Duda Fortes / Agencia RBS
Público cantou e dançou ao som de vários estilos.

Sol, calor, nuvens, chuva, arco-íris e um leve friozinho. Foi como se as quatro estações tivessem se encontrado para celebrar a diversidade musical no primeiro dia do Festival Turá. Teve show de samba, reggae, soul, emocore e muito mais. E tudo fez sentido.

Após dois anos, o Festival Turá voltou a levar milhares de pessoas ao Anfiteatro Pôr do Sol, em Porto Alegre, neste sábado (25). Desde a última vez que o evento foi realizado, o local também não recebia atrações musicais. 

Realizado na capital gaúcha pela Time For Fun (T4F) e Maia Entretenimento, o Turá é um festival que tem como proposta celebrar a cultura brasileira e promover a diversidade musical. Na edição gaúcha, também há espaço para os heróis locais, como Ultramen, Dingo, Fresno, Armandinho e festas locais — que animavam o público entre uma atração e outra.

Hits empolgam a plateia

A Ultramen abriu os trabalhos no primeiro dia de Turá pontualmente às 13h35min, como estava previsto. O clima era quente: com a temperatura marcando 32°C, o sol ora aparecia, ora era coberto pelas nuvens, ampliando a sensação de mormaço. 

A banda começou a apresentação com Grama Verde para pouco menos de 10 pessoas que estavam presentes na frente do palco. Gradativamente, o público chegava e ia incrementando a presença por ali — de dezenas para centenas, até o primeiro milhar.

Conhecida por seus shows competentes e músicos entrosados, a Ultramen empolgou a plateia ao longo de 50 minutos com hits que diferentes gerações do Estado conhecem, como Dívida, Peleia, Erga Suas Mãos e, para fechar, General.

Tão logo terminou a Ultramen, coube ao bloco Não Mexe Comigo Que Eu Não Ando Só trazer o clima de Carnaval de rua ao Turá, apresentando-se diretamente entre o público, na pista do Anfiteatro.

Boy band da MPB

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Trio carioca colocou o público para dançar na Orla.

Direto de São Gonçalo (RJ), o trio Os Garotin subiu ao palco do Turá às 15h, com temperatura por volta dos 30°C. O sol aparecia para torrar, mas, ao longo da apresentação, as nuvens de chuva ganhavam espaço.

Formado pelos cantores Léo Guima, Anchietx e Cupertino (que também toca guitarra), o grupo fez um dos shows mais carismáticos do dia, colocando os presentes para dançar com uma sonoridade suingada, que combina soul, funk e R&B. 

O Turá virou um baile no meio da tarde: tanto que, eventualmente, os três promoviam passinhos no palco – para delírio de parte da plateia –fazendo jus ao título de “boy band da MPB”, algo que o trio tem se autodenominado em tom de brincadeira.

Os Garotin abriram com Garota e, ao longo de quase uma hora, passaram por Curva Escura, Pique Anitta, Calor do Momento, Absurdo, Violão Amarelo, Zero a Cem e, entre outras, Pouco a Pouco para encerrar – já com o tempo nublado. Ainda deu tempo para puxar Queda Livre à capela, com apoio dos fãs presentes.

Reggae e chuva

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Show durou uma hora.

Com o tempo nublado e a chuva se anunciando, Armandinho subiu ao palco às 16h43min e trouxe sua vibe ensolarada ao Anfiteatro com A Ilha. 

Acompanhado de uma banda impecável na cozinha sonora, Armandinho parecia estar com a voz um pouco mais contida em alguns momentos, mas, tudo bem, o público cantava junto e dançava em ritmo de reggae. Foi o que aconteceu com Rosa Norte e Eu Sou do Mar (esta seguida de uma mensagem ambientalista do cantor, alertando que precisamos pensar no futuro), Pescador e Casinha, Lua Cheia. Às vezes, ele dava a deixa, e a galera fazia o resto.

O romantismo também teve seus momentos com Eu Juro, Ursinho de Dormir, Ana Lua (com direito a história envolvendo um coração partido de Nê, integrante da Chimarruts) e Desenho de Deus empolgando os presentes. 

Quando foi a vez de Outra Vida (que iniciou com citação à Riders on the Storm, do The Doors), foi a deixa para os apaixonados se abraçarem e darem um beijo.

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Armandinho parecia estar com a voz um pouco mais contida em alguns momentos.

A chuva começou a cair levemente na reta final do show, na vez de Outra Noite que Se Vai. Na sequência, a parte precavida do público já estava de capa em Amor Vem Cá, embora a precipitação fosse fraca. Por fim, Toca Uma Regueira Aí encerrou o show que durou uma hora.

Tristeza e milagres da natureza

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Pôr-do-sol moldou o show da Fresno.

Abaixo de uma chuva fraca, a Fresno subiu ao palco do Turá às 18h18min, abrindo o show com Quando o Pesadelo Acabar. Era a hora do rock triste, era a hora do emocore.

Muita gente aguardava esse momento, levando em conta a quantidade de pessoas vestindo a camiseta da banda. 

Na segunda música, o guitarrista e vocalista da Fresno, Lucas Silveira, colocou os fãs a cantarem Quebre as Correntes. Já a épica Diga, Parte 2 ganhou contornos ainda mais dramáticos com a chuva fina caindo. 

No entanto, na direção do Guaíba, era possível observar o crepúsculo do pôr do sol.

— Quem quiser beijar agora, pode aproveitar, porque depois é só tristeza, chifre e gritaria, disparou Lucas.

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A chuva foi minguando rapidamente, e um arco-íris apareceu.

