O acidente nuclear de Fukushima foi um dos maiores acidentes envolvendo energia nuclear na história da humanidade. Ele ocorreu como consequência de um terremoto de magnitue 9.0, no dia 11 de março de 2011, que originou um tsunâmi no Oceano Pacífico. O tsunâmi, de cerca de 14 metros de altura, atingiu a usina nuclear de Fukushima-Daiichi, ocasionando inundações, danos e perda de energia.
Não pare agora… Tem mais depois da publicidade 😉
O acidente nuclear de Fukushima, por ação da água, apresentou uma situação de desligamento completo, não conseguindo controlar o calor gerado nos reatores. Como consequência, houve explosões no reator, permitindo o vazamento de material radioativo pela atmosfera. O caso marcou a história recente do Japão, o qual tomou diversas providências após o fato.
Leia também: Como aconteceu o terremoto de Fukushima em 2011?
Tópicos deste artigo
Resumo sobre o acidente nuclear de Fukushima
- O acidente nuclear de Fukushima foi um dos piores acidentes nucleares da história.
- Ele ocorreu em março de 2011 e foi consequência de um terremoto, que ocasionou a formação de um tsunâmi.
- O tsunâmi formado atingiu a usina nuclear de Fukushima-Daiichi, inundando a instalação, causando grandes danos e perda total de energia.
- Sem energia, a usina não conseguiu controlar o calor produzido no núcleo dos reatores, o que gerou um aumento de pressão e, por conseguinte, explosões.
- As explosões permitiram o vazamento de uma grande carga de material radioativo pela atmosfera.
Causas do acidente nuclear de Fukushima

O acidente nuclear de Fuskushima (ou acidente nuclear de Fukushima-Daiichi) ocorreu no dia 11 de março de 2011, como consequência de um terremoto de magnitude 9.0 na região de Tohoku, às 14:46 no horário local.
O terremoto, cujo epicentro foi a 130 quilômetros (ao leste) da cidade de Sendai e 163 quilômetros (a nordeste) da usina nuclear de Fukushima-Daiichi, desencadeou um desligamento automático das unidades 1, 2 e 3 da usina. Como consequência do terremoto, uma hora depois (por volta de 15:38), um tsunâmi de cerca de 14 metros de altura chegou à usina nuclear de Fukushima-Daiichi, que ocasionou inundações, danos e bloqueio de edifícios de captação de água.
A ação da água causou a perda dos geradores de energia emergenciais, alimentados a diesel, que desencadeou problemas nos reatores.
Não pare agora… Tem mais depois da publicidade 😉
Como aconteceu o acidente nuclear de Fukushima?
O terremoto de magnitude 9.0 que ocorreu próximo à usina nuclear de Fukushima causou, inicialmente, uma perda de energia nas unidades 1, 2 e 3 da usina. As demais unidades, 4, 5 e 6, foram desligadas para revisão. Como consequência, os geradores emergenciais de energia, alimentados com diesel, foram ligados. Até então, embora não fosse possível mensurar o tamanho dos danos causados à usina nuclear, já era possível assumir que não havia danos que comprometessem, severamente, a segurança.
A ação do terremoto originou um tsunâmi, com aproximadamente 14 metros de altura, que atingiu a usina nuclear de Fukushima-Daiichi uma hora após o início do terremoto. A onda, cuja altura superou significativamente os 5,7 metros de altura esperados, causou danos à usina, como enchentes, danos estruturais e bloqueio aos prédios de captação de água. Adicionalmente, a água causou danos aos geradores de diesel que, horas depois, ocasionou a perda de todos os sistemas elétricos, colocando a usina em um estado conhecido como “apagão na estação”.
A perda dos sistemas elétricos desencadeou a perda completa dos sistemas de resfriamento dos núcleos dos reatores das unidades 1, 2 e 3, assim como das piscinas de elementos combustíveis (áreas onde ficam armazenadas as barras de combustível nuclear utilizadas após elas serem removidas do reator) de todas as unidades.
Por consequência dos destroços, o acesso às unidades estava limitado ou impossibilitado. Houve, ainda, danos às estradas de acesso à usina nuclear, dificultando o trânsito de veículos que vinham de fora do complexo.

