O episódio que chocou a aviação mundial volta a ganhar destaque após a confissão do presidente russo Vladimir Putin, que admitiu, de forma inédita, que o avião da Embraer derrubado no Cazaquistão em dezembro do ano passado foi atingido por mísseis disparados pelas próprias defesas aéreas da Rússia.
A revelação, feita durante uma reunião diplomática em Moscou, expõe um dos episódios mais delicados envolvendo aeronaves civis e ações militares em meio à guerra da Rússia contra a Ucrânia.
Segundo o próprio Putin, o acidente foi consequência de um erro de detecção, em que as defesas russas reagiram a drones ucranianos que haviam invadido o espaço aéreo do país.
Durante a ação, dois mísseis explodiram próximos à aeronave Embraer 190 da Azerbaijan Airlines, provocando sua queda e a morte de 38 pessoas a bordo, conforme noticiado pelo portal G1.
Explosões próximas ao avião e reação dos pilotos
De acordo com declarações do presidente russo, os mísseis não atingiram diretamente o avião, mas explodiram a aproximadamente 10 metros de distância, gerando uma onda de detritos que danificou a fuselagem.
Putin explicou que o piloto chegou a relatar o impacto como uma colisão com pássaros, o que foi registrado nas caixas-pretas da aeronave.
“Os mísseis explodiram a poucos metros do avião, provavelmente por autodestruição.
O dano foi causado pelos fragmentos, não pelas ogivas”, afirmou o líder russo.
O caso ganhou ainda mais repercussão após o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, que havia criticado duramente Moscou na época do acidente, agradecer a Putin pela transparência e pela promessa de indenização às vítimas.
Putin promete compensações e investigação completa
Putin garantiu que a Rússia indenizará as famílias das vítimas e que o caso receberá tratamento legal e institucional rigoroso.
O presidente russo classificou o incidente como “uma tragédia inaceitável” e afirmou que as forças de defesa devem ser responsabilizadas pela falha.
“É nosso dever fazer uma avaliação objetiva de tudo o que aconteceu e identificar as verdadeiras causas”, declarou Putin, em tom de mea-culpa.
A aeronave, fabricada pela Embraer, decolou de Baku, capital do Azerbaijão, e seguia rumo a Grózni, na Chechênia.
Durante o voo, o piloto pediu autorização para pousar de emergência após relatar danos na fuselagem e explosões a bordo.
O avião acabou caindo a cerca de 3 quilômetros da cidade de Aktau, no Cazaquistão.
Relatório do Cazaquistão já indicava “objetos externos”
Antes mesmo da confissão de Putin, o relatório preliminar divulgado pelo governo do Cazaquistão em fevereiro de 2025 já sugeria que “objetos externos” poderiam ter causado a queda.
A investigação apontou múltiplos danos na cauda, asas e motores, compatíveis com impacto de fragmentos metálicos — exatamente o tipo de dano provocado por mísseis antiaéreos.
O documento indicava ainda que os pilotos relataram explosões internas em assentos e solicitaram mudança de rota antes da queda.
Entretanto, nenhum dos relatórios mencionava oficialmente mísseis russos até o pronunciamento recente de Putin.
Dias após o acidente, a Rússia havia confirmado que seus sistemas de defesa estavam em operação para repelir drones ucranianos em três cidades.
Esse detalhe reforçou a tese de que o avião civil foi confundido com um alvo hostil, sendo atingido por erro operacional.
Brasil participou da investigação através do Cenipa
A análise dos dados das caixas-pretas foi realizada no Brasil, por técnicos do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), ligado à Força Aérea Brasileira (FAB).
Os equipamentos chegaram a Brasília em 1º de janeiro de 2025, e a análise foi concluída no dia 6 do mesmo mês.
Segundo a FAB, os dados foram repassados à autoridade de investigação do Cazaquistão, que conduziu o processo final de apuração.
Em nota oficial, a Aeronáutica afirmou que “todas as conclusões que serão publicadas no relatório final são de responsabilidade do órgão cazaque”.
Até o momento, não foram divulgadas as conversas gravadas da cabine, nem o conteúdo integral dos dados extraídos.