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Um caso climático pioneiro entre um agricultor belga e uma das maiores petrolíferas do mundo começa esta quarta-feira a ser julgado, quase dois anos depois de ter sido intentado.
Em março de 2024, Hugues Falys, de Hainaut, no oeste da Bélgica, levou a TotalEnergies ao tribunal comercial de Tournai para pedir indenização por danos na sua exploração agrícola que diz ser diretamente causada pelas alterações climáticas.
Com o apoio da FIAN, do Greenpeace e da Liga dos Direitos Humanos, e com o suporte da Federação Internacional dos Direitos Humanos (FIDH) no âmbito do seu projeto “See You In Court”, o caso David contra Golias é a primeira ação climática que visa uma empresa multinacional na Bélgica.
Linha de frente das alterações climáticas
Numa declaração enviada à Euronews Green, a Falys sustenta que as alterações climáticas teve um “impacto significativo” em sua atividade.
A produtividade das pastagens e das culturas foi afetada por fenómenos meteorológicos extremos associados ao clima, como chuvas intensas, secas e ondas de calor.
“Tal como todos os agricultores, estou na linha da frente das alterações climáticas”, acrescenta. “Mas as alterações climáticas não são inevitáveis. Os responsáveis têm de ser responsabilizados”.
As três ONG autoras do processo pedem agora à TotalEnergies que suspende todos os novos investimentos em projetos de combustíveis fósseisinsta os tribunais a estabelecerem a responsabilidade pelas atividades do gigante do petróleo que “prejudicam diretamente o sistema climático”.
Quem é TotalEnergies?
Recentemente fez manchetes ao anunciar um investimento climático de 100 milhões de dólares (86,25 milhões de euros) na COP30e a TotalEnergies é uma de cerca de 20 empresas ativas na produção de combustíveis fósseis responsáveis por mais de um terço das emissões de gases com efeito de estufa.
Apesar disso, a empresa descreveu sua missão de fornecer ao maior número possível de pessoas energia “mais acessível, mais confiável e mais sustentável”.
Segundo a FIDH, a TotalEnergies acaba de confirmar um aumento de quatro por cento na sua produção de hidrocarbonetos, atividade que consiste em extrair e refinar hidrocarbonetos subsolo como petróleo bruto e gás natural.
Isso contraria recomendações de instituições como o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), que defende que a produção de hidrocarbonetos deve diminuir para limitar o aquecimento global a 1,5 ºC.
Paragem imediata dos combustíveis fósseis
“A solução para a crise climática exige que as multinacionais parem imediatamente novos investimentos em combustíveis fósseis para trabalhar como emissões de gases com efeito de estufa”, diz Gaëlle Dusepulchre, da FIDH.
“Esperamos que o tribunal obrigue a TotalEnergies a investir verdadeiramente na transição verde e a garantir que os direitos humanos não sejam colocados em risco pelo colapso climático”.
A Euronews Green questionou explicitamente a TotalEnergies sobre se pretende pôr fim ao investimento em combustíveis fósseis e se aceita responsabilidade pelos danos provocados pelo clima na exploração de Falys. A empresa não tinha resposta na hora de publicação.
Não se espera uma decisão antes do início de 2026.
