Um grupo de sorocabanos percorreu, na manhã de ontem (1º), a região central com um novo olhar sobre Sorocaba. A atividade, intitulada “Patrimônio Negro em Sorocaba: Expedição Fotográfica pelo Centro da Cidade”, foi promovida pela Comissão de Trabalho Mista (CTM) Viva Nhô João de Camargo e marcou mais uma etapa do movimento criado após o desabamento parcial da Capela de João de Camargo, em janeiro de 2024. “A inundação e a derrubada de paredes no ano passado destruíram parte do patrimônio e acenderam em nós a urgência de rememorar quem foi João de Camargo e o que ele representa para Sorocaba”, explica o professor Cícero Santos, um dos organizadores.
O grupo partiu do Mercado Municipal e passou por locais como a antiga Igreja de São Benedito, a Catedral Metropolitana, a Casa de Câmara e Cadeia, o Pelourinho e o Clube 28 de Setembro, encerrando o trajeto na Capela de João de Camargo, no bairro Além-Ponte. “Cada parada tem uma história, uma dor e uma luta”, diz Cícero. “O Pelourinho é símbolo de sofrimento, mas lembrar dele é fundamental para que a cidade não esqueça os anos de escravidão. A capela, por sua vez, é um marco da resistência religiosa e popular negra.”
Além da caminhada, o grupo fotografou e documentou os espaços visitados, criando um registro histórico e de acompanhamento da conservação — ou da degradação — dos patrimônios da cidade. “Sorocaba não tem, na nossa visão, uma política clara de preservação. Fotografar é uma forma de resistência e de cobrança”, destaca Pedro de Carvalho Neto, outro organizador.
Segundo ele, o trabalho já mostrou resultados, como no caso do Pelourinho, onde uma placa de bronze fotografada em expedição anterior foi furtada neste ano. “Sem a foto, não teríamos prova de que ela existiu. O registro também denuncia o apagamento constante da história local.”
Para a coordenadora da CTM, Elaine Machado, o maior desafio é conscientizar a população. “Durante as caminhadas, as pessoas param, perguntam, comentam. É um primeiro passo para despertar o olhar sobre o Centro e entender o valor do que está ali”, afirma.
Elaine ressalta que Sorocaba tem virado as costas para o próprio patrimônio. “O que vemos é o desrespeito com a história da cidade. Tivemos o desabamento do Matadouro, o abandono do Abrigo dos Bondes e o desastre na Capela de João de Camargo. É preciso mobilização para cuidar da memória e respeitar o direito à história que todos temos.”
Encerrar a caminhada na capela, segundo Pedro Neto, foi simbólico. “João de Camargo foi uma liderança negra e religiosa de matriz africana. Terminar lá é reconhecer sua importância e a resistência que representa para Sorocaba.”
O Cruzeiro do Sul questionou a Prefeitura sobre as ações de preservação dos patrimônios históricos, especialmente a Capela de João de Camargo. O Poder Público informou que só conseguirá responder amanhã (3). (Lavínia Carvalho – programa de estágio)