Então, a Fresno tocou a dançante Me And You. A sequência prometida de chifre e gritaria trouxe Infinito

Mas o que se seguiu foi o baile emo com Onde Está, que fez os fãs mais empolgados pularem. Depois de uma antiga, a Fresno emendou uma trinca de músicas dos últimos dois discos: Eu Nunca Fui Embora, Casa Assombrada e Se Eu For Eu Vou Com Você.

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Fresno tocou a dançante “Me And You”.

Até que Lucas pediu ao público para acenderem os isqueiros e puxou um cover de Sob Um Céu de Blues, da lendária banda gaúcha Os Cascavelletes. A dobradinha final incluiu Milonga e Desde Quando Você se Foi, que colocou o Anfiteatro para pular. Mas antes da última canção, o vocalista resumiu:

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Público não se importou com a chuva.

— Todos os milagres da natureza aconteceram ao longo do show.

A hora da loba, de Evidências e Canto Alegretense 

A partir das 19h56min, quando um vento ligeiramente frio atingia o público, foi a vez de uma rainha do samba embalar o Anfiteatro. Alcione subiu ao palco desfilando sofisticação, elegância e um vozeirão com Retalhos de Cetim.

Aos 77 anos, sendo mais de 50 de carreira, a cantora era uma presença magnetizante, mesmo sentada na poltrona situada no centro do palco, onde permaneceu na maior parte da apresentação.

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Alcione foi bastante comunicativa com a plateia.

Antes da segunda música, a Marrom recordou uma história de sua primeira apresentação no Estado. Segundo ela, uma pessoa teria dito para ela ter cuidado no Rio Grande do Sul, que poderia ser tratada com preconceito. Só que o resultado foi outro:

Os gaúchos nunca mais largaram a pretinha. Obrigado pelo carinho de sempre!

O show seguiu com petardos como Além da Cama, Estranha Loucura, Meu Ébano, Faz Uma Loucura Por Mim, Sufoco, Volta Por Cima, Você Me Vira A Cabeça (contando com a força no coro da plateia), entre outras, fazendo o público sambar ou remoer antigas desilusões amorosas. Quem sabe, os dois ao mesmo tempo.

No fim, Não Deixe o Samba Morrer fechou a apresentação em alta. Tanto que o Anfiteatro soltou o grito de “mais um”. Ela voltou com Canto Alegretense, fazendo a alegria da gauchada no Turá.

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Alcione e Lucas Silveira, da Fresno.

Antes, também houve espaço para participações especiais. Primeiro, Silvia Nazareth, sobrinha de Alcione, foi chamada para cantar Separação; depois, foi a vez da música mais dominante em todos os karaokês do Brasil – Evidências, com participação de Lucas Silveira, da Fresno. Nessa última, rolou a curiosa união sinistra de samba, emocore e sertanejo. Possivelmente o momento mais Turá do primeiro dia.

Outro momento marcante ocorreu ainda na metade do repertório, quando Alcione interpretou A Loba e emocionou alguns dos presentes. 

Ano passado, a expressão “loba” ganhou a internet como um meme de adjetivo positivo, destinado a mulheres fortes e donas de si.  O que resta para Alcione se não ser a loba original? Talvez a líder da alcateia.

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Alcione interpretou “A Loba” e emocionou alguns dos presentes.

Festival Turá

O primeiro Turá no Rio Grande do Sul ocorreu em novembro de 2023, também no Anfiteatro Pôr do Sol (que estava sem atividades desde 2019 até então), reunindo mais de 20 mil pessoas em dois dias. Já a segunda edição estava prevista para ser realizada originalmente em 25 e 26 de maio do ano passado, mas foi adiada por conta do desastre climático que atingiu o Estado. Então, foi a concretização do último grande evento musical impedido pela enchente.

Explosão baiana

Sem desembarcar em Porto Alegre desde 2018, o BaianaSystem era uma das atrações mais aguardadas. A expectativa era alta: parte dos fãs do usavam as máscaras características das apresentações do grupo pelo Anfiteatro.

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Foi um evento por si só o show do Baiana no Turá

Conhecida por seus shows intensos e positivamente caóticos, a banda costuma ser aquela que o público assiste esperando pular incessantemente ou entrar nas rodas punk. E foi assim. Rodas, pulos, bebidas jogadas para o ar. O clima era de entusiasmo.

Às 21h50min, o Baiana subiu ao palco e já tirou o público do chão com Reza Forte. Russo Passapusso, em determinado momento, conduziu a plateia para formar em círculo gigante na pista do Anfiteatro, culminando em uma roda punk. 

Além do vocalista, a banda é composta Claudia Manzo (vocal, que brilha em momentos solos), Roberto Barreto (guitarra baiana), SekoBass (baixo), João Meirelles (beats, synths e programações), Junix 11 (guitarra), maestro Ubiratan Marques (piano e synths) e Ícaro Sá (percussão).

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Anfiteatro acompanhou artistas nacionais e locais com entusiasmo.

É um show nada óbvio, com músicas que vão ganhando novas formas nas experimentações. Um dos primeiros hits da banda, por exemplo, Lucro (Descomprimindo) se estendeu em uma versão desconstruída, mas não menos empolgante, emendando com Miçanga e com citação à Praieira, de Chico Science & Nação Zumbi.

Foi um evento por si só o show do Baiana no Turá. Quem experimentou, possivelmente, não quer esperar outros sete anos para ter de novo.

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Grupo é conhecido por shows intensos e positivamente caóticos.

Evento segue

Neste domingo (26), o segundo dia de festival conta com Dingo, Cachorro Grande, Nando Reis, Silva, Mano Brown e Ney Matogrosso, que fecha o Turá com o show da turnê Bloco na Rua.

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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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