O cometa 12P/Pons-Brooks pode não ser tão mediático como o 3l/Atlas, mas continua a ser um dos objectos mais enigmáticos de todos os que atravessam o Sistema Solar com certa frequência.
Na verdade, voltou a surpreender a comunidade científica. Um grupo de investigadores do Observatório Astronómico de Xangai detectou sinais de rádio invulgares provenientes deste corpo celeste. Especificamente, foram registados pelo radiotelescópio Tianma e revelam uma actividade química muito mais alta do que se supunha.
O 12P/Pons-Brooks é um cometa do tipo Halley que completa uma órbita em torno do Sol a cada 71 anos, aproximadamente. Durante a sua última passagem perto da Terra, a equipa de astrónomos detectou um forte sinal do radical hidroxilo (OH), que é uma molécula gerada quando a radiação solar decompõe a água. Este registo permitiu calcular que o cometa liberta mais de cinco toneladas de vapor de água por segundo, o que é um ritmo muito superior ao da maioria dos objectos semelhantes observados até agora.
COMO FUNCIONA O RADIOTELESCÓPIO TIANMA
Para compreender todas as implicações de uma descoberta como esta, é necessário saber como funciona o radiotelescópio Tianma. Dispositivos como este procuram e capturam ondas de rádio emitidas por objectos na porção do espaço em que se concentram.
As moléculas do cometa 12P/Pons-Brooks, ao serem aquecidas pela energia do Sol, emitem radiofrequências num comprimento de onda específico, o que deixa uma marca no espectro. Como a do OH mencionado anteriormente é única, os cientistas chineses puderam detectá-la sem margens para dúvidas. Além disso, a intensidade desse sinal foi o que lhes permitiu calcular a quantidade de água que ele liberta na sua trajectória em torno da nossa estrela.
O AMONÍACO COMO CHAVE
A análise espectral foi realizada através das bandas L e K, o que permitiu revelar variações importantes na intensidade das emissões. Essas flutuações coincidem com as erupções de brilho típicas desse cometa, que têm sido registadas em todas as suas aproximações da Terra desde que foi descoberto em 1812. A sua alta taxa de actividade também sugere que o seu núcleo é muito rico em compostos voláteis, o que o torna ideal para o estudo dos processos de sublimação no universo.
Além da água, Tianma identificou a assinatura espectral do amoníaco (NH3). Por ser um gás muito volátil, os investigadores sustentam que este se sublima com enorme rapidez sob a radiação solar. Um processo que desencadeia violentas erupções de gás e poeira e que explica os aumentos repentinos de brilho que têm sido observados da Terra em inúmeras ocasiões.
ÁGUA COMO A DA TERRA?
Paralelamente, uma equipa internacional de astrónomos utilizou o radiotelescópio ALMA, no Chile, para estudar o cometa, descobrindo que a água deste possui uma assinatura isotópica quase idêntica à dos oceanos terrestres.
Segundo Martin Cordiner, do Centro Goddard da NASA, “este tipo de cometas são relíquias congeladas do nascimento do Sistema Solar“, que ocorreu há 4,5 mil milhões de anos. O artigo publicado na Nature que divulga os resultados deste esforço científico reforça a teoria de que a água poderia ter chegado ao nosso planeta graças ao impacto de cometas primitivos.
Por sua vez, a investigadora Stefanie Milam, co-autora do estudo, indica que a proporção entre água pesada e água comum detectada no cometa também coincide com a registada na Terra. Algo que indicaria que o líquido não se forma na atmosfera do cometa, mas no interior do seu núcleo. “Os mapas de distribuição destes gases confirmam a sua origem interna”, concluiu a este respeito.
