“Agora o presente de Natal aqui é repelente”, desabafou a aposentada Joana Santana, 75 anos, enquanto mostra as sacolas de produtos que comprou para tentar conter as moscas que voltaram a invadir a casa dela após o novo desmoronamento do lixão de Padre Bernardo. O relato dela mostra o sentimento de frustração e desgaste vivido pelos moradores da região desde o último dia 12, quando uma massa de lixo cedeu na área administrada pela empresa Ouro Verde.

O novo deslizamento mostrou que, embora as medidas tomadas desde 18 de junho (quando ocorreu o primeiro desabamento) tenham reduzido o risco de novos desastres, ainda persiste instabilidade na área, segundo a Secretaria do Meio Ambiente do Goiás (Semad-GO). De acordo com a pasta, o período chuvoso demanda, do Estado, uma atenção ainda maior por conta dos efeitos que a água pode causar com a propagação de impurezas para comunidades próximas.



  • Isaías Batista reclama da falta de equipe de apoio
    Marcelo Ferreira/CB/D.A Press



  • Joana Santana mostra tela com cola que captura insetos

    Joana Santana mostra tela com cola que captura insetos
    Marcelo Ferreira/CB/D.A Press



  • Magda Lopes diz que gastou  R$ 500 em venenos para moscas

    Magda Lopes diz que gastou R$ 500 em venenos para moscas
    Marcelo Ferreira/CB/D.A Press


Dona Joana conta que, desde o primeiro acidente, a rotina nunca voltou ao normal, e piorou nos últimos dias. “Quando desabou de novo, o cheiro que veio foi muito forte. Muita catinga e muita mosca mesmo. Teve um momento que eu tive que sair daqui e fui pra Águas Lindas, na casa da minha filha, porque não estava aguentando”, relatou. Segundo ela, até a saúde foi afetada. “Estou tomando seis comprimidos de manhã e quatro à noite por conta do mau cheiro. A gente vive num lugar que não dá nem para fazer comida direito”, acrescentou Santana.

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

O policial militar aposentado Isaías Batista, 54, mora há cinco anos em frente ao lixão. Ele contou que a comunidade nunca deixou de sofrer com o mau cheiro, mas o novo deslizamento trouxe de volta a sensação de abandono. “Antes já era problema, os caminhões passavam vazando chorume e fedendo a cidade inteira. A mesa ficava pretinha de mosquito enquanto a gente tentava comer. Agora, com o desabamento, piorou”, relatou.

Leia também: Tragédia ambiental em Padre Bernardo: o sofrimento após deslizamento de aterro sanitário

Apesar do intervalo do primeiro desastre, ele diz que o incômodo voltou com força total. “Melhorou um pouco, mas mau o cheiro ainda continua. E depois desse último desmoronamento, os mosquitos voltaram tudo de novo. Trouxe minha mãe para nos visitar, mas com o coração envergonhado com essa situação”, ressaltou. Isaías afirmou que nenhuma equipe de apoio o procurou. “Aqui na minha residência, nunca vieram”, pontuou.

Moradora há 28 anos da região, Magda Lúcia Lopes Costa, 72, descreve a primeira queda da pilha de lixo como um cenário caótico. “Era tanta mosca que a gente juntava e colocava dentro de balde e queimava”, lembrou. “Fiquei 15 dias sem poder abrir a porta. Agora melhorou, mas ainda gasto muito com veneno. Ao todo, já foram mais de R$ 500. Quem é que vai me dar retorno disso?”, enfatizou

Deslizamento

O recente desmoronamento, segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), envolveu cerca de 3 mil toneladas de resíduos. O caso aconteceu na mesma pilha antiga onde ocorreu o primeiro desastre em 18 de junho, quando desmoronou 42 mil toneladas de lixo no córrego Santa Bárbara.

A Semad afirmou que todo o material já foi removido para uma célula temporária construída no próprio imóvel e que não houve nova contaminação do leito d’água. Atualmente, a pasta realiza um escopo de ações necessárias para reduzir o impacto ambiental do desastre do lixão, que se divide entre ações emergenciais e ações de médio e longo prazo.

As emergenciais são as que foram estabelecidas no Termo de Ajuste de Conduta (TAC) firmado em 11 de julho, que incluíam a retirada do lixo que havia caído sobre o leito do córrego Santa Bárbara, a construção de uma sexta lagoa de chorume e o recobrimento do maciço de 250 mil toneladas de lixo com terra. As ações de médio e longo prazo já começaram a ser discutidas e serão formalizadas em breve com a assinatura de um aditivo do TAC, voltado para recuperação ambiental da área.

A pasta também informou que faz um monitoramento constante da qualidade da água da região.  “Vale lembrar que o uso da água do córrego Santa Bárbara ainda está proibido por uma portaria da secretária Andréa Vulcanis) e a Ouro Verde continua a prover água potável e não potável para os moradores de comunidades próximas”, comunicou.

A Prefeitura de Padre Bernardo afirmou que continua acompanhando a situação e cobrará novas medidas urgentes devido à instabilidade da área. Entre os pontos de atenção, destacou o esvaziamento das lagoas de chorume, consideradas de risco pelos técnicos municipais e ainda não tratadas pelos responsáveis pelo empreendimento.

Até o fechamento desta matéria, a empresa Ouro Verde não se pronunciou sobre o novo desmoronamento, nem sobre as queixas dos moradores da região.

 


  • Google Discover Icon

DC

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *