Esta segunda-feira, 20 de outubro, foi revelado finalmente o relatório intercalar do Gabinete de Prevenção de Acidentes Ferroviários (GPIAF) sobre o acidente no Elevador da Glória que decorreu a 3 de setembro. As conclusões do documento não são especialmente favoráveis para a Carris ou para a MAIN, empresa responsável pela manutenção.
Os técnicos que analisaram o incidente confirmaram aquilo que já se especulava: houve falhas graves nos travões, na manutenção e, acima de tudo, no cabo que se partiu — segundo o relatório, não estaria conforme os padrões de segurança impostos pela própria Carris, em 2011.
Além de não estar certificado para transportar passageiros, o tal cabo não estaria sequer preparado para integrar um destorcedor nas extremidades. Foi este o ponto que acabou por se romper e levar à morte de 15 passageiros, após o descarrilamento do Elevador da Glória.
O documento revelou ainda que as tarefas de manutenção que tinham sido registas oficialmente como “cumpridas” nem sempre foram realizadas. Ainda assim, o plano de manutenção estava registado tal como era suposto nas regras da Carris e foi aceite como válido pela empresa.
O cenário fica ainda pior: as inspeções previstas para o dia do fatídico acidente foram registas como executadas. O problema? Não foram realizadas avaliações técnicas no horário que estava assinado por um técnico especialista a 3 de setembro.
Para confirmar esta informação, o GPIAF consultou todas as imagens de videovigilância para perceber quem fez (ou não) o quê. E, aparentemente, nenhum técnico especializado foi ao fosso, a partir do qual era possível avaliar o estado do cabo.
De acordo com o relatório, o sistema de frenagem do elevador também não era eficaz para imobilizar a cabine que, na altura, transportava 27 passageiros, embora o guarda-freio tenha acionado todos os travões disponíveis em menos de um segundo. Foi apenas ao fim de sete metros que a frenagem imobilizou por completo o Elevador da Glória.
Antes de 3 de setembro, o Elevador da Glória já tinha tido dois outros acidentes: um a 3 de outubro de 2024 e outro em maio deste ano. Mais: os elevadores encontravam-se sob responsabilidade única da Carris, sem supervisão de uma entidade externa.
Embora este documento já tenha trazido revelações explosivas, o relatório final apenas será revelado no próximo ano. O que foi agora apresentado não pode ser tomado como conclusivo, visto que se tratam de conclusões meramente preliminares
Confrontado com o relatório do GPIAF, Carlos Moedas, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, reafirmou que o acidente teve “causas técnicas e não políticas”.
E sublinhou: “Ao contrário da politização que alguns fizeram durante a campanha, este relatório reafirma que a infeliz tragédia do elevador da Glória foi derivada de causas técnicas e não políticas”.