Siga o Olhar Digital no Google Discover

Há pouco mais de uma semana, a Terra foi atingida por uma sequência intensa de explosões solares. Em apenas 48 horas, o Sol lançou três ejeções de massa coronal (CME) consecutivas que desencadearam uma forte tempestade geomagnética no planeta, que se estendeu por cerca de seis horas.

De acordo com a Agência Espacial Europeia (ESA), apesar da intensidade, os impactos sobre tecnologias críticas foram limitados. Além disso, não houve risco biológico direto para a população, já que a atmosfera e o campo magnético da Terra atuam como barreiras naturais contra a maior parte da radiação. Como o Sol alcançou o máximo do seu ciclo atual no início deste ano, eventos assim tornaram-se mais frequentes.

O grupo de manchas solares AR4274 produziu três erupções do tipo X (o mais forte) em três dias, sendo esta acima a mais poderosa do ano. Crédito: NOAA/GOES

Em resumo:

  • Poderosas explosões solares recentes geraram tempestades geomagnéticas intensas na Terra;
  • Apesar da força, impactos tecnológicos foram limitados pela proteção natural do planeta;
  • Foram registrados apagões de rádio, partículas energéticas atingiram o solo e auroras puderam ser vistas em locais incomuns;
  • Astronautas na estação espacial acionaram medidas de proteção devido à radiação;
  • Novas estratégias buscam prever tempestades solares e minimizar riscos.

Novembro registrou a tempestade solar mais poderosa do ano

A atividade solar segue um ciclo de aproximadamente 11 anos, alternando fases de maior e menor intensidade. No período de máximo solar, erupções e CMEs são mais comuns, elevando a probabilidade de distúrbios no clima espacial. Defesas naturais e satélites projetados para resistir à radiação reduzem o potencial de danos.

O episódio mais significativo da sequência do início do mês ocorreu dia 11, quando o Sol produziu uma erupção de X5.1 (a explosão solar mais violenta de 2025), que disparou uma CME em direção à Terra a 1.500 km/s. Naquele momento, o planeta já havia sido atingido por um jato “canibal” lançado entre domingo (9) e segunda-feira (10).

Imagem conceitual de uma ejeção de massa coronal quase alcançando e se fundindo a outra, gerando o que se chama de jato de plasma canibal. Crédito: NASA/Goddard Space Flight Center Conceptual Image Lab

No total, a mesma região solar hiperativa gerou quatro erupções e quatro CMEs em apenas três dias. Apesar disso, o efeito geomagnético observado foi menor do que o inicialmente previsto, possivelmente por características específicas daquela área. A sequência terminou na sexta (14), quando a última CME foi emitida após a segunda erupção solar mais poderosa do ano.

O efeito mais imediato foi um apagão significativo nas comunicações de rádio nas regiões voltadas para o Sol. Europa, África e Ásia sofreram interrupções que duraram entre 30 minutos e uma hora. Esses apagões ocorrem porque explosões solares alteram as camadas superiores da atmosfera, comprometendo sinais usados por aviação, navegação marítima e serviços de emergência.

A explosão recordista X5.1 também provocou um Aumento de Nível do Solo (GLE), fenômeno raro que ocorre quando partículas solares de altíssima energia conseguem penetrar o escudo magnético terrestre e chegar às camadas inferiores da atmosfera. Desde a década de 1940, apenas 77 GLEs foram confirmados. Eles não representam risco direto à população em solo, mas podem afetar aeronaves, satélites e eletrônicos sensíveis.

Efeitos na infraestrutura global foram mínimos

Mesmo com a severidade do episódio, o impacto na infraestrutura crítica global foi pequeno. Os satélites da ESA, por exemplo, são projetados para enfrentar condições extremas e, segundo a agência, não apresentaram danos significativos. O evento, na verdade, foi uma oportunidade valiosa para coletar dados de radiação que agora estão sendo analisados para melhorar previsões e modelos.

Várias espaçonaves em órbita terrestre registraram efeitos na atmosfera superior. A missão SMOS (sigla em inglês para “Umidade do Solo e Salinidade do Oceano”) detectou uma explosão de rádio cerca de 14 horas antes da tempestade geomagnética. O sinal mostrou polarização em sentido anti-horário, dado útil para avaliar interferências potenciais em sistemas de navegação global – algo que, neste caso, não ocorreu.

