“Quando chegamos de Khan Younès, nossos filhos estavam com fome. Então, pedimos que procurassem alguns pedaços de madeira e outros materiais para fazer fogo e cozinhar”, relata Mohammed Zain. “Eles começaram a juntar algumas coisas e havia, entre os escombros, um artefato explosivo não detonado deixado pelo Exército israelense. Ouvi uma deflagração, mas não me dei conta imediatamente de que as crianças lançadas pela explosão eram as nossas. Quando corri para socorrê-las, descobri que eram cinco: meu filho e meus sobrinhos. Imagine o que é encontrar seu filho esquartejado! Consegui socorrê-los e levá-los ao hospital”, conta.
A cena foi filmada. Zidan, outro filho de Mohammed, escapou por pouco da explosão, mas o menino de 12 anos testemunhou o drama vivido por seu irmão Zain. “Eu estava com eles e consegui fugir. Vi meu irmão voar no meio das chapas de metal”, contou o garoto.
Zain e seus primos continuam internados no hospital. O menino sofreu ferimentos nas pernas e passou por cirurgia. Seu estado de saúde ainda é grave.
O episódio ilustra as condições de vida atuais de muitos moradores de Gaza. Além da escassez de alimentos e da precariedade das estruturas sanitárias após meses de ataques, a população também convive com bombas lançadas pelas forças israelenses, mas que não explodiram e permanecem entre os escombros. Segundo o serviço de remoção de minas das Nações Unidas, esses artefatos podem explodir a qualquer momento.
Das dezenas de milhares de toneladas de explosivos lançadas sobre o território nos últimos dois anos, entre 5% e 10% não detonaram, representando um risco real para a população palestina, especialmente para as crianças.
Entrada de ajuda humanitária ainda é muito lenta, lamenta a ONU
Enquanto isso, mais de 37 mil toneladas de ajuda da ONU conseguiram entrar em Gaza desde o início do cessar-fogo, em 10 de outubro, informou um porta-voz da organização na sexta-feira (7), lamentando que, apesar de alguns avanços, ainda há obstáculos para a chegada dos carregamentos.
