Especialistas internacionais exigem na Nature o cancelamento das concessões de combustíveis fósseis para cumprir o Acordo de Paris. Um segundo estudo revela a impunidade da contaminação petrolífera na Amazónia peruana
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Um grupo de académicos internacionais insta os países presentes na Conferência do Clima da ONU no Brasil a revogar as concessões de exploração de combustíveis fósseis, argumentando que é a única forma de salvar o Acordo de Paris. O apelo consta de um artigo publicado na revista Nature e é subscrito pelos especialistas Martí Orta, Gorka Muñoa e Marcel Llavero, da Universidade de Barcelona, e Guillem Rius, do Instituto de Saúde Global de Barcelona.
A equipa, que já tinha marcado presença na COP29 no ano passado, no Azerbaijão, lembra que o limiar de 1,5 °C de aquecimento global exige medidas drásticas, mesmo num cenário optimista de overshoot temporário. O caminho, defendem, passa por canalizar investimentos massivos para as energias renovadas e reformular com urgência os quadros legais internacionais, de modo a permitir o cancelamento das licenças de exploração de combustíveis fósseis. O mundo precisa de travar a abertura de novos poços e minas e desmantelar a maioria dos projectos já existentes, sustentam.
Esta posição é reforçada por um outro estudo, publicado na Energy Research and Social Science, que expõe a contaminação generalizada e a impunidade corporativa na Amazónia peruana. A investigação, liderada pela UB e pelo ISGlobal em colaboração com o Instituto Internacional de Estudos Sociais de Roterdão, analisou uma década de dados ambientais nos blocos petrolíferos 1AB/192 e 8. Dos 1184 impactos ambientais registados – desde derrames até descargas de águas de produção – apenas 17% resultaram em multas. E mesmo essas sanções raramente se mantinham após recurso, esvaziando a sua eficácia.
Os autores defendem que as coimas devem ser proporcionais aos lucros das empresas, retirando a vantagem económica de operar com baixos padrões. Propõem ainda a revogação de licenças para infractores reincidentes, indo ao ponto de questionar a própria continuidade da extracção global de combustíveis fósseis, sobretudo em regiões de alto valor ecológico e social. Para travar estes abusos, é crucial, alertam, reforçar a monitorização ambiental, dotar de mais meios as agências públicas e, sobretudo, integrar o conhecimento indígena no sistema de vigilância, dado o seu profundo domínio do território.
Referências bibliográficas:
ORTA, M. et al. Cancel fossil fuel extraction contracts to combat climate change. Nature, 20 nov. 2025. Disponível em: https://www.nature.com/articles/d41586-025-03780-4.
NR/HN/ALphaGalileo
