Em 9 de abril de 1963, o USS Thresher, o submarino nuclear mais moderno de sua época, afundou durante testes de mergulho profundo a 220 milhas de Cape Cod. Com 278 pés de comprimento e capacidade de atingir 30 nós submerso, ele era considerado o mais silencioso e veloz do mundo.
Mas naquela manhã, o que deveria ser apenas mais uma simulação se transformou no maior desastre submarino da história dos Estados Unidos, matando todos os 129 tripulantes a bordo.
O submarino manteve contato com o navio de resgate USS Skylark durante os testes, reportando “dificuldades menores” antes de tentar retornar à superfície. Testemunhas ouviram barulhos descritos como “ar em rápida saída”, mas o Thresher nunca voltou. Meses depois, foi encontrado em seis partes no fundo do Atlântico.
Uma teia de erros fatais
Durante décadas, a causa do acidente permaneceu envolta em mistério, alimentando teorias de falhas catastróficas de solda e até suspeitas de encobrimento. No entanto, 3.600 páginas de documentos da Marinha dos EUA, desclassificados após uma batalha judicial em 2020, revelaram que não houve um único erro responsável, mas sim uma sequência de falhas.

Os arquivos apontam que tubulações mal soldadas se romperam, causando um vazamento de água do mar que danificou os sistemas elétricos. Ao mesmo tempo, a tripulação não conseguiu acessar os equipamentos de emergência a tempo, e os tanques de lastro, que deveriam levar o submarino de volta à superfície, falharam.
Especialistas afirmam que a pressa em colocar o Thresher em operação para enfrentar a ameaça dos submarinos soviéticos também foi um fator crítico. A expansão rápida da frota criou uma demanda urgente por tripulações, muitas vezes pouco treinadas. A confiança excessiva na nova tecnologia nuclear fez com que os marinheiros acreditassem que era “impossível” um submarino desse porte perder energia em pleno mergulho.
O legado sombrio que mudou a Marinha
O naufrágio do USS Thresher foi um divisor de águas para a Marinha dos Estados Unidos. A tragédia, somada à perda do USS Scorpion em 1968, forçou mudanças profundas na engenharia e no treinamento de submarinos nucleares.
Nascia então o programa SUBSAFE, um rigoroso sistema de segurança que assegura que todos os submarinos possam retornar à superfície mesmo nas piores emergências. Desde a sua implementação, a Marinha não perdeu mais nenhum submarino — um recorde que já dura mais de cinco décadas.
“O desastre do Thresher foi um choque para a comunidade submarina. Ele nos obrigou a repensar completamente como projetávamos, construíamos e operávamos nossos submarinos”, afirmou o almirante Scott Pappano em 2023.
A importância da transparência
O processo de desclassificação dos documentos também trouxe alívio. Por anos, críticos acusaram a Marinha de ocultar detalhes do acidente em uma suposta tentativa de encobrimento. Hoje, os arquivos mostram que o sigilo visava apenas proteger segredos técnicos que poderiam ser explorados por adversários, não esconder responsabilidades.
Para James Bryant, ex-comandante de submarinos da classe Thresher e responsável pela ação judicial que liberou os documentos, a transparência fortalece a Marinha e honra a memória das vítimas.
O USS Thresher permanece como um lembrete de que até as maiores potências tecnológicas estão sujeitas a erros fatais. Mas também simboliza como tragédias podem gerar mudanças capazes de salvar vidas e redefinir padrões de segurança para gerações futuras.
Artigo escrito a partir de informações de Popular Mechanics.