A Braskem anunciou participação em dois painéis oficiais da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA), nesta quinta (13) e sexta-feira (14). Os debates ocorrem às 15h, no Espaço da Confederação Nacional da Indústria (CNI), na Blue Zone. Os temas são “Bioeconomia Brasileira e o Carbono Sustentável” e “Caminhos para a Descarbonização da Indústria Química”.
No site institucional, a empresa afirma que “a indústria faz parte da solução” e destaca investimentos em polímeros de origem renovável e metas de descarbonização até 2030. No entanto, a empresa ignora a responsabilidade pelo crime socioambiental urbano em Maceió (AL).
O Observatório do Caso Braskem contesta a presença da companhia no evento. “É difícil confiar no discurso de sustentabilidade de uma empresa que traz marcada em sua história recente o maior desastre socioambiental e solo-urbano do mundo e agora ocupa o centro da COP30 para falar sobre o futuro industrial do planeta”, afirma Evelyn Gomes, idealizadora do Observatório.
O desastre em Maceió e as acusações de greenwashing
O colapso do solo em Maceió, provocado por décadas de extração de sal-gema pela Braskem, levou ao deslocamento de cerca de 60 mil pessoas e à destruição de cinco bairros inteiros. O desastre resultou no fechamento de 40 escolas e 12 unidades de saúde. Apesar das indenizações e acordos judiciais, o Observatório do Caso Braskem afirma que as comunidades seguem em vulnerabilidade social e econômica.
Evelyn Gomes, que participa da COP30 em Belém, aponta que o caso expõe o “abismo entre a narrativa corporativa e a realidade de quem vive as consequências”. Segundo Gomes, os impactos continuam com o aumento do custo de vida, o agravamento da gentrificação e a deterioração das condições urbanas.
O Observatório também critica o que chama de “autorregulação corporativa”, lembrando que a CPI da Braskem revelou falhas estruturais e omissões regulatórias.
“A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) mostrou que a Braskem se autorregulou por anos. E a autorregulação não protege territórios, ela expõe territórios. Ela protege apenas a própria empresa, que continuou lucrando enquanto Maceió afundava.”
O Observatório do Caso Braskem alerta que os discursos de neutralidade de carbono e bioeconomia não podem ser dissociados de práticas reais de reparação e justiça climática. A organização defende que o futuro sustentável exige transparência, escuta da sociedade civil e a reconstrução justa dos territórios afetados.
O que é a COP?
A COP, ou Conferência das Partes, é um órgão da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), composta por 197 países. A entidade é o principal espaço deliberativo da ONU para a execução de medidas assumidas pelos países para reverter a crise climática.
O encontro acontece desde 1995 e teve sua primeira edição em Berlim, na Alemanha. Neste ano, a COP chega à sua 30ª edição e acontece pela primeira vez no Brasil, em Belém.
