A transformação que o mundo enfrenta exige uma mudança profunda na forma como formamos os futuros líderes empresariais e financeiros. Além do envio cognitivo que os gestores têm diante dos temas de sustentabilidade, a população em geral não quer ter de fazer sacrifícios hoje, para diminuir os sacrifícios no futuro. É por isso que só com conhecimento conseguiremos acelerar este processo. A inclusão obrigatória de temas como sustentabilidade, riscos climáticos e ESG (Ambiental, Social e Governança) nos currículos de Economia, Finanças e Gestão deixaram de ser uma opção: é uma necessidade estratégica. A obrigação dos programas políticos, quer de esquerda quer de direita, incluir este debate de forma pró-ativa e séria, é também essencial. Defender políticas em ajudar os países a antecipar e gerenciar os riscos climáticos e sociais, não é um tema de esquerda, é um tema de economia que deve estar na agenda de todos. A direita até pode perder votos por não incluir.
Ao longo dos meus mais de 15 anos a dar aulas nas Universidades de Portugal e África, percebi uma diferença marcante entre o ensino de jovens universitários e executivos. Os primeiros absorveram estes conceitos com naturalidade, entendendo que falar de clima, biodiversidade ou direitos humanos é falar de gestão de riscos e criação de valor a longo prazo. Nem entender como é que os gestores no mercado não valorizam estes temas ou como é que os ignoram. Já muitos executivos, formados numa lógica tradicional, tendem a rejeitar o que considerar “novidades”, mesmo quando estes são fundamentais para a sobrevivência das empresas num contexto de transição climática e digital.
Esta resistência é preocupante. Hoje, falar de clima é falar de gestão de risco, como sublinha Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu. Ignorar riscos climáticos significa ignorar impactos diretos sobre ativos, cadeias de valor e custos de capital. A integração de análises ESG não é uma questão meramente ética, é uma necessidade para o bom desempenho da empresa hoje e no futuro, tem algumas critérios regulatórios e constitui um fator de diferenciação e de competitividade na economia de mercado.
Por isso, é urgente que as universidades e escolas de negócios assumam um papel ativo na formação de profissionais preparados para este novo paradigma. Não basta oferecer disciplinas específicas; é necessário tornar estes conteúdos obrigatórios, garantindo que todos os futuros economistas, gestores e analistas financeiros compreendam a interdependência entre sustentabilidade, ricos, climáticos, desempenho empresarial e sejam capazes de criar novas soluções e novos produtos financeiros úteis a uma sociedade em que os desastres climáticos tenham, de forma crescente, um impacto na inflação e no PIB.
Esta mudança não pode ficar apenas no ensino. É igualmente essencial que os partidos de centro e direita coloquem os temas ambientais e de sustentabilidade na sua agenda política. Não se trata de ideologia, mas de pragmatismo económico: sem políticas que incentivem a transição verde, à medida que as empresas enfrentarão riscos crescentes e perderão competitividade global.
Preparar os jovens para este desafio é investir na resiliência das empresas e na estabilidade dos mercados. Isto começa na sala de aula e pode ser acelerado pela discussão política.
PhD e CEO da Sistêmica
