos de volta para campos de solo arenoso altamente poroso, através do Port of Morrow. O solo não consegue absorver a quantidade massiva de poluentes, que se infiltram diretamente no aquífero.

A chegada dos centros de dados da Amazon Web Services (AWS) intensificou dramaticamente esse ciclo de contaminação, funcionando como um super-acelerador de poluição:

  1. Extração e concentração: os data centers da AWS (a Amazon possui sete instalações na área) sugam dezenas de milhões de litros de água anualmente para resfriar servidores. Como parte dessa água evapora durante o resfriamento, os nitratos remanescentes são concentrados no volume restante.
  2. Devolução contaminada: essa água super-contaminada (chegando a uma média de 56 ppm, oito vezes acima do limite de segurança) é devolvida ao sistema de esgoto do Port of Morrow, forçando o Port a despejar ainda mais água contaminada nos campos.

Dessa forma, a demanda da AWS por água, embora necessária para a obtenção de bilhões em isenções fiscais locais, agravou as restrições hídricas e acelerou a contaminação da fonte de água potável da comunidade.

Batalha judicial

O esforço para denunciar a crise teve um alto custo político. Jim Doherty e a comissária Melissa Lindsay foram destituídos de seus cargos em 2022 por aliados dos interesses agrícolas e industriais, após tentarem declarar estado de emergência para a água.

O escândalo se complexificou com alegações de corrupção. O Procurador-Geral do Oregon moveu um processo separado contra ex-oficiais do Port of Morrow (como Gary Neal) por se beneficiarem de uma venda de ações de uma empresa de fibra óptica (Windwave) que negociava com a Amazon, configurando um caso de auto-favorecimento ilegal.

A crise culminou em uma batalha legal de grandes proporções:

  • Comparação com Flint: ativistas do Oregon Rural Action compararam a lentidão da resposta das autoridades e a falta de poder político das vítimas à crise da água em Flint, Michigan.
  • Ação coletiva: o advogado Steve Berman moveu uma ação coletiva federal contra o Port e as empresas agrícolas (Lamb Weston, Tillamook) por contaminação. Crucialmente, a Amazon é vista como um alvo potencial, listada como um “John Doe” em documentos legais.

A Amazon nega ter impacto significativo na qualidade da água, alegando que nitratos não são usados em seus processos. No entanto, e-mails internos revelados sugerem que a empresa via doações filantrópicas à comunidade como um meio de “posicionar a AWS como um cidadão corporativo engajado” e, assim, obter aprovação para bilhões em isenções fiscais.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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