O chefe das operações humanitárias da ONU, Tom Fletcher, pediu a Israel que abra “imediatamente” os acessos à Faixa de Gaza para a ajuda humanitária e destacou “a urgência total” da situação após dois anos de guerra, em uma entrevista à AFP.
“Queremos que todos os pontos de passagem sejam abertos e que haja um acesso completo e sem obstáculos”, declarou nesta quarta-feira (15) Fletcher, que esteve presente na cúpula internacional sobre Gaza realizada na segunda-feira em Sharm el-Sheikh, no Egito, copresidida por Donald Trump.
“Queremos que isso seja feito imediatamente, no âmbito do acordo” de cessar-fogo em Gaza entre Israel e Hamas, sob o patrocínio dos Estados Unidos, que entrou em vigor em 10 de outubro, destacou.
“Isso faz parte das discussões que tivemos em Sharm el-Sheikh […] com o presidente Trump e os líderes mundiais que concordaram sem dúvidas que devemos ser autorizados a fornecer ajuda em grande escala”.
A Faixa de Gaza, cercada por Israel, enfrenta um desastre humanitário após dois anos de guerra desencadeada em 7 de outubro de 2023 pelo ataque sem precedentes do movimento islamista palestino Hamas em território israelense.
No final de agosto, a ONU declarou fome em várias áreas do território palestino, o que Israel nega.
“A prova deste acordo (de cessar-fogo) não são as fotos e as conferências de imprensa e as entrevistas (…). A prova é que as crianças sejam alimentadas, que tenhamos anestésicos nos hospitais para as pessoas que recebem tratamentos, que tenhamos tendas para as pessoas”, acrescentou Fletcher.
– “Uma fração” do necessário –
O responsável da ONU esperava ir nesta quinta-feira ao cruzamento de Rafah, no lado egípcio da fronteira com Gaza, que, segundo o plano Trump, deve ser reaberto após o cessar-fogo e a libertação dos reféns israelenses pelo Hamas.
“Não sei se o cruzamento será aberto imediatamente”, afirmou.
“Há um sentimento de urgência total, nossas equipes estão prontas, as mercadorias estão prontas (…) Temos 190 mil toneladas prontas para entrar por essas fronteiras, mas precisamos obter detalhes mais precisos sobre quantos caminhões passam e por qual cruzamento fronteiriço”, segundo ele.
Mas “estamos determinados a entrar lá, a deter a fome, a reconstruir o setor de saúde, a limpar os escombros e a começar a dar às pessoas a esperança de uma vida melhor”.
Segundo o Ocha, escritório de coordenação humanitária da ONU, e a Organização Mundial da Saúde, nos últimos dias, Israel autorizou a entrada de ajuda humanitária e médica, especialmente de gás de cozinha, pela primeira vez desde março, bem como de tendas suplementares para os deslocados, medicamentos e alimentos.
Mas segundo Fletcher, “isso foi uma fração do que é necessário”.
“Precisamos de mais combustível para fazer funcionar as centrais elétricas, as estações de saneamento, a água e a eletricidade”, afirmou.
– “Fazer os caminhões passarem” –
“Espero que teremos condições para realizar fornecimentos em grande escala (…) Há esperança nesse momento, mas é uma esperança precária”, pois, disse, o tema “não está explicitamente definido no acordo de paz”.
“Sabemos que tudo não ocorrerá sem problemas (…) Por isso estamos aqui, é nosso trabalho agora agir com um espírito de resolução de problemas prático e criativo para fazer esses caminhões passarem”, indicou Fletcher.
A ONU estima que cerca de 70 bilhões de dólares (cerca de R$ 382 bilhões) serão necessários para reconstruir o território palestino, destruído em mais de 80%.