Depois de um desligamento completo, em situações normais, a remoção de calor é realizada por uma bomba específica e por um trocador de calor. Entretanto, por conta da indisponibilidade de fornecimento de energia para alimentar o resfriamento do núcleo, a remoção de calor foi realizada por um sistema dedicado de pressão, que poderia operar com uma capacidade menor, fornecido por baterias. Contudo, após a perda de energia das baterias algumas horas depois, o sistema de refrigeração entrou em colapso, e, como consequência, o calor não conseguia mais ser retirado do reator.
Isso ocasionou uma queda do nível de água, expondo o núcleo do reator. A partir daí, os processos de derretimento no topo do núcleo produziram calor suficiente para a chamada “reação de zircônio-água”, típica de acidentes críticos em reatores nucleares, que culminou na liberação de diversos nuclídeos radioativos, calor e gás hidrogênio através do vaso de pressão do reator.
Como consequência, a pressão elevou-se para 8 bar, necessitando-se de redução da pressão por ação de ventilação, em que o gás hidrogênio e os radionuclídeos foram sendo liberados para o prédio do reator, os quais se concentraram na região superior deste. Porém, em 12 de março de 2011, às 15:36, o excesso de hidrogênio confinado desencadeou uma reação explosiva com o oxigênio, causando a explosão da unidade 1. Posteriormente, outras explosões originadas da reação do gás hidrogênio com o gás oxigênio ocorreram nas unidades 2, 3 e, provavelmente, na unidade 4.
Além da liberação de radionuclídeos para a atmosfera, também houve liberação de água altamente contaminada para o Oceano Pacífico e a dispersão de destroços contaminados pela região da usina nuclear.
Acesse também: Você sabe como funciona uma usina nuclear?
Consequências do acidente nuclear de Fukushima
A Nuclear and Industrial Safety Agency (Nisa, Agência de Segurança Industrial e Nuclear, em tradução livre), uma agência reguladora japonesa, anunciou que as liberações subsequentes de radioatividade na atmosfera foram qualificadas como “acidente em maior escala”, ou um acidente nível 7, o maior possível dentro da International Nuclear and Radiological Event Scale (escala internacional de eventos nuclear e radiológico, em tradução livre).
A liberação de gás hidrogênio através da reação de zircônio com água permitiu uma explosiva reação desse gás com o oxigênio presente no ar, destruindo o prédio dos reatores e permitindo o vazamento de 137Cs e 131I, que são produtos de fissão de baixo ponto de ebulição. À época do acidente, o 137Cs, com 30 anos de meia-vida, e seu isótopo mais leve, o 134Cs, que possui 2 anos de meia-vida, eram os maiores contaminantes terrestres de Fukushima e de distritos nos arredores. O131I, contudo, apresenta um tempo de meia-vida bem menor, de 8 dias. Ao sofrerem decaimento radioativo, os contaminantes emitem radiação gama, capazes de aumentar os níveis de radiação.
Houve contaminação da água. Estima-se que havia cerca de 100.000 toneladas de água utilizada para resfriamento acumulada nos níveis inferiores dos prédios dos reatores à época do acidente. Uma fração dessa água, altamente contaminada fluiu para o Oceano Pacífico, com consequente aumento dos níveis de concentração de isótopos de iodo e de césio. Os níveis de 137Cs, de maior tempo de meia-vida, mantiveram-se acima do permitido a uma distância de 10 a 30 quilômetros até a metade do mês de maio. Tais níveis elevados poderiam também indicar altos níveis de contaminação em algas, em peixes e em mexilhões.
Também foram percebidas contaminações em alimentos. O governo japonês, por meio do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar, detectou níveis de radiação oriundas de 137Cs e de 131I muito acima do limite superior em espinafres. Nas regiões próximas a Fukushima, os níveis de iodo-131 eram de cerca de 54.100 Bq/kg (em Becquerel por quilograma de espinafre, uma unidade de medida para a quantidade de radiação) e de 20.000 Bq/kg em termos de césio-137, quando os limites permitidos deveriam ser de 2.000 Bq/kg em termos do isótopo 131 do iodo e de 500 Bq/kg em termos do césio-137. Já na região de Tóquio e nas proximidades, os valores mensurados de radiação em termos de iodo-131 e de césio-137 também superaram o limite, sendo 5.700 Bq/kg para o isótopo de iodo e 890 Bq/kg para o isótopo de césio.