Os rastreadores estelares do Swarm, normalmente usados ​​para fornecer informações altamente precisas sobre a atitude (orientação no espaço) das espaçonaves, detectaram um aumento temporário de prótons de alta energia nos polos durante os eventos climáticos espaciais consecutivos de 12 e 13 de novembro de 2025. Crédito: ESA / Enkelejda Qamili

Os três satélites da constelação europeia Swarm mediram flutuações magnéticas até 10 vezes acima do normal. Em regiões próximas aos polos, os equipamentos registraram aumento temporário de prótons de alta energia entrando na atmosfera e originando “auroras de prótons”, um tipo mais difuso de aurora que aparece em latitudes incomuns durante tempestades intensas.

Fora da proteção do campo magnético terrestre, outras missões também registraram efeitos. O Observatório Solar e Heliosférico (SOHO) captou as primeiras imagens da CME, e a missão Solar Orbiter acompanhou a erupção, mediu partículas energéticas e analisou a assinatura magnética da nuvem ejetada.

Visão do SOHO sobre as ejeções de massa coronal no início de novembro de 2025. Crédito: SOHO (ESA e NASA)

A sonda BepiColombo, conduzida pela ESA em parceria com a Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA), estava praticamente no caminho do fluxo de partículas. Como resultado, recebeu um dos maiores impactos de partículas energéticas desde seu lançamento. A espaçonave, projetada para estudar Mercúrio em detalhe, apresentou erros transitórios de memória, que foram resolvidos automaticamente pelos seus sistemas; os dados obtidos serão importantes para avaliar vulnerabilidades.

Partículas solares de alta energia são preocupação particular para missões além do “escudo” magnético da Terra, já que são difíceis de bloquear e podem aumentar significativamente a exposição à radiação. Esses efeitos representam risco tanto para tripulações quanto para sistemas eletrônicos e, por isso, muitas naves carregam instrumentos específicos para medir radiação.

Para se ter uma ideia, o aumento da radiação em órbita causado pelo evento recordista obrigou astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS) a acionarem medidas de proteção – saiba mais aqui.

Leia mais:

Segundo a ESA, muitas de suas missões são equipadas com sensores de radiação para diagnosticar anomalias, apoiar decisões operacionais e aprimorar modelos que orientam o projeto de espaçonaves. A agência também investe em tecnologias de próxima geração para reduzir massa, custo e consumo desses instrumentos sem perder desempenho.

Para minimizar exposições, a ESA aplica o princípio ALARA (sigla para algo como “Tão Baixo Quanto Razoavelmente Alcançável”), uma política de segurança que determina que qualquer dose de radiação deve ser reduzida ao menor nível possível sem comprometer a operação da missão. Em tempestades severas, medidas práticas podem incluir adiar caminhadas espaciais, realocar astronautas para áreas mais protegidas a bordo e alterar cronogramas de missão para reduzir riscos.

Essas medições serão ainda mais importantes para futuras missões lunares e no espaço profundo, que vão operar além da proteção do campo magnético da Terra. Por isso, as equipes da ESA estudam novas estratégias de blindagem, analisando como diferentes materiais – incluindo o regolito presente em superfícies como a da Lua – podem alterar o ambiente de radiação. A agência também investiga toda a gama de efeitos biológicos causados por partículas de alta energia, a fim de proteger melhor tripulações e sistemas.

ESA planeja novas missões para medir o clima espacial

A busca por melhores previsões também avança. Com lançamento previsto para 2031, a missão Vigília, planejada para observar o Sol a partir do Ponto de Lagrange 5 (L5), um dos cinco pontos no espaço onde a força gravitacional do Sol e da Terra se equilibram de tal forma que uma espaçonave pode “acompanhar” o movimento dos dois corpos gastando pouco combustível.

Representação artística a missão Vigília, que a ESA pretende lançar em 2031. Crédito: ESA

Outra proposta é a SHIELD (escudo), uma missão que poderia operar além do Ponto de Lagrange 1 (L1) e emitir alertas com mais de duas horas de antecedência, tempo crucial para operadores de redes elétricas, telecomunicações e aviação. 

Embora o clima espacial seja imprevisível, cada episódio fornece dados que ajudam a entender o Sol e a proteger tecnologias e pessoas – um lembrete quanto à fragilidade de sistemas dos quais dependemos diariamente.


Source link

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *