O hábito de cortar giro (quando se eleva até o limite da rotação aceita pela central eletrônica) do motor já se tornou algo cultural de determinadas regiões das metrópoles brasileiras, e além do incômodo gerado com o estrondoso som emanado, estes motociclistas sempre são reprimidos por “agredirem” também o motor da motocicleta. Afinal os danos podem aparecer com eles ou com o próximo dono.

Problemas nos anéis, bielas, válvulas, pistões e outros são sempre lembrados e quando eles aparecem chegam junto de barulhos estranhos, perda na potência, aumento no consumo, e por aí vai. Porém, um problema que pode ser imediato e imperceptível é a contaminação do óleo. Este quase ninguém se lembra.

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Em entrevista ao AutoPapo, o especialista em desenvolvimento do setor de pesquisa da Honda, Bismark do Vale, esclarece que os problemas do hábito de cortar giro têm motivo.

O motor, quando ele está em corte de giro, tende a cortar a ignição. Então o bico injetor vai continuar injetando um pouco de combustível. Lógico que o corte repentino, quando você percebe que [por exemplo] tem que trocar a marcha, você vai trocar. Mas nessas situações que o condutor usa o corte de giro em longos períodos, a gasolina vai se misturar com óleo. Ela vai contaminar o óleo.” aponta o pesquisador.

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O corte de giro pode literalmente quebrar partes do motor (Foto: Shutterstock)

Bismark explica que esse fenômeno de mistura dos líquidos e consequentemente a contaminação do óleo pode acontecer mesmo com as peças internas do motor em bom estado.

Em um motor quatro tempos convencional a queima do combustível ocorre quando o sistema de ignição aciona a vela. Com o giro acima dos limites, este sistema é interrompido, porém a injeção permanece e faz com que a câmara de combustão se encha de gasolina. Essa admissão exagerada não é correta, pois o combustível deve entrar, queimar e liberar os gases provenientes, possibilitando que mais gasolina (na quantidade correta) entre no sistema e ciclo se repita.

O especialista aponta que é aí que está o perigo, pois a gasolina acumulada tem que escoar para algum lugar caso não seja queimada. Então o combustível, por conta de sua densidade menor que do óleo, desce pela parede do cilindro e se mistura ao lubrificante.

O que fazer com o óleo contaminado pelo corte de giro?

Nestes casos não tem o que fazer, a troca do óleo deve ser imediata. Mesmo que o óleo lubrificante seja novo, a contaminação exige a substituição.

óleo de moto
O Habito de cortar giro força o proprietário a adiantar a troca do lubrificante, feita geralmente entre 5.000 km e 6.000 km (Foto: Shutterstock)

O óleo lubrificante é responsável pelo funcionamento e deslize correto das partes internas do motor da moto. Ele passa, lubrifica e resfria o conjunto.

Para que esteja tudo nos conformes é fundamental que as especificações indicadas no manual do proprietário sejam seguidas. Só assim sabe-se que o óleo lubrificante com espessura e aditivos adequados estão sendo utilizados.

Se o óleo for contaminado pela gasolina tudo isso fica comprometido e os riscos de má lubrificação e resfriamento aumentam, elevando também as chances dos defeitos e quebras de componentes.

As quebras ocorrem basicamente porque ela enriquece a mistura, ou seja, enche a câmara de combustível e quando retorna ele dá uma explosão com uma temperatura bem maior do que o normal e aí pode ocorrer a quebra. É bem mais grave do que o que a pessoa imagina”, completa do Vale.

Bismark ainda aponta outro risco grande, o de superaquecimento. Superaquecer a moto com o corte de giro pode ocasionar na quebra de alguma peça ou até na combustão espontânea do conjunto.

Atenção à falta de cuidado

O especialista conclui que esses problemas costumam aparecer “a longo prazo”. Neste caso o alerta vai para o quem olha uma moto usada, tome cuidado para não levar uma moto de um piloto que vivia cortando giro.

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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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