A Torre dei Conti, em Roma, próxima ao Coliseu e ao Fórum Romano, é uma fortificação medieval construída em 1238 por Ricardo Conti, irmão do papa Inocêncio III, para servir de residência familiar. Ela tinha, no início, de acordo com arqueólogos, algo como 50 ou 60 metros de altura, o que lhe valeu o apelido de Torre Maggiore. Ao longo dos séculos, a ação dos movimentos da natureza, em sucessivos terremotos, foi erodindo a construção, que então se reduziu a 29 metros — ainda assim celebrada com pompa, embora estivesse fechada para visitação desde 2006 e em trabalho de reforma desde 2022. Na semana passada, um desabamento parcial a envolveu em fumaça e provocou a morte de ao menos um operário, de origem romena. Houve comoção, porque a capital da Itália respira o passado e zela por ele como poucas cidades. Não demorou, contudo, em um mundo tão polarizado, em que as diferenças ideológicas permeiam tudo o que acontece, para o desastre ser banhado de ridícula camada de provocação, como se o Império Romano é que tivesse ruído. Nas redes sociais (e onde mais seria?), a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia foi irônica e escreveu: “Enquanto o governo italiano desperdiçar o dinheiro de seus contribuintes para apoiar a Ucrânia, a economia local e suas torres continuarão a desmoronar”. Houve crise diplomática, cartas de um lado para o outro, e o fogo apagou — mas é improvável que a sensatez resista como a Torre dei Conti.

Publicado em VEJA de 7 de novembro de 2025, edição nº 2969

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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