Igrejas africanas se expandem rapidamente e desafiam antigas percepções sobre o movimento evangélico, apontam pesquisadores durante assembleia mundial em Seul
Por Patricia Scott
O cristianismo evangélico está se expandindo em ritmo acelerado em várias partes do mundo — mas em nenhum lugar com tanta intensidade quanto na África. De acordo com o pesquisador Jason Mandryk, da Operation World, o continente vive um crescimento “explosivo” do movimento, contrastando com a expansão “modesta” observada em países ocidentais.
Durante a Assembleia Geral Mundial da Aliança Evangélica Mundial (WEA), que acontece em Seul até 31 de outubro, Mandryk apresentou dados que mostram uma transformação profunda no panorama global da fé cristã. Segundo ele, os evangélicos representavam cerca de 8% dos cristãos em 1960, mas hoje já ultrapassam 25%, somando entre 600 e 650 milhões de fiéis em todo o mundo.
“O número é expressivo — e continua crescendo”, afirmou o pesquisador, explicando que esse avanço resulta de fatores como a expansão natural das famílias, o evangelismo ativo e a conversão de cristãos de outras tradições. Atualmente, 70% dos cristãos vivem na África, Ásia e América Latina, com destaque para o continente africano, onde o fenômeno acompanha a urbanização acelerada.
Mandryk descreveu as igrejas africanas como “vibrantes e em rápida expansão”, destacando que quase 70% do crescimento cristão global está concentrado na África. Ele lembrou que essa mudança já vinha se desenhando desde os anos 1980, quando o centro do cristianismo começou a se deslocar do Ocidente para o Sul Global.
“O futuro do cristianismo já chegou — e está na África há mais de quatro décadas. A ideia de que o evangelicalismo é uma religião ocidental está desaparecendo”, afirmou Mandryk.
O pesquisador também provocou reflexão sobre os desafios que acompanham esse crescimento: “Será que o evangelicalismo está acompanhando as realidades demográficas atuais, ou ainda preso a paradigmas do passado?” Segundo ele, o avanço numérico torna essencial priorizar o discipulado, a formação pastoral e o desenvolvimento de liderança.
Mandryk ainda abordou a complexidade em torno da definição do termo “evangélico”. Ele observou que há uma “ampla variedade de interpretações” e que, em alguns contextos, a palavra passou a ser usada “de forma imprecisa ou até prejudicial”.
“Ser evangélico significa coisas diferentes para pessoas diferentes. O importante é que saibamos comunicar nossa fé com clareza e coerência — algo que tem sido difícil diante dos escândalos e divisões recentes”, alertou. Apesar dos desafios, Mandryk destacou que o movimento tem conseguido reter as novas gerações, especialmente na África, onde jovens evangélicos seguem firmes na fé herdada dos pais.
No mesmo painel, o Dr. David Tarus, da Associação de Evangélicos da África, enfatizou a necessidade urgente de investir em educação teológica. Segundo pesquisa da entidade, 90% dos pastores africanos não possuem formação teológica formal, e quase 80% não têm diploma universitário.
A principal barreira, de acordo com o estudo, é financeira — apontada por 87,9% dos líderes —, seguida pela falta de tempo (27,4%). Tarus alertou que essa carência contribui para problemas como sincretismo, teologia da prosperidade e divisões internas, e defendeu levar o ensino teológico às comunidades locais, em vez de esperar que os líderes se desloquem para centros acadêmicos.
“Meu próprio pai fundou muitas igrejas sem jamais ter frequentado um seminário. Ele aprendeu com mestres itinerantes que ensinavam sob as árvores. Precisamos recuperar esse modelo de formação — prático, acessível e enraizado nas comunidades”, concluiu.
Assim, enquanto o Ocidente enfrenta estagnação religiosa, a África desponta como o novo coração pulsante do evangelicalismo mundial, impulsionada por fé, juventude e uma crescente busca por preparo espiritual e educacional. Com informações Christian Today
