Bombeiros ainda trabalham nesta quinta-feira (27) para acabar com o incêndio que começou na quarta-feira (26) e ainda atinge um complexo residencial em Hong Kong e já deixou ao menos 83 mortos e centenas de desaparecidos.
O fogo continua em alguns pontos há mais de 24 horas. Esse é o incêndio mais mortal em Hong Kong em sete décadas.
Pelo menos 123 pessoas ficaram feridas, incluindo oito bombeiros. Entre as vítimas, ao menos 51 morreram no local e quatro no hospital, relataram autoridades.
O que causou o incêndio?
Os bombeiros receberam o primeiro chamado sobre o incêndio pouco antes das 15h, no horário local (4h da manhã de Brasília), segundo o Corpo de Bombeiros de Hong Kong.
O fogo começou no Wang Cheong House, um prédio residencial de 32 andares que faz parte dos oito blocos que compõem o complexo Wang Fuk Court, que estava em reforma, disse Derek Armstrong Chan, vice-diretor de operações do Corpo de Bombeiros.
Quando os bombeiros chegaram ao primeiro prédio, os andaimes e as redes de proteção já estavam em chamas.
Os bombeiros começaram a combater as chamas, que se alastraram rapidamente de prédio para prédio, transformando um incêndio em um único bloco de apartamentos em múltiplos incêndios simultâneos em vários andares.
Pelo menos sete dos oito blocos de apartamentos do complexo foram afetados pelo incêndio, obrigando aqueles que conseguiram escapar das chamas a se abrigarem em acomodações temporárias.
Ainda assim, muitos moradores ficaram presos nos apartamentos, com os bombeiros impossibilitados de alcançá-los devido às altas temperaturas dentro dos prédios e à queda de destroços.
Na madrugada desta quinta-feira (27), no horário local, os incêndios haviam sido extintos em três prédios, enquanto quatro ainda apresentavam “focos isolados de fogo”, segundo o chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee.
Ainda não se sabe quantas das 279 pessoas desaparecidas estavam presas nos escombros – ou se são simplesmente pessoas que ainda constam como não contatadas no caos da retirada de um complexo tão grande.
Os bombeiros sabiam onde muitas pessoas estavam presas, disse Chan, mas o calor extremo impediu que os socorristas chegassem até elas.
Dezenas de mortos
Pelo menos 75 pessoas morreram no incêndio no edifício Wang Fuk Court, que, segundo um especialista em construção, se alastrou por 32 andares em apenas cinco minutos. Na quarta-feira (26), as autoridades informaram que 279 pessoas estavam desaparecidas, e não se sabe ainda se o número aumentou. Também não está claro quantas pessoas conseguiram ser resgatadas.
Incêndio “sob controle”
John Lee, chefe do Executivo de Hong Kong, afirmou que os incêndios nos sete prédios do complexo estão “basicamente sob controle”. No entanto, imagens de vídeo ao vivo mostram focos de incêndio ainda consumindo janelas de apartamentos, indicando que o combate ao fogo ainda não terminou.
Andaimes de bambu
O incêndio mortal reacendeu o debate sobre o uso secular de andaimes de bambu em Hong Kong.
Embora o bambu seja reconhecido por sua flexibilidade e baixo custo, especialistas em construção civil questionam novamente o uso desse material inflamável em projetos de construção.
Lee afirmou que o governo inspecionará todos os andaimes de bambu da cidade e que órgãos oficiais se reunirão para discutir a transição para andaimes metálicos.
Retiradas de moradores e as placas de poliestireno
Uma questão fundamental para as autoridades permanece: por que os outros prédios não foram esvaziados mais rapidamente assim que o fogo começou a se alastrar a partir do primeiro edifício?
Mais de 800 bombeiros foram mobilizados para combater o incêndio, com 128 caminhões de bombeiros e 57 ambulâncias enviados ao bairro.
Na madrugada desta quinta-feira (27), no horário local, um porta-voz da polícia informou que a Polícia de Hong Kong prendeu três homens, acusados de “negligência grave”.
A polícia encontrou o nome da construtora em placas de poliestireno inflamável que os bombeiros encontraram bloqueando algumas janelas do complexo de apartamentos. As autoridades acrescentaram que suspeitam que outros materiais de construção encontrados nos apartamentos – incluindo redes de proteção, lonas e coberturas plásticas – não atendiam aos padrões de segurança.
“Essas placas de poliestireno são extremamente inflamáveis e o fogo se alastrou muito rapidamente”, disse o diretor do Corpo de Bombeiros, Andy Yeung.
