Formados no mesmo dia, integrantes da força-tarefa atuaram na primeira grande missão ao enfrentar o tornado que destruiu Rio Bonito do Iguaçu
Poucas horas após receberem o certificado de conclusão do curso da Força-Tarefa de Resposta a Desastres (FTRD) do Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (Cbmpr), integrantes da nova turma já estavam em operação para socorrer as vítimas do tornado que atingiu Rio Bonito do Iguaçu, na noite de 07 de novembro. O fenômeno, um dos mais severos já registrados no Paraná, provocou grande destruição, deixando mais de mil pessoas desalojadas ou desabrigadas, centenas de feridos e seis mortos.
Segundo o major Ícaro Gabriel Greinert, comandante da Força-Tarefa e do Grupo de Operações de Socorro Tático (GOST), a resposta foi imediata assim que as primeiras informações chegaram, por volta das 18h. A unidade do 12º Batalhão de Bombeiros Militar, com equipes de Laranjeiras do Sul e Guarapuava, foi a primeira a chegar ao município. Paralelamente, a força-tarefa estadual entrou em prontidão, e oficiais do Cbmpr seguiram para o Comando Central, em Curitiba.
Reforço de equipes especializadas
Os 20 bombeiros que iniciaram o atendimento receberam, ainda na sexta-feira, 07 de novembro, o reforço de outros 30 integrantes da força-tarefa vindos de Cascavel e Ponta Grossa, além de 14 membros do GOST acompanhados de cães de busca. “Na primeira resposta já tínhamos cerca de 50 bombeiros e 10 viaturas em operação. Mobilizamos as equipes de acordo com a proximidade. Temos 120 bombeiros treinados espalhados pelo estado, aptos a atuar em estruturas colapsadas e áreas críticas”, explica o major.
Ele destaca a intensidade da destruição: “Já atendi vários vendavais, mas nunca havia participado de uma ocorrência de tornado. Onde passou, destruiu tudo. Até edificações de concreto armado colapsaram. Era uma cidade inteira devastada.”
A primeira missão após a formatura
Entre os mobilizados estava o 1º tenente Pedro Arthur Pierdoná, de Guarapuava, que ingressou na corporação em 2018. Ele havia concluído o curso poucas horas antes do desastre e, naquela mesma noite, já estava a caminho da cidade. “Foram poucas horas entre a sensação da conquista e a necessidade de atuar. Não imaginava que o acionamento viria tão rápido, mas é gratificante poder contribuir”, afirma.
Cenário comparado a um “ambiente de guerra”
Pierdoná descreve a situação encontrada como devastadora. “Para onde se olhava havia destruição. As pessoas estavam perdidas, procurando parentes e amigos, sem saber como recomeçar.” Segundo ele, a formação recém-concluída foi essencial para garantir uma atuação organizada em meio ao caos. “O treinamento ensina que, independentemente do cenário, a missão deve ser cumprida com organização e determinação, oferecendo força à população naquele momento”.
Ele recorda um momento marcante durante a vistoria a um supermercado destruído. “Enquanto analisava os riscos do local, pude ver do alto toda a cidade devastada. Foi impactante perceber, ao mesmo tempo, o micro e o macro, e pensar nas famílias que perderam não só suas casas, mas toda a vizinhança.”
Transição para o apoio humanitário
Desde o dia 10, o trabalho dos bombeiros passou das operações de busca e resgate para ações humanitárias e de reconstrução. Cerca de 21 bombeiros, incluindo integrantes da força-tarefa, permanecem na cidade, auxiliando no transporte de água, entrega de cestas básicas, lonas e outros materiais.
Apoio à Defesa Civil e riscos remanescentes
As equipes também atuam em conjunto com a Defesa Civil no levantamento de dados e na eliminação de riscos, como queda de árvores danificadas. “Temos focado na entrega de ajuda humanitária à população do interior, que está em situação vulnerável, e na remoção de árvores que oferecem risco iminente. O acesso a algumas áreas é difícil, e esse trabalho especializado é essencial”, explica Pierdoná.
Gratidão em meio à tragédia
Apesar da destruição, o tenente relata que a reação da população tem sido marcante. “Mesmo diante de tudo, as pessoas nos recebem com gratidão. Ver alguém que perdeu quase tudo, mas ainda consegue olhar para frente, é algo que nos toca profundamente”.
Ele afirma que a experiência reforça a importância do preparo técnico: “Essa ocorrência foi um tipo de batismo para nós, recém-integrados à Força-Tarefa. Mostrou como é fundamental estar pronto para ajudar quando a população mais precisa.”
O curso de resposta a desastres
A Força-Tarefa de Resposta a Desastres (FTRD), promovida anualmente pelo Cbmpr, capacita bombeiros para atuar em situações complexas como enchentes, deslizamentos, estruturas colapsadas e incêndios florestais. Coordenado pelo GOST, o treinamento dura três semanas e reúne 120 bombeiros de diversas regiões do Estado, selecionados por especialização e voluntariado.
Durante o curso, os participantes passam por módulos teóricos e práticos, incluindo condução de embarcações, operação de veículos 4×4, georreferenciamento, corte de árvores e técnicas de salvamento em variados cenários. As atividades ocorrem em ambientes controlados e locais estratégicos, como a represa de Itaipu, que simula situações de inundação.
Nova estrutura de formação
A formação foi realizada na Escola Superior de Bombeiro Militar (ESBM), em São José dos Pinhais, inaugurada recentemente pelo governador Ratinho Junior. É o primeiro espaço da corporação dedicado exclusivamente à formação, especialização e aperfeiçoamento de seus profissionais.
