Em 2025, a Floresta Nacional de Ipanema (Flona) enfrentou o maior incêndio de sua história, desde sua criação em 20 de maio de 1992. Após a destruição de grandes proporções, segundo especialistas ouvidos pela reportagem do Cruzeiro do Sul, a recuperação de um ecossistema como o da Flona é um processo lento e complexo, que exige tempo, esforço e, muitas vezes, intervenção humana direta.

Por vários dias, tentamos ouvir o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que faz a gestão da área, sobre os principais danos registrados na vegetação local, a perda da biodiversidade e sobre o tempo para a regeneração natural da vegetação mas, apesar de se tratar de uma área de grande interesse para a sociedade, não houve retorno.

Também foi questionada a Secretaria de Segurança Pública (SSP) sobre o inquérito para apurar as causas do desastre. O órgão estadual informou que o assunto deveria ser questionado com a Polícia Federal, porém a mesma não respondeu, assim como a Polícia Ambiental. O Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foram questionados, contudo recomendaram entrar em contato diretamente com o ICMBio.

O incêndio na Flona não pode ser considerado algo normal ou sem nenhum impacto ou importância. Muito pelo contrário, exige um acompanhamento por parte da sociedade visto que ao longo dos dias, vizinhos da área demonstraram apreensão de que o fogo chegasse até suas propriedades, além da tristeza de verem animais fugindo e a vegetação sendo destruída.

O fogo teve início por volta das 15h30 do dia 19 de setembro e toda a região foi atingida. No início da noite deste dia uma nuvem de fumaça tornou a qualidade do ar ruim, chegando até mesmo em Sorocaba, cidade vizinha que fica distante do local. Apenas na noite do dia 23 de setembro, que uma nota informou que o incêndio estava controlado.

O início

Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), há suspeitas que um dos focos começaram com as chamas de um veículo que pegou fogo. Outros focos teriam sido causados por fatores climáticos extremos: alta temperatura, baixa umidade relativa do ar, ventos fortes e uma seca prolongada criaram as condições perfeitas para que a vegetação seca servisse de combustível. O fogo consumiu 973,6 hectares da unidade de conservação, incluindo o Morro de Ipanema e áreas com trilhas de grande importância para a visitação pública. Ao todo, a Flona sofreu sete ocorrências de incêndio somente em 2025, totalizando uma área queimada de 1.340 hectares _ equivalentes a mais de mil campos de futebol.

Os danos à vegetação e à fauna foram extensos. O biólogo Hélio Rubens Jacintho Pereira Junior explica sobre a regeneração em situações como esta. A vegetação rasteira, por ser mais simples e rápida, costuma reaparecer em cerca de um ano. Já a vegetação florestal, composta por árvores de maior porte e ciclos de vida mais longos, leva de cinco a dez anos para se restabelecer parcialmente. “No entanto, espécies como araucárias, jequitibás e cedros podem demorar, ainda, mais para voltar ao normal, e algumas delas talvez nunca mais voltem a ocupar o mesmo espaço”.

A velocidade e a qualidade desse crescimento depende de uma série de fatores. A atuação humana é decisiva: ações como o replantio de espécies nativas, adubação do solo e irrigação contribuem significativamente para acelerar o processo. Além disso, as características do solo, a extensão da área que escapou das chamas e a presença de vegetação remanescente intacta também influenciam na capacidade de recuperação. “O trabalho de equipes especializadas e do poder público é igualmente importante para garantir que a floresta não apenas volte a crescer, mas recupere sua diversidade e equilíbrio ecológico”, diz Pereira Junior.

De acordo com o profissional, os incêndios costumam atingir com mais intensidade a vegetação rasteira, que é a primeira a ser consumida pelas chamas, mas, também, causam grandes danos às árvores. “A fauna local, por sua vez, sofre um impacto devastador. Animais de pequeno porte, com pouca mobilidade ou que se encontravam em repouso durante o avanço do fogo, são os mais vulneráveis. A perda significativa de indivíduos podem causar desequilíbrios ecológicos graves, reduzindo a diversidade genética das populações sobreviventes e favorecendo o surgimento de características prejudiciais à saúde das espécies”, complementa.

Ainda, conforme o biólogo, embora a floresta possua mecanismos naturais de regeneração, em casos mais severos, como os incêndios de grande escala, o restabelecimento ecológico é insuficiente. Por isso, a ação humana torna-se essencial.

“Mesmo com todos os esforços de melhora, é pouco provável que a floresta volte a ser exatamente como era antes. O ecossistema se transforma: há alterações na composição das espécies, na estrutura da vegetação e na dinâmica das relações ecológicas. Ainda assim, os primeiros sinais de retomada natural surgem nos meses seguintes ao incêndio, com o brotamento de árvores sobreviventes e o ressurgimento da vegetação rasteira, que começa a cobrir novamente o solo. A floresta, embora marcada, começa a reagir”, finaliza o biólogo.

A reconstrução necessitará de manejo adequado e políticas públicas eficazes que são indispensáveis para que a natureza tenha a chance de revitalizar.

Plano de recuperação

Por meio de nota oficial, divulgada na internet, o ICMBio disse que deu início ao plano “Reabilita Flona!”, organizado em cinco eixos principais: restauração das áreas atingidas, monitoramento da fauna e pesquisas pós-incêndio, uso público, administração e logística, e manejo integrado do fogo.

Entre as ações previstas estão o mapeamento das áreas mais afetadas, projetos de restauração com a participação de ONGs, empresas e instituições de pesquisa, monitoramento da fauna sobrevivente, manutenção de comedouros e bebedouros, recuperação de trilhas e equipamentos danificados, capacitação de brigadas voluntárias e reavaliação do Plano de Manejo Integrado do Fogo.

Paralelamente, existe um planejamento para a reabertura gradual da visitação, prevista para ter início no dia 12 de outubro. Nesta data, serão reabertos o Centro de Visitantes, o Sítio Histórico, a Trilha das Cigarras e a travessia entre as portarias principais: atrativos voltados ao turismo, ao ciclismo e à corrida. Em 31 de outubro, será a vez dos setores de escalada, da Trilha Afonso Sardinha e da atividade guiada de Nascer do Sol. Já a Trilha da Pedra Santa, uma das mais afetadas, ainda, não tem previsão de reabertura.

A entrada será gratuita até que todos os atrativos temporariamente interditados sejam reabertos. Entre os novos atrativos em estudo, estão as trilhas da Serrana, dos Fornos de Cal e da Represa Hedberg, além de mirantes, espaços de contemplação da natureza, atividades náuticas e áreas para meditação. (Lavínia Carvalho – programa de estágio – Colaborou Denise Rocha)

 

 

 

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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