Comportamento análogo foi percebido em outros alimentos, como no cogumelo shiitake, na carne, no arroz e no chá. Os níveis de radiação contaminante atingiram seus picos em março, decaindo nos meses seguintes. Para a água voltada para ingestão humana, a situação, entretanto, não foi tão severa como nos alimentos.
Para a proteção das pessoas que viviam nas adjacências da usina nuclear de Fukushima-Daichii, as autoridades realizaram algumas medidas de emergências. No dia 11 de março de 2011, a evacuação em um raio de 3 quilômetros do acidente iniciou-se. Uma quarentena (proibição de sair de casa) foi estabelecida para os que viviam em um raio de até 10 quilômetros. Nos dias seguintes, a evacuação foi estendida para aqueles que viviam em um raio de até 20 quilômetros do acidente, enquanto a quarentena foi obrigatória para os que viviam em um raio de até 30 quilômetros. Complementarmente, pastilhas de iodo (não radioativo) foram distribuídas, de modo a impedir a absorção de iodo-131, evitando-se, assim, a possibilidade de desenvolvimento de câncer de tireoide. As pessoas que viviam em um raio de 20 quilômetros do acidente foram sendo monitoradas e, se necessário, descontaminadas.
O governo ainda ordenou a evacuação de pessoas de outras áreas, baseando-se em uma possível emergência para um possível acidente futuro e, também, em áreas específicas que superavam os níveis de 20 mSv/ano (em milisiverts por ano, uma unidade que mensura a quantidade de radiação ionizante e seus efeitos na saúde humana). Por fim, ainda fora realizada a proibição do consumo e da comercialização de alimentos e de bebidas contaminados.
O acidente nuclear de Fukushima foi pior do que Chernobyl?
Não, o acidente de Fukushima não foi pior do que o acidente de Chernobyl. Isso porque uma menor radiação foi liberada no acidente da cidade de Fukushima, e, além disso, não houve mortes por exposição à radiação. Os dados coletados após o acidente em Fukushima evidenciam que os danos foram controlados e mitigados de maneira muito mais correta se comparado ao acidente ocorrido na cidade de Chernobyl.
O acidente na usina nuclear de Fukushima-Daichii, ocorrido em 2011, atingiu o nível 7 dentro da escala da International Nuclear and Radiological Event Scale. O único acidente que atingiu o mesmo nível foi o que ocorreu na usina nuclear da cidade ucraniana de Chernobyl, em 1986, à época União Soviética.
Em junho de 2011, três meses após o desastre, o governo japonês informou à International Atomic Energy Agency (IAEA, Agência Internacional de Energia Atômica, em tradução livre) que a radiação liberada para a atmosfera proveniente do combustível nuclear dos reatores de Fukushima era muito próxima de 10% do que foi liberado durante o acidente de Chernobyl. Isso é plausível, uma vez que as emissões de Chernobyl foram diretamente para a atmosfera, enquanto a radiação de Fukushima, majoritariamente, foi capturada pela água que havia no interior dos prédios dos reatores.
Estima-se que haverá cerca de 16.000 mortes por conta de câncer em consequência dos efeitos do acidente de Chernobyl para aqueles que foram expostos ao acidente. Isso significa um aumento de 0,001% a 0,1% em casos de morte de câncer. Pode parecer pouco, mas deve-se atentar para o fato de que a taxa de morte de câncer em países desenvolvidos caiu na faixa de 27%. Sem dúvida alguma, uma das piores questões relacionadas ao acidente de Chernobyl foram os casos de câncer de tireoide, que afetam, principalmente, crianças. Isso porque as autoridades falharam em bloquear o consumo de leite vindo de vacas que pastavam em locais contaminados. Entre 1986 e 2005, quase 7.000 casos foram diagnosticados na Bielorrússia. Por sorte, boa parte dos casos de câncer de tireoide não são fatais.

No Japão, em contraste, 1.080 crianças foram evacuadas entre os dias 21 e 23 de março em um raio de até 20 quilômetros da usina nuclear de Fukushima-Daiichi, fazendo com que elas tenham recebido doses pequenas de iodo-131, causador do câncer de tireoide. Além disso, embarcações de leite cru e vegetais oriundos de Fukushima e de três províncias vizinhas foram bloqueados no dia 21 de março, seis dias após a grande emissão de radiação que causou os maiores níveis de contaminação. Por fim, tabletes de iodeto de potássio foram distribuídos pelo governo como forma de contenção e de prevenção de casos de câncer de tireoide.
