A explosão de golpes envolvendo o Pix em 2025 acendeu um dos maiores alertas de segurança digital já feitos por bancos, autoridades e especialistas em proteção de dados no Brasil. O avanço das fraudes, impulsionado por tecnologias como inteligência artificial e deepfakes, revela um cenário em que a velocidade das transações se tornou terreno fértil para criminosos altamente organizados.
Entre janeiro e setembro deste ano, o país registrou 28 milhões de tentativas de fraude relacionadas ao pagamento instantâneo, segundo levantamento da ADDP. O número representa um marco preocupante, que ressalta a sofisticação crescente dos golpes e a urgência por protocolos mais rígidos de verificação e educação digital entre os usuários.
LEIA MAIS:
A escalada de golpes no Pix que preocupa o país
O crescimento das fraudes digitais no sistema de pagamentos instantâneos acompanha a popularização da ferramenta, que ultrapassou a marca de 170 milhões de usuários ativos em 2025. À medida que se tornou a principal forma de transferência no Brasil, o Pix passou a chamar a atenção de organizações criminosas que agora operam com métodos e estruturas semelhantes às do cibercrime global.
O levantamento que revela a dimensão da crise
Segundo o estudo da ADDP, além dos 28 milhões de golpes envolvendo o Pix, outros números causam preocupação: 2,7 milhões de fraudes em compras online, 1,6 milhão de ataques via WhatsApp e 1,5 milhão de casos de phishing, técnica que usa mensagens falsas para roubo de dados.
Essas abordagens, antes consideradas simples, agora são alimentadas por ferramentas avançadas de IA capazes de imitar tons de voz, personalizar mensagens e criar cenários hiper-realistas.
O perfil das vítimas e o impacto por faixa etária
O levantamento indica que brasileiros acima dos 50 anos representam 53% das vítimas de fraudes digitais em geral. A vulnerabilidade desse grupo está associada à falta de familiaridade com novas ferramentas, ao uso de senhas repetidas e à confiança excessiva em comunicações supostamente oficiais.
Para criminosos, essa combinação resulta em um público mais facilmente explorável, especialmente em golpes que simulam contatos de bancos ou familiares.
Como a IA transformou os golpes digitais em 2025
O estudo revela que a inteligência artificial foi um dos maiores catalisadores da transformação dos golpes digitais no Brasil. A capacidade de produzir conteúdos falsificados com alto realismo abriu portas para fraudes que antes seriam improváveis.
Deepfakes: o novo rosto do estelionato digital
Os deepfakes se tornaram o método preferido de quadrilhas especializadas em obtenção de dados sensíveis e acesso a contas bancárias. Com poucos segundos de áudio ou vídeo coletados em redes sociais, criminosos conseguem replicar a voz de uma pessoa, criando diálogos completos e solicitando transferências via Pix que parecem legítimas.
Em diversos casos documentados, o golpista envia áudios simulando a fala de um gerente de banco, pedindo confirmação de dados ou informando supostas tentativas de invasão. Em outros, imita a voz de familiares para solicitar dinheiro de emergência.
A falsa central de atendimento cresce junto aos deepfakes
A chamada “falsa central de atendimento” atingiu o mesmo número de ocorrências que golpes de phishing. Nesses casos, o golpista liga para a vítima, muitas vezes usando deepfake de voz, após conseguir informações básicas que permitem simular um atendimento bancário real.
Com base nesses dados, a fraude se torna quase imperceptível, principalmente para perfis menos familiarizados com rotinas digitais.
A dimensão financeira do problema em 2025
As perdas financeiras associadas às fraudes digitais apresentam uma variação expressiva entre diferentes fontes, mas todas apontam para prejuízos bilionários. Estimativas vão de R$ 10 bilhões a R$ 112 bilhões somente em 2024. A projeção para 2025 é de aumento, principalmente pela subnotificação.
A subnotificação como fator de agravamento
Especialistas afirmam que grande parte das vítimas não registra boletim de ocorrência por vergonha, medo de exposição ou descrença na punição aos criminosos. Isso reduz a visibilidade dos golpes e dificulta a criação de políticas públicas alinhadas à realidade.
Francisco Gomes Junior, presidente da ADDP, reforça que os crimes digitais se transformaram em uma “indústria estruturada”, com quadrilhas operando kits de fraude, bots, softwares de engenharia social e esquemas de lavagem de dinheiro que se alimentam da rapidez das transações via Pix.
Como os bancos e o Banco Central reagiram ao aumento das fraudes
Diante do cenário alarmante, instituições financeiras e o Banco Central adotaram uma série de medidas de contenção para mitigar riscos, bloquear contas suspeitas e aumentar a segurança operacional do sistema.
Bloqueio de chaves Pix fraudulentas
Desde outubro, o Banco Central passou a determinar que instituições financeiras bloqueiem imediatamente chaves Pix associadas a golpes, evitando novas movimentações de contas identificadas como suspeitas.
