Em 13 de setembro de 1987, Goiânia foi palco do maior acidente radiológico do mundo fora de uma usina nuclear, envolvendo o Césio-137. O episódio teve início quando dois catadores de recicláveis, Roberto dos Santos e Wagner Mota Pereira, encontraram um aparelho de radioterapia abandonado no Instituto Goiano de Radioterapia. Ao desmontá-lo, liberaram uma cápsula de Césio-137, um isótopo radioativo altamente perigoso. O material se espalhou rapidamente, contaminando centenas de pessoas e causando mortes e sequelas irreparáveis.

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Foto: Reprodução Alego

O Encontro Fatal

Em setembro de 1987, no local que hoje é o Centro de Convenções, dois catadores encontraram um aparelho nas ruínas do antigo Instituto Goiano de Radioterapia, instituição de responsabilidade do Estado. Os homens levaram a peça para um ferro-velho, e começaram a desmontar a máquina. Uma parte da peça foi levada para o ferro-velho de Devair Ferreira, que abriu a cápsula e encontrou o pó radioativo. Devair mostrou a novidade para vizinhos, amigos e familiares. Dias depois, as pessoas começaram a ter tontura, vômitos e diarreia, principalmente Devair e sua esposa Maria Gabriela.

A Tragédia de Leide das Neves

Ivo Ferreira, irmão de Devair, levou um pouco do pó para a sua filha, Leide das Neves, de apenas 6 anos. A menina posteriormente foi jantar, ingerindo o Césio-137 por meio da refeição. Maria Gabriela levou a peça até a Vigilância Sanitária, contribuindo com a contaminação de mais pessoas, pois o trajeto foi feito de ônibus.

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Leide das Neves – Foto: Reprodução

O Alerta e a Contaminação Generalizada

Apenas em 29 de setembro de 1987 foi dado o alerta que todas essas áreas foram atingidas por radiação. A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) pediu para que os moradores fossem transferidos para um esquema de triagem no Estádio Olímpico. Mais de 112 mil pessoas foram colocadas em quarentena e submetidas a intensos banhos para descontaminação.

Consequências e Legado

O acidente resultou em quatro mortes confirmadas: Maria Gabriela Ferreira, Leide das Neves Ferreira, Israel Baptista dos Santos e Admilson Alves de Souza. Além disso, 249 pessoas apresentaram contaminação significativa, sendo monitoradas e tratadas por equipes médicas especializadas. Mais de 110 mil pessoas foram monitoradas, e 249 apresentaram contaminação significativa. Centenas de locais, incluindo residências, ruas e veículos, foram desinfectados ou removidos devido à contaminação. A cidade de Goiânia enfrentou um processo complexo de descontaminação, com a remoção de solo e materiais contaminados.

Foto: Arquivo – Governo de Goiás
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Reflexões e Lições Aprendidas

O acidente com o Césio-137 em Goiânia permanece como um marco na história da segurança radiológica, destacando a importância de medidas rigorosas no manuseio e descarte de materiais radioativos. A tragédia também evidenciou a necessidade de conscientização pública e treinamento adequado para prevenir incidentes semelhantes no futuro.

Em 2025, o acidente completa 38 anos, e as lições aprendidas continuam a influenciar políticas e práticas relacionadas à segurança nuclear e radiológica no Brasil e no mundo.

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Reconhecimento e assistência médica

Na última quinta-feira (11), a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego) aprovou uma medida significativa para as vítimas do acidente radiológico com o Césio-137. Aprovado por 24 votos favoráveis, o Projeto de Lei nº 21358/25 altera a Lei nº 15.071/04, atualizando a composição da Junta Médica Oficial Específica da Secretaria de Estado da Saúde (SES). Essa atualização visa aprimorar o atendimento às vítimas, incluindo a especialidade de psiquiatria, conforme decisão judicial anterior, e flexibilizando o quórum necessário para emissão de laudos médicos.

A medida também prevê a possibilidade de substituição temporária de membros da junta médica em casos de afastamentos superiores a 30 dias, garantindo a continuidade dos serviços. Além disso, estabelece que, sempre que o periciado apresentar enfermidades que não correspondam às especialidades da junta, poderão ser considerados laudos de outros profissionais, prioritariamente vinculados ao sistema público de saúde.

Odesson Ferreira mostra como ficaram suas mãos em decorrência do Césio (Foto: Reprodução/Facebook)

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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