SAÚDE

Cabotegravir demanda uma aplicação a cada dois meses e tem uma eficácia de quase 100% para impedir a contaminação

Anvisa aprova Cabotegravir, primeiro medicamento injetável para prevenção do HIV – divulgação GSK / Unsplash

A farmacêutica GSK/ViiV Healthcare, com o apoio da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), submeteu um pedido à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) para oferecer o cabotegravir, uma injeção aplicada a cada dois meses para prevenir a infecção pelo HIV, na rede pública.


A solicitação, feita no último dia 12, é o primeiro passo para incorporar um novo fármaco no SUS. Agora, a Conitec analisa as evidências sobre segurança, eficácia e custo-efetividade do tratamento e recomenda, ou não, a inclusão. Ao fim, quem decide pela incorporação, ou não, é o Ministério da Saúde.


Desde 2017, já existe uma estratégia de Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) no SUS, mas que envolve comprimidos diários. Eles reduzem o risco de uma infecção a quase zero, mas precisam ser tomados todos os dias, o que dificulta a adesão adequada. Com isso, os laboratórios têm desenvolvido versões de longa duração, que demandam apenas algumas aplicações ao ano.




Em 2023, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a primeira delas, o cabotegravir, vendido com o nome comercial de apretude. O medicamento chegou ao mercado privado do país em agosto deste ano. Nos estudos clínicos, a eficácia foi de quase 100% e superior à PrEP oral por facilitar a adesão.


O medicamento também fez parte de estudos conduzidos no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ao GLOBO, a infectologista Beatriz Grinsztejn, atual presidente da International Aids Society (IAS) e chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em IST e HIV/Aids do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), disse que um dos entraves para as discussões sobre a incorporação no SUS tem sido “inadequação de preços”.


Ainda assim, um estudo conduzido pela GSK, publicado na revista científica Value in Health, estima que o cabotegravir poderia evitar cerca de 385 mil das 600 mil infecções pelo HIV esperadas no Brasil nos próximos 10 anos, gerando uma economia projetada de R$ 14 bilhões em custos com tratamento.


“Reafirmamos nosso compromisso como uma parceira estratégica do SUS na prevenção combinada do HIV. O medicamento representa um avanço significativo, com potencial para ampliar o acesso e beneficiar milhares de pessoas em situação de maior vulnerabilidade. Estamos fazendo todos os esforços necessários para garantir sua disponibilidade e fortalecer a resposta à epidemia de HIV/AIDS no Brasil”, diz Roberta Corrêa, Diretora da Unidade de Negócios de HIV da GSK/ViiV Healthcare, em nota.


Versão semestral

Paralelamente, uma outra versão da PrEP de longa duração tem repercutido pelo mundo. O lenacapavir, do laboratório Gilead Sciences, foi recentemente aprovado nos Estados Unidos e na Europa e indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para compor a estratégia de prevenção ao HIV.


De modo diferente do cabotegravir, que demanda seis aplicações ao ano, o lenacapavir é semestral, ou seja, precisa ser administrado somente duas vezes a cada 12 meses para conferir a alta eficácia contra o vírus, também de quase 100%.


— Enquanto uma vacina contra o HIV continua fora de alcance, o lenacapavir é a melhor alternativa: um antirretroviral de longa duração que, em testes, demonstrou prevenir quase todas as infecções por HIV entre pessoas em risco — disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, no lançamento das novas diretrizes da organização.


Mas, embora os remédios sejam injeções para prevenir o HIV, eles não são uma vacina. Isso porque não induzem o sistema imunológico a produzir anticorpos e células de defesa contra o vírus. São medicamentos antivirais que bloqueiam os “caminhos” que o HIV utiliza para se replicar e, para isso, precisam permanecer em constante circulação no organismo.


De forma mais detalhada, uma vacina é feita com o material genético de um vírus ou bactéria para que o sistema imune o reconheça a partir daquele fragmento e, com isso, passe a produzir as defesas contra ele. Dessa forma, simula a exposição àquele agente infeccioso para gerar a resposta imune, que se mantém ao longo do tempo.


Já no caso da PrEP, é um remédio que não induz uma resposta ativa do sistema imunológico. Ele combate o vírus diretamente. Nessa estratégia, o objetivo é manter a droga em constante circulação no sangue para, se a pessoa entrar em contato com o HIV, ela já estar presente e rapidamente atacá-lo, antes mesmo que ele se instale e cause a infecção.


Por isso, caso a administração da PrEP seja interrompida, a proteção desaparece. Já as vacinas, por outro lado, podem até demandar novas doses de reforço para elevar a resposta do sistema imune ao longo do tempo, mas a proteção em algum nível se mantém duradoura. Hoje, não existem vacinas aprovadas contra o HIV no mundo.


By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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