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Uma expedição que durou 70 dias e percorreu quase 10 mil quilômetros na costa litorânea do Brasil (iniciada em Santa Catarina e finalizada no Pará), conduzida por uma equipe formada exclusivamente por mulheres como parte da iniciativa Voz dos Oceanos — criada pela preservação dos mares —, coletou 891 amostras de bivalves (frutos do mar) em 20 cidades e comprovou a presença de partículas plásticas tóxicas nos animais.
A Voz dos Oceanos começou com uma expedição marítima com o apoio mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que já navegou por quase toda a costa brasileira (de Santa Catarina ao Pará, incluindo uma jornada pelos rios da região amazônica), pela região do Caribe, por grande parte do litoral leste dos Estados Unidos, México, Canal do Panamá e Polinésia Francesa até chegar à Nova Zelândia, de acordo com a iniciativa.
O objetivo é “tentar reverter a preocupante e grave invasão de resíduos, que sufocam os oceanos, responsáveis por mais de 50% do oxigênio do planeta”.
Os resultados da análise das coletas foram apresentados durante a COP30, sediada em Belém.
Entre 11 de maio e 15 de julho de 2024, as pesquisadoras percorreram a costa brasileira entre Itajaí (SC) e Belém (PA). Foram coletadas 891 amostras de bivalves (como ostras, mexilhões, sururus, entre outros) em mais de 20 cidades litorâneas da costa brasileira, e então levadas para análise.
Os bivalves são usados como “bioindicadores” dos oceanos porque são organismos filtradores, capazes de acumular microplásticos presentes na água.
De acordo com os dados da pesquisa, foram identificados pelo menos 14 tipos de polímeros entre os bivalves — 70% dos quais estão contaminados —, com predominância de materiais como EVA, polietileno, poliéster e PVC.
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Segundo o levantamento, 85% das partículas encontradas seriam fragmentos (e não apenas fibras), o que sugere que muitos microplásticos são resultado da degradação de plásticos maiores.
Em algumas das cidades analisadas, como João Pessoa, Recife, Vitória, São Sebastião e Paranaguá, mais de 50% das partículas encontradas eram fibras, o que sugere uma origem possivelmente ligada a linhas de pesca, redes, roupas sintéticas e outros materiais produzidos para atividades humanas.
A pesquisa levanta preocupações acerca do consumo culinário dos frutos do mar, que alimentam uma cadeia produtiva extensa em cidades costeiras.
A presença de microplásticos tem sido amplamente documentada em estudos recentes, que já encontraram resíduos plásticos em placentas, no cérebro e na corrente sanguínea de humanos.
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