Esse processo ocorre com base em informações fornecidas pelos próprios bancos e ajuda a interromper a cadeia criminosa rapidamente.
Limite de transferência reduzido para transações via Pix e TED
Para aumentar a proteção, o Banco Central limitou valores máximos de transferência a R$ 15 mil. A medida busca reduzir a possibilidade de perdas extensas em casos de fraudes e se mostrou eficaz para desacelerar a ação de quadrilhas especializadas.
Negativa obrigatória para contas suspeitas
Instituições de pagamento também são obrigadas a negar transações quando identificam indícios de fraude, comportamento atípico ou destinatários que constam em alertas internos ou compartilhados no ecossistema financeiro.
O “botão de contestação”: o recurso que acelera devoluções
O botão de contestação tem ganhado visibilidade como mecanismo essencial para vítimas de golpes via Pix. Quem percebe uma transferência fraudulenta pode acionar o recurso diretamente no aplicativo do banco, o que acelera o bloqueio dos valores na conta do criminoso.
Segundo especialistas, o tempo é o maior aliado da recuperação financeira nesses casos. Quanto mais rápida a notificação, maiores as chances de devolução.
Por que o Pix é tão visado por golpistas?
Embora seja uma das tecnologias de pagamento mais seguras do mundo, o Pix se tornou alvo preferencial dos criminosos por três motivos centrais: velocidade, popularidade e disponibilidade contínua.
A alta velocidade das transações favorece a ação criminosa
O fato de a transferência ocorrer em segundos reduz o tempo de reação das vítimas e dos bancos, o que favorece atividades ilícitas. Criminosos aproveitam esse intervalo curto para movimentar o dinheiro rapidamente para contas de terceiros ou para serviços de criptomoedas.
Popularidade recorde cria ambiente fértil
Com mais de 140 milhões de usuários ativos, o Pix é utilizado em praticamente todas as interações econômicas, desde pequenos pagamentos até grandes operações comerciais. Quanto maior o volume, maior o campo de atuação dos fraudadores.
A natureza 24/7 é explorada por quadrilhas internacionais
O Pix funciona a qualquer horário, o que permite que quadrilhas atuem em períodos de menor vigilância e aproveitem horários noturnos para aplicar golpes com maior sucesso.
Estratégias recomendadas para evitar golpes com o Pix
Com o aumento das fraudes, a ADDP recomenda a criação de protocolos domésticos e corporativos para prevenção. Entre os principais, estão os métodos “duas confirmações e dez segundos”, a autenticação multifator e o uso de limites transacionais.
Duas confirmações e dez segundos
A técnica consiste em verificar o destinatário, checar o objetivo da transferência, aguardar alguns segundos antes de confirmar e, sempre que possível, ligar diretamente para a pessoa envolvida.
Essa prática simples reduz consideravelmente golpes de engenharia social.
Autenticação multifator
Especialistas reforçam que a autenticação multifator deve ser adotada em todos os aplicativos bancários. Mesmo que criminosos obtenham senhas, o recurso adiciona uma camada essencial de proteção.
Limites diários mais baixos
Reduzir voluntariamente os limites de transferência pode impedir perdas financeiras significativas em golpes que se aproveitam de rapidez e coerção.
O papel das empresas e dos usuários na contenção dos golpes
A segurança digital deixou de ser responsabilidade exclusiva das instituições financeiras. Empresas e usuários precisam estabelecer rotinas de proteção mais robustas, evitando ações impulsivas e reduzindo a exposição de dados.
O desafio corporativo
Empresas devem investir em treinamentos frequentes, políticas de confirmação dupla e conscientização sobre engenharia social. Organizações que lidam com grandes volumes de pagamentos são alvos frequentes de fraudes sofisticadas.
O papel do cidadão comum
Usuários devem manter dispositivos atualizados, desconfiar de contatos inesperados, evitar clicar em links enviados por mensagens e nunca compartilhar códigos de segurança.
O aumento expressivo de golpes envolvendo o Pix em 2025 confirma um cenário em que a digitalização acelerada do país expôs novas vulnerabilidades. A combinação de popularidade do sistema, velocidade das transações e uso estratégico de tecnologias como inteligência artificial fez com que quadrilhas estruturadas encontrassem oportunidades para explorar vítimas com precisão inédita.
Ao mesmo tempo, as respostas das instituições financeiras, como o bloqueio de chaves fraudulentas e a implementação do botão de contestação, mostram que o ecossistema bancário brasileiro está em constante adaptação. Para que as fraudes diminuam de forma significativa, é essencial que usuários adotem medidas preventivas, reforcem a educação digital e mantenham hábitos de verificação constante.
A segurança no ambiente digital depende de atenção coletiva, responsabilidade compartilhada e atualização contínua. O Pix continuará sendo uma ferramenta indispensável na economia brasileira, e sua proteção deve acompanhar a evolução dos golpes que surgem a cada ano.
Não perca nenhuma oportunidade de crédito e pagamento: acesse agora nossas últimas notícias no Seu Crédito Digital.
