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O ativista português Miguel Duarte garantiu esta quarta-feira que a flotilha de 51 navios que transporta ajuda humanitária para Gaza está determinada em chegar ao enclave, apesar das sucessivas tentativas para inviabilizar a missão, que atribui a Israel.
Contactado telefonicamente pela agência Lusa, Miguel Duarte denunciou, a partir do navio em que se encontra, atualmente ao largo da ilha grega de Creta, que na noite de terça-feira foram ouvidas 11 “explosões intimidatórias”, que danificaram velas e mastros de alguns navios, mas que não se registaram feridos.
Um dos navios afetados, adiantou, poderá mesmo abandonar a Flotilha Global Sumud “estamos ainda a ver se terá de o fazer”, comentou —, composta ainda pelos restantes 50 navios, que partiram no início deste mês de Barcelona (Espanha) e de outros portos, nomeadamente de Itália, com ativistas, políticos, jornalistas e médicos de mais de 40 nacionalidades.
A bordo seguem também duas cidadãs portuguesas (a deputada e líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, e a atriz Sofia Aparício), além da ecologista sueca Greta Thunberg, que deixou já a direção da Global Sumud e mudou de embarcação, mas que continua a apoiar a missão.
Miguel Duarte indicou à Lusa que a flotilha continua a navegar em direção a Gaza, mas de uma forma mais lenta, pois estão ainda a avaliar os danos nos navios afetados pelas explosões de terça-feira à noite.
“Se tudo correr bem, poderemos chegar dentro de seis a sete dias a Gaza e entregar a ajuda humanitária que trazemos a bordo”, sublinhou Miguel Duarte, admitindo que tem dúvidas sobre se conseguirão chegar ao enclave palestiniano face à pressão israelita.
“Vamos a caminho de Gaza para entregar pessoalmente a ajuda humanitária à população de Gaza”, frisou. Os ativistas recusam entregar a Israel a ajuda que transportam, por considerarem que não chegaria ao povo palestiniano.
Itália anunciou esta quarta-feira o envio de uma fragata militar para “possíveis operações de socorro” à flotilha, enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Antonio Tajani, está a procurar mediar com o Governo israelita uma autorização para que a ajuda chegue ao destino.
“O Governo de Itália está a analisar todas as opções para evitar novas ações ofensivas contra os navios da Flotilha”, indicaram esta quarta-feira fontes da diplomacia italiana.
Miguel Duarte considerou que a mediação conduzida por Roma “faz parte de responsabilidade de todos os Estados para garantir segurança [à flotilha] e a chegada da ajuda humanitária” ao enclave palestiniano.
Os navios que integram a Flotilha Global Sumud pretendem, com a entrega da ajuda humanitária em Gaza, “quebrar o cerco israelita”, após duas tentativas barradas por Israel em junho e julho.
Em junho, Israel deteve no mar os navios da Flotilha da Liberdade que tentavam chegar a Gaza — segundo a organização, em águas internacionais — e deportou os seus membros, alguns dos quais após passarem por prisões israelitas.
O Governo israelita afirmou na segunda-feira que não permitiria que a flotilha chegasse a Gaza, onde está quase há dois anos em curso uma guerra, propondo-lhe atracar no porto da cidade israelita de Ascalon, a norte do enclave palestiniano, e transferir a ajuda, que afirmou se encarregaria de fazer chegar ao destino.
Israel declarou a 7 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para “erradicar” o movimento islamita palestiniano Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas e sequestrando 251.
A guerra no enclave palestiniano fez, até agora, pelo menos 65.419 mortos, na maioria civis, e 167.160 feridos, além de milhares de desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros e também espalhados pelas ruas, e mais alguns milhares que morreram de doenças e infeções, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
As Nações Unidas declararam no mês passado uma situação de fome em algumas zonas do enclave e, na semana passada, um comité independente da ONU acusou Israel de cometer genocídio na Faixa de Gaza.