“A presença desses materiais é incomum, por isso encaminhamos o caso à polícia para novas investigações.”
O que sabemos sobre as vítimas?
Pelo menos 75 pessoas morreram no incêndio até o momento, incluindo um bombeiro de 37 anos que ficou ferido enquanto tentava combater as chamas, disseram autoridades de Hong Kong.
As autoridades informaram que o bombeiro, identificado como Ho Wai-ho, foi levado às pressas para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu.
Pelo menos 123 pessoas ficaram feridas no incêndio, incluindo oito bombeiros, informou o Corpo de Bombeiros da cidade nesta quinta-feira (27).
Centenas de moradores provavelmente estão desabrigados em uma cidade onde já há uma grave escassez de moradias e habitações populares.
Um morador de 65 anos do conjunto habitacional, que se identificou apenas pelo sobrenome Ho, estava atrás da fita policial, observando os prédios em chamas enquanto ponderava sobre seus próximos passos.
Morador do Bloco 1, no canto mais a leste do complexo, Ho disse que fugiu imediatamente ao som do alarme de incêndio e se considerou sortudo pelos danos relativamente leves sofridos por seu prédio.
“Não duvido que muitos idosos, gatos e cachorros ainda estejam lá dentro”, disse ele à CNN.
Auxílio financeiro
Lee afirmou que cada família afetada pelo incêndio receberá 10 mil dólares de Hong Kong (cerca de R$ 6.800) em fundos de auxílio do governo.
Hong Kong também está criando um fundo de assistência para o conjunto habitacional, no valor de 300 milhões de dólares de Hong Kong (cerca de R$ 206 milhões).
Sobreviventes compartilham depoimentos
Repórteres da CNN estão no local, entrevistando aqueles que sobreviveram ao desastre.
Um homem relatou ter ouvido gritos de socorro na tarde de quarta-feira (26), antes de ver fumaça saindo de sua janela. Outros questionaram a confiabilidade dos alarmes de incêndio do complexo.
Centros para desabrigados
Cerca de 500 pessoas estão em nove centros de emergência, disse Lee. Os moradores afetados serão atendidos por 250 médicos e 250 outros profissionais de saúde.
Isso é comum em Hong Kong?
Este é provavelmente o incêndio mais mortal em Hong Kong desde a Segunda Guerra Mundial. Anteriormente, o incêndio no edifício Garley em 1996, que matou 41 pessoas, foi amplamente descrito como o pior incêndio em tempos de paz na história de Hong Kong.
Desastres como este são extremamente raros em Hong Kong. Uma das cidades mais densamente povoadas do mundo possui um histórico sólido em segurança predial, graças à alta qualidade de suas construções e à rigorosa aplicação das normas de construção.
Além disso, os andaimes de bambu são extremamente comuns na cidade, utilizados não apenas na construção de novos edifícios, mas também na reforma de milhares de prédios históricos todos os anos.
Mas a técnica tem sido alvo de crescentes críticas quanto à sua segurança e durabilidade. Embora o bambu seja apreciado por sua flexibilidade, ele também é combustível e propenso à deterioração com o tempo.
O Departamento de Desenvolvimento de Hong Kong anunciou recentemente que 50% dos novos projetos de construção pública erguidos a partir de março precisarão utilizar andaimes metálicos para “melhor proteger os trabalhadores” e se adequar aos padrões modernos de construção em “cidades avançadas”.
Essa declaração gerou reações negativas dos moradores, muitos dos quais observaram que os andaimes de bambu são um patrimônio cultural que precisa ser preservado.
Pressão sobre autoridades chinesas e de Hong Kong
Um incêndio tão devastador provavelmente aumentará a pressão sobre as autoridades de Hong Kong e da China.
Hong Kong é uma região semiautônoma da China, administrada por um governo regional que responde aos líderes em Pequim. No entanto, a China também intensificou o controle sobre a cidade nos últimos anos, especialmente após os enormes e, por vezes, violentos protestos pró-democracia que varreram a cidade em 2019. A dissidência foi reprimida e os protestos, antes comuns no cotidiano de Hong Kong, foram sufocados.
O líder chinês Xi Jinping expressou suas condolências às vítimas do desastre, informou a emissora estatal chinesa CCTV.
Xi pediu “todos os esforços” dos representantes do Comitê Central da China e do Escritório de Ligação de Hong Kong para fazerem “todo o possível” para auxiliar nos esforços para minimizar as vítimas e os prejuízos causados pelo incêndio, segundo a CCTV.
