Entrevistado: Dr. Bruno Pereira de Oliveira

São Carlos (SP) – Uma pesquisa realizada no Instituto de Física de São Carlos (USP), pode mudar o jeito como frutas e verduras chegam à mesa do consumidor. O estudo, publicado na revista científica Processes, mostra que a radiação ultravioleta do tipo C (UVC) em sistemas de água circulante é capaz de eliminar até 99,999% de microrganismos nocivos, como a temida Escherichia coli, sem uso de produtos químicos.

O risco da contaminação

A higienização de alimentos frescos é um desafio para a indústria. Hoje, o processo depende do uso de soluções químicas, como hipoclorito e ácidos, que, embora eficientes, levantam preocupações ambientais e podem deixar resíduos. A contaminação microbiológica continua sendo uma das maiores causas de surtos alimentares no mundo.

A inovação brasileira

Para enfrentar esse problema, os pesquisadores desenvolveram um reator em que a água circula continuamente em contato com uma lâmpada de radiação UVC. O sistema foi testado em brócolis contaminados com E. coli. Conforme a água passava pelo reator, os microrganismos eram expostos à radiação, que atinge diretamente o DNA das bactérias, impedindo sua multiplicação.

Os resultados impressionaram: em 20 minutos de tratamento, a redução foi de 90%. Em 30 minutos, chegou a 99,9% e em 40 minutos, alcançou 99,999%. Em água pura, o efeito foi ainda mais rápido e eficiente.

Entre a teoria e a prática

Um diferencial do estudo foi a combinação entre modelos matemáticos e testes microbiológicos. As previsões teóricas de inativação microbiana se mostraram muito próximas dos dados experimentais, o que reforça a viabilidade de aplicar o método em escala industrial. Segundo os cálculos, doses em torno de 2 mJ/cm² em água e 9 mJ/cm² em vegetais já são suficientes para uma higienização eficiente.

Sustentabilidade e desafios

A técnica se apresenta como alternativa sustentável ao substituir compostos químicos por luz, reduzindo impactos ambientais e aumentando a segurança alimentar. Apesar disso, ainda há obstáculos: a turbidez da água pode atrapalhar a penetração da radiação, as lâmpadas precisam de manutenção constante e alguns vegetais exigem ajustes no fluxo para alcançar a mesma eficácia.

Futuro da indústria alimentícia

A pesquisa aponta para um futuro em que a radiação UVC pode se tornar uma aliada estratégica da indústria de alimentos, garantindo produtos mais seguros, com menor impacto ambiental e maior confiança para o consumidor.

“Estamos diante de uma tecnologia que pode elevar os padrões de segurança alimentar e reduzir a dependência de químicos”, destacam os autores do estudo

Artigo publicado: OLIVEIRA, B. P.; BLANCO, K. C. ; YASUOKA, F. M. M. ; CASTRO NETO, J. C. ; BAGNATO, V. S. . Kinetics with UVC irradiation usinga continuous flow system: a mathematical fittingcompared to microbiological analysis. PROCESSES, v. 13, p. 213, 2025.

Fontes:  Dr. Bruno Pereira de Oliveira – CEPOF – INCT – IFSC – USP ,                     Prof. Dr. Vanderlei Salvador Bagnato – Coordenador CEPOF – INCT – IFSC – USP e membro do Grupo de Óptica; Prof. Dr. Jarbas Caiado de Castro Neto – CEPOF – INCT – IFSC – USP; Me. Kleber Jorge Savio Chicrala – Jornalismo Científico e Difusão Científica – CEPOF – INCT – IFSC – USP.

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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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