Falar em materiais atômicos ou radioativos costuma despertar preocupação imediata. Afinal, grandes desastres históricos criaram um imaginário trágico em torno dessas substâncias. No entanto, nem sempre o risco é alarmante: rejeitos de baixa intensidade, por exemplo, não representam ameaça significativa de radiação. Esse é o caso do lixo atômico que está depositado no sítio São Bento, no bairro Botuxim, em Itu, na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS).

O resíduo em questão seria o chamado “Torta II”, um material sólido radioativo de baixo nível, gerado pelo tratamento químico da monazita. O material é formado por elementos de terras raras, tório e hidróxido de urânio.

No depósito de Itu, segundo documento da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), estariam cerca de 3.500 toneladas. Há outros dois depósitos do mesmo material: um em Caldas, no Estado de Minas Gerais, que seria maior, com cerca de 11.334 toneladas, e outro em São Paulo, com aproximadamente 590 toneladas.

Um especialista em energia nuclear, que preferiu não se identificar, disse que esse tipo de lixo, normalmente, é composto por todos os materiais que entram em contato com a radiação, como picaretas, pás, roupas, instrumentos de segurança, entre outros. Qualquer objeto que tenha sido testado e constatado como irradiado e com potencial de contaminação é descartado junto com o metal.

Segundo a Prefeitura de Itu, o material veio da Usina de Santo Amaro (Usam), localizada no bairro do Brooklin, em São Paulo, e desativada nos anos 1990. O local processava areia monazítica para extrair terras raras.

Leilão

O material, que atualmente está sob responsabilidade da INB, foi posto em leilão em 2024. Na primeira versão do edital, o prazo limite para entrega de proposta de compra era 30 de setembro de 2024. Porém, nenhuma proposta foi feita e o prazo foi adiado diversas vezes. Segundo o edital, a quantia total seria de 15.424 toneladas e os principais compostos seriam hidróxido de urânio, tório e terras raras.

Para que a proposta seja validada, a empresa compradora terá que garantir a segurança de todo o processo: desde a retirada dos depósitos atuais, passando pelo transporte, até o processamento, qualquer que seja o fim.

A Prefeitura de Itu informou que, de acordo com a INB, o material está armazenado de forma correta e sob normas de segurança.

Segundo a professora Camila A. de Oliveira Martins Arakaki, esses elementos, por serem de baixa radioatividade, apresentam baixo risco para humanos e animais. Apenas uma exposição muito prolongada poderia aumentar o risco de câncer. Em caso de aspiração ou ingestão do resíduo, os problemas podem ser mais graves.

Ainda de acordo com Camila, caso os materiais sejam mal armazenados, pode ocorrer a lixiviação — processo de contaminação do solo a partir do contato da água com o material em questão. Isso pode levar à contaminação do solo e de lençóis freáticos, além da chamada “bioacumulação”, que é a concentração desses materiais em plantas e animais, podendo contaminar toda a cadeia alimentar.

A professora explica que as “terras raras” são materiais formados pelos lantanídeos, elementos que aparecem em linhas abaixo da tabela periódica tradicional, mais o escândio e o ítrio. Hoje em dia se sabe que eles não são tão raros, mas, no momento da descoberta, acreditava-se que fossem, e o nome acabou se mantendo.

No geral, esses materiais são utilizados para a fabricação de ímãs de alto desempenho, baterias de celular, aerogeradores e outras aplicações industriais de alto rendimento. (Vernihu Oswaldo)

 

 

 

 

 

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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