A economia americana não levou um tombo, apesar das rasteiras de Donald Trump. Por ora, apenas tropeçou e anda um pouquinho mais devagar. Os donos do dinheiro grosso nos EUA não se incomodaram com a rasteira, vide os trilhões de dólares que investem em inteligência artificial (IA) e negócios associados. Até por isso também, o PIB americano deve crescer mais do que se esperava em 2025 (2%, diz o FMI), embora menos do que em 2024 (excepcionais 2,8%).
No “Perspectiva Econômica Mundial” do FMI que acaba de sair, os autores parecem desnorteados e desconcertados. No comentarismo econômico mundial, há gente bestificada, com exceção do pessoal de bancões, lucrando na vida adoidado, como se viu pelos balanços divulgados nesta terça.
Marcas trumpianas, protecionismo e asfixia da migração diminuem a produtividade, o potencial de crescimento econômico, embora aos poucos, no médio prazo. No entanto, tem acontecido uma “revolução nas políticas”, nas palavras de Kristalina Georgieva, diretora-geral do FMI, na verdade a biruta de Trump, o que causa incerteza, além de danos reais e imediatos. Para piorar, as dívidas públicas de vários dos maiores países do mundo estão fora de controle, a começar pela dos Estados Unidos; há receio de bolha de IA; teme-se que Trump dê uma facada na moeda central do mundo, o dólar, tomando o Fed. Etc.
Com tudo isso, ainda não aconteceu nada de novo ao menos quanto ao ritmo de crescimento das economias, que aliás não vai bem desde o desastre financeiro que explodiu em 2008.
“Como a economia mundial está lidando com essa situação? Resposta curta: melhor do que se temia, mas pior do que precisamos”, disse Georgieva, do FMI, na semana passada.
Na explicação do relatório do FMI, há atenuantes como políticas macroeconômicas melhores, fora do mundo rico em especial.
Em segundo lugar, as grandes empresas vão bem (finanças em ordem) e se viraram bem, por exemplo investindo, importando e reorganizando cadeias de fornecedores e estocando antes de Trump abalar o comércio mundial, além de se renovarem ou revolucionarem em termos tecnológicos.
Terceiro, as tarifas de Trump ficaram em nível bem menor do que se temia em abril, por ora, e não houve guerra comercial propriamente, com retaliação, apenas ataque americano (a esperar para ver o que a China vai fazer).
Quarto, as condições financeiras estão boas: há animação enorme no mercado de ações (IA), as taxas de juros para empresas estão relativamente baixas, as taxas básicas de juros (“dos BCs”) baixam na maior parte do mundo relevante e o dólar mais fraco ajuda parte do mundo (como o Brasil).
Isso parece também uma lista de problemas em potencial: bolha de preços de ações, empréstimos excessivos para empresas e incerteza sobre a reorganização econômica (fragmentação, dificuldades com cadeiras de fornecedores, ineficências outras, choques geopolíticos em preços de commodities).
Há problemas estruturais que podem ter efeito político de curto prazo: com dívida pública crescente e outras gastanças, o déficit comercial americano não deve diminuir; com poupança excessiva e quase deflação, a China vai ainda exportar muito (são problemas, mas não nos termos do governo lunático dos EUA). Trump vai se conformar com isso?
Em resumo, parece haver motivos para não ter havido tombo, por ora. No entanto, esses mesmos motivos parecem um emaranhado de fios desencapados, à beira de curtos-circuitos.
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