A Tokyo Electric Power Company (TEPCO) informou, em 2013, que menos de 1% de todos os funcionários foi exposto a doses de radiação que fossem iguais ou superiores a 100 mSv, sendo a dose média igual a 11,9 mSv. Boa parte das lesões e demais intercorrências não apresentou relação com a exposição à radiação.
Nenhuma morte por exposição à radiação foi atribuída ao acidente de Fukushima. Estudos independentes de 2013, um das Nações Unidas e outro da Organização Mundial da Saúde (OMS), concluíram que os riscos à saúde relacionados à emissão de radiação durante o acidente de Fukushima eram mínimos, até mesmo para os que foram mais afetados, com ausência de efeitos danosos à saúde fora do território japonês.
Em contrapartida, 28 trabalhadores que foram expostos a altos níveis de radiação morreram em até quatro meses após o acidente em Chernobyl. Até 2005, 15 crianças havia morrido de câncer de tireoide.
Acesse também: Acidente de Chernobyl — como aconteceu o maior acidente nuclear da história?
Quantas pessoas morreram no acidente nuclear de Fukushima?

Um relatório publicado pelo governo japonês, de fevereiro de 2022, aponta para um total de 19.747 mortos, em decorrência da tripla tragédia que ocorreu em Fukushima: terremoto, tsunâmi e acidente na usina nuclear. Esse número ainda inclui pessoas que faleceram devido ao desgaste físico causado pela evacuação, pelo trabalho excessivo, entre outras causas indiretas relacionadas ao terremoto. Além disso, mais de 2.000 pessoas ainda são consideradas desaparecidas.
Fukushima hoje
O acidente de Fukushima motivou o governo japonês a realizar inspeções de segurança detalhadas em todos os seus reatores nucleares, havendo, também, uma crescente pressão para redução de produção de energia nuclear no Japão. Embora isso tenha acontecido no começo, a alta demanda por eletricidade (impulsionada, por exemplo, pela inteligência artificial) faz com que o país planeje uma elevação na participação da energia nuclear em sua matriz de 8% para 20% até 2040. Contudo, à época do acidente de Fukushima, a participação da energia nuclear era de cerca de 30%.

Até hoje, os níveis de radiação são monitorados na região de Fukushima, e, além disso, muitas pessoas ainda não tiveram autorização para retornar às suas casas. As estimativas apontam que o processo de descontaminação pode levar até 30 anos.
O governo japonês passou a investir ainda mais em prevenção. Uma muralha com comprimento superior a 400 quilômetros foi construída ao longo do litoral para conter novos tsunâmis, com trechos que superam os 15 metros de altura. A Tokyo Electric Power Company (TEPCO) ainda afirma que a usina de Fukushima nunca voltará a operar.
Créditos de imagem
[1] Fly_and_Dive / Shutterstock
[2] Eight Photo / Shutterstock
[3] TK Kurikawa / Shutterstock
Fontes
DE MOURA, I. M. Descontaminação e desativação da usina: os desafios do Japão 11 anos após o desastre nuclear. Gazeta do Povo. 10 mar 2022. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/os-desafios-do-japao-11-anos-apos-o-desastre-nuclear/.
FANTÁSTICO. Fukushima: como está a região atingida pelo maior terremoto da história do Japão, 14 anos após desastre. G1 – Fantástico. 4 mai. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2025/05/04/fukushima-como-esta-regiao-atingida-pelo-maior-terremoto-da-historia-do-japao-14-anos-apos-desastre.ghtml.
HARALD, T. The Fukushima Daiichi Nuclear Accident – An Overview. Health Physics. 103(2), p. 169-174, 2012.
SIMÕES, R. 10 anos de Fukushima: o dia em que o Japão foi atingido por um terremoto, tsunâmi e acidente nuclear. BBC News Brasil. 10 mar. 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-55943220.
THE NUCLEAR ENERGY INSTITUTE (NEI). Comparing Fukushima and Chernobyl. NEI. out. 2019. Disponível em: https://www.nei.org/resources/fact-sheets/comparing-fukushima-and-chernobyl.
VON HIPPEL, F. N. The radiological and psychological consequences of the Fukushima Daiichi accident. Bulletin of the Atomic Scientists. 67(5), p. 27-36, 2011.