As estradas são essenciais para a mobilidade moderna e tradicionalmente são construídas com asfalto derivado do petróleo. No entanto, novas pesquisas demonstram que essas estradas também podem ser feitas com materiais reciclados. Na Espanha, foram testadas misturas com palha de trigo ou bitucas de cigarro, e na Austrália, até mesmo com sacolas plásticas reutilizáveis e garrafas de leite.

A descoberta oferece uma alternativa para um dos resíduos mais problemáticos do mundo: as sacolas plásticas. Esses objetos de uso em massa costumam acabar em aterros, rios e mares, afetando a fauna marinha e contribuindo para a contaminação global. Sua acumulação, juntamente com outros plásticos de curta vida útil, criou um desafio aparentemente intransponível.

A Universidade Edith Cowan, em Joondalup, demonstrou que, ao serem integrados ao asfalto, esses plásticos podem reforçar a resistência das estradas. Esse enfoque oferece uma vantagem dupla: aproveitar um resíduo abundante e melhorar o desempenho das infraestruturas críticas. Assim, o problema dos plásticos pode ser transformado em uma oportunidade para reduzir o impacto ambiental.

O desafio não é pequeno. A produção mundial de plásticos atingiu 460 milhões de toneladas métricas em 2019, das quais apenas 9% foram recicladas. A projeção para 2050 é ainda mais alarmante: ultrapassar um trilhão de toneladas acumuladas. Diante desse cenário, encontrar maneiras de dar-lhes uma segunda vida é um passo urgente em direção à economia circular.

Sacolas recicladas, um recurso útil

As técnicas de reutilização para pavimentos incluem processos úmidos, secos ou mistos. Cada método influencia de maneira diferente o desempenho do asfalto e a possibilidade de liberar microplásticos durante o uso. As abordagens híbridas parecem oferecer o melhor equilíbrio, garantindo compatibilidade e reduzindo risgos ambientais.

Nem todos os plásticos servem para esse propósito. O ponto de fusão é determinante, pois os termoplásticos presentes em sacolas e garrafas se adaptam às temperaturas do asfalto sem gerar resíduos adicionais. Isso os torna candidatos ideais para integrar misturas viárias sem a necessidade de um gasto energético extra.

O resultado são estradas mais duráveis e resistentes ao desgaste, com menor necessidade de manutenção. Essas propriedades não apenas economizam recursos a longo prazo, mas também reduzem as emissões de gases de efeito estufa relacionadas a frequentes reparos. A inovação visa pavimentos capazes de suportar melhor o tráfego e o clima.

A criatividade como ferramenta contra a contaminação

Ainda assim, desafios persistem. O uso excessivo de aditivos plásticos pode tornar as superfícies mais frágeis e aumentar a liberação de partículas microscópicas. Portanto, os pesquisadores insistem na necessidade de mais testes em condições reais, em diferentes climas e níveis de tráfego, antes de uma implementação em larga escala.

A luta contra a contaminação plástica exige criatividade e soluções escaláveis. Projetos como este, que transformam um resíduo em um recurso, apontam o caminho para uma transição mais sustentável. Transformar sacolas e garrafas em estradas, roupas ou móveis mostra que os resíduos podem deixar de ser um problema e se tornar aliados para o planeta.

A Austrália utiliza sacolas recicladas para a construção de asfalto. Foto: Unsplash.
A Austrália utiliza sacolas recicladas para a construção de asfalto. Foto: Unsplash.

Outras formas de aproveitar o plástico descartado

Além das estradas, o plástico descartado pode se tornar um recurso para diversos setores. Uma das aplicações mais comuns é a produção de mobiliário urbano. Bancos, brinquedos infantis e cercas podem ser fabricados a partir de plásticos reciclados, reduzindo o corte de árvores e oferecendo estruturas resistentes às intempéries.

No campo da construção, plásticos triturados são usados como aditivos em blocos de cimento ou como isolantes térmicos. Esses elementos, além de melhorar a durabilidade dos materiais, permitem reduzir a extração de areia e cascalho, dois recursos naturais enfrentando uma crescente sobreexploração.

Outra área promissora é a indústria têxtil. Com técnicas avançadas, garrafas de plástico são transformadas em fibras que se convertem em roupas, mochilas ou tapetes. Essa inovação não apenas alivia a pressão sobre aterros e oceanos, mas também reduz a dependência de fibras sintéticas novas, derivadas do petróleo.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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