A Associação SOS Rio Piracanjuba e o Instituto de Desenvolvimento Econômico e Socioambiental (IDESA) protocolaram no Ministério Público de Goiás (MPGO) uma denúncia que aponta possíveis crimes ambientais no Córrego Sussuapara, em Bela Vista de Goiás.
O documento entregue ao promotor Danni Sales reúne evidências de que a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do município estaria lançando rejeitos irregulares no curso d’água, em desconformidade com a legislação ambiental. O córrego é um afluente direto do Rio Piracanjuba, responsável pelo abastecimento humano, irrigação e uso animal em cidades a jusante.
Segundo as entidades, técnicos identificaram que efluentes supostamente fora dos padrões legais estariam sendo despejados pela ETE municipal. A situação foi considerada grave, já que a água contaminada escoa para o Piracanjuba, manancial que fornece água tratada para milhares de pessoas.
O presidente da SOS Rio Piracanjuba, Rosimar Santa Clara, relata que “nós estivemos lá no sábado, dia 6, e encontramos um caos total. A ETE estava jogando os rejeitos no rio, criando toda aquela sujeira. A água tem mais de um metro de espuma. E a resolução do CONAMA disse que não pode haver materiais flutuantes ou espumas visíveis, então está claro que tem poluição, né?”.
Veja vídeo do Córrego Sussuapara:
Para embasar a denúncia, as entidades coletaram amostras em diferentes pontos do córrego e do Rio Piracanjuba. As análises laboratoriais estão sendo conduzidas pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e, segundo a associação, os primeiros resultados devem ser divulgados em até 30 dias. Além disso, equipes já realizaram medições de temperatura, turbidez e oxigênio dissolvido, parâmetros previstos na resolução CONAMA 357/2005, que estabelece padrões de qualidade para águas de Classe 2.
Ainda conforme Rosimar Santa Clara, o relatório técnico inicial já indica irregularidades. “Nós fizemos a coleta da água no local e em vários pontos, abaixo e acima. Essas coletas estão sendo analisadas em várias avaliações químicas, inclusive até agrotóxicos. Então a gente está fazendo tudo de forma muito bem organizada e fundamentada”, explica.
Envolvimento do Ministério Público
A denúncia foi formalmente encaminhada à promotora Daniela Haun, do MPGO, e comunicada ao procurador-geral de Justiça, Cyro Peres. O pedido inclui o envio de uma equipe técnica de biólogos do Ministério Público Estadual para realizar perícia independente. A expectativa é que nos próximos dias seja feita uma vistoria detalhada com medições em campo e a produção de um relatório oficial.
Além da apuração administrativa e judicial, a representação pede medidas urgentes para interromper o lançamento irregular de esgoto e adequar o sistema da ETE às normas ambientais.
Impactos na qualidade da água
A denúncia ressalta que a contaminação compromete a saúde pública e o equilíbrio da bacia hidrográfica. O Córrego Sussuapara deságua no Rio Piracanjuba, utilizado para consumo humano, irrigação de hortaliças e criação de animais. Apesar de a Saneago garantir que a água distribuída em Piracanjuba passa por tratamento adequado, as entidades questionam o elevado custo e esforço para garantir a potabilidade.
“Se essa água chegasse mais limpa, não haveria necessidade de tanto esforço de produtos químicos e filtragem. Por isso defendemos uma análise independente, porque visivelmente a água não está dentro dos padrões”, diz o presidente da associação.
As equipes técnicas registraram espuma espessa, mau cheiro, alteração de cor e resíduos flutuantes no córrego. Foram coletados também macroinvertebrados bentônicos, organismos bioindicadores usados para avaliar a qualidade ambiental. As amostras revelaram a presença de espécies tolerantes a ambientes degradados, como Chironomus sp. e Biomphalaria sp., além de peixes mortos de diferentes espécies, entre eles Guacari (Hypostomus), Jundiá (Rhamdia quelen), Lambari-do-rabo-amarelo (Astyanax bimaculatus) e Tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus).
Veja fotos:
Esses achados indicam queda acentuada na qualidade da água, corroborando os relatos de moradores que denunciaram mau cheiro e turbidez anormal nas últimas semanas.
Segundo a SOS Rio Piracanjuba, denúncias anteriores já haviam sido feitas aos órgãos ambientais, mas sem medidas concretas. Desta vez, a associação decidiu formalizar a representação para garantir providências. Rosimar ainda aponta que, ao longo do Córrego Sussuapara, há sinais de proliferação do caramujo africano, espécie invasora associada a altos níveis de matéria orgânica.
“Isso mostra a baixíssima qualidade da água. O caramujo se alimenta de detritos, e onde ele aparece em grande quantidade significa que o ambiente está muito degradado”, observa.
Entre as ações sugeridas, Rosimar pede auditorias independentes contratadas pelos municípios, análises ecotoxicológicas mais detalhadas, estudos sobre a concentração de metais pesados e avaliação da estrutura da própria ETE de Bela Vista de Goiás. O objetivo é garantir que o sistema de esgoto não represente risco à saúde da população nem ao equilíbrio ecológico.
O relatório do IDESA destaca que parâmetros como oxigênio dissolvido e turbidez já se mostram em desconformidade com as resoluções do CONAMA. Os técnicos também recomendam verificar a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), sedimentação de resíduos e presença de nitrogênio amoniacal e fluoretos.
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