Ela não surgiu do nada. Alguém teve a “brilhante” ideia, que deve ter sido discutida e aprovada com entusiasmo: vamos abrir uma bandeirona dos EUA assim, ó, desse tamanho! Na Avenida Paulista! Em pleno 7 de setembro! Imagino aplausos e gritos de “In Trump we trust”. Quem deu a ideia deve ter se achado um gênio. Não duvido nada que tenha deixado escapar uma lágrima quando, na segunda (8), viu sua Stars & Stripes na capa dos jornais.
Só queria saber quem foi essa pessoa. Quem foi o sabichão e enxadrista 4D que, talvez movido por muita boa intenção e pouca inteligência, sem falar no evidente desespero, entregou para a esquerda um dos maiores ativos que a direita tinha: a combinação patriótica do verde e do amarelo. E isso bem no dia em que o desfile esvaziado em Brasília expôs a precariedade das nossas Forças Armadas, bem como a popularidade insignificante de Lula.
Estultice cívica
A bandeira norte-americana na Avenida Paulista, em pleno 7 de setembro, foi um desastre de comunicação tão grande que até parece coisa de gente infiltrada – para quem acredita nesse tipo de coisa. Mas só digo isso porque estou, confesso, em negação. Não quero acreditar que a direita tenha sido tão… imprudente a ponto de não prever o óbvio. Isto é, que a imagem de um símbolo dos EUA na Avenida Paulista, no Dia da Independência, seria usada pelos petistas para reforçar o discurso mentiroso e hipócrita da soberania nacional.
Diante do desastre, alguns se apressaram em inventar justificativas que até fazem sentido, mas não vão colar. “Foi uma demonstração de agradecimento a uma nação amiga que está ajudando o Brasil a se livrar da ditadura de toga”, me disse uma pessoa quando expressei meu apalermamento diante de tamanha estultice cívica. Pode até ser que essa tenha sido a intenção, mas a imagem certamente não será lida assim. O que, a meu ver, é um sinal assustador de que a direita não consegue nem está interessada em ver o país para além da própria bolha.
Arrivistas na coleira de marqueteiros
Pior! Ensimesmada num americanismo que está longe de ser unanimidade, a direita, talvez por desespero, insisto, me parece cada vez menos disposta a ser diferente da esquerda. Quer ver? Aposto como tem alguém neste exato momento pensando em retrucar dizendo que o PT pisa na bandeira do Brasil e levanta a bandeira da Palestina, de Cuba, da China e da URSS há décadas, e você nunca escreveu nada, seu petista! Pois é. É que sempre achei que esses gestos de antipatriotismo, de submissão e de alianças ideológicas oportunistas falassem por si.
Além disso, jamais imaginei que a direita um dia pudesse ser tão limitada e teimosa. Principalmente teimosa. Não seria mais fácil (e honesto) reconhecer o erro, pedir desculpas e perceber que o desespero tem afetado a tomada de decisões? Seria. Mas não adianta. A direita está tão infestada de arrivistas que andam para lá e para cá na coleira de marqueteiros que não vou me surpreender se na próxima manifestação houver um momento em que, com a mão no peito, os outrora patriotas haverão de cantar, chorandinho, o “Star-Spangled Banner”. Vai vendo.
Reencontrar a força e a unidade
Retomando o fio da meada, não duvido que quem teve a ideia de abrir uma bandeirona dos Estados Unidos na Avenida Paulista, em pleno Dia da Independência, tenha agido de boníssima-fé. Ele (ou eles) quis agradecer aos Estados Unidos, que realmente deram uma reanimada na alquebrada esperança de uma direita que, censurada e perseguida, se sente impotente. O que é compreensível.
Mas boa intenção sem prudência (no sentido de “discernimento”) não serve para nada. Ou melhor, serve para ficar se mostrando nas redes sociais e para a esquerda tripudiar. Mais do que nunca, as boas intenções da direita precisam ser iluminadas pela inteligência e pelo olhar de longo prazo. Algo que não se encontra dando ouvidos a marqueteiros oportunistas. O patriotismo brasileiro é verde e amarelo. Sempre foi. E é nesse patriotismo que a direita precisa reencontrar sua força e unidade. Ainda dá tempo de aprender com os erros. E de mostrar ao Brasil que a direita pode ser melhor do que isso.