Você sabia que a internet discada, muito popular até o começo dos anos 2000, ainda existe? Pois é… Existir ela inda existe, mas está literalmente com os dias contados.
A AOL, que já foi o maior provedor de internet discada do mundo, era “o último dos moicanos”. A empresa ainda oferece o serviço nos Estados Unidos e Canadá, mas seus assinantes foram informados no último dia 11 que ele será encerrado em 30 de setembro.
Segundo estimativas do governo norte-americano, em 2023 cerca de 300 mil pessoas ainda declararam usar conexão discada. Pode parecer muito, mas esse número representa menos de 1% da população do país. Em contrapartida, os usuários de banda larga já ultrapassam os 300 milhões.
A AOL foi líder mundial até 2000, quando se fundiu com a Time Warner. O acordo, porém, foi um desastre: no ano seguinte, a empresa já havia perdido 30 milhões de assinantes. Em 2003, o Wall Street Journal decretava: “É oficial: a internet discada está morrendo.”
Se você nasceu até o fim dos anos 90, provavelmente acessou a internet pela primeira vez através de uma conexão discada. Duas décadas se passaram desde então, e a tecnologia evoluiu tanto que parece que já faz um século.
De volta aos tempos da internet discada
Internet discada em CDs gratuitos. Foto: Internet
Na época da internet discada, os computadores vinham com o famoso kit multimídia: placa de som, caixinhas (que chiavam segundos antes de um celular tocar) e leitor de CD-ROM. Sem ele, o único som do computador era um bip ao ligar ou em mensagens de erro. Os monitores ainda eram de tubo CRT e o mouse tinha uma bolinha pesada dentro.
Para entrar na internet, quem não tinha banda larga precisava esperar até a meia-noite para não estourar a conta telefônica. A conexão gratuita era só de segunda a sexta entre meia-noite e 6h, sábado a partir das 14h e o domingo inteiro. Nos demais horários, era cobrado por minuto, como uma ligação local.
E para acessar era preciso usar um discador: um programinha que “ligava” para o provedor e emitia um dos sons mais nostálgicos do começo do século.
Minha primeira vez online foi justamente com o discador da AOL, provavelmente vindo de brinde em alguma revista. Ele era surpreendentemente à frente do seu tempo, com um ambiente virtual que lembrava muito o que hoje chamamos de rede social.
No Brasil, o mais popular foi o discador da iG (azul claro e branco, geralmente com um cachorrinho), mas também existiam outros, como o da BOL (Brasil Online) e o da Terra.
Só que todos tinham os mesmos problemas: a conexão caía o tempo todo, e baixar alguns poucos megabytes demorava tanto que muitas vezes era mais rápido ir até a banca de jornal e comprar uma revista com um CD contendo o programa desejado.
O mundo antes do Google

Antes do Google se usava o Cadê?. Imagem: Internet
Naquela época, a internet ainda era mato. Era antes de Instagram e TikTok, antes até do wi-fi e do smartphone, antes mesmo de YouTube e Google.
No começo dos anos 2000, quem reinava era o Yahoo!. E no Brasil havia o concorrente local Cadê, lançado em 1995. Ele caiu no gosto dos brasileiros por ter uma interface mais amigável, algo que o Google só popularizaria depois. Criado pelos estudantes de engenharia elétrica Gustavo Viberti e Fábio de Oliveira, o Cadê surgiu como uma página pessoal, e os links eram catalogados manualmente — um “Google sem algoritmo”, feito à mão. Com o tempo, ganhou recursos que hoje parecem básicos, como busca por imagens, vídeos e notícias.
O começo dos anos 2000 também foi marcado por tecnologias que hoje soam como peças de museu:
- Redes sociais como mIRC, Fotolog, Orkut e Twitter (no comecinho);
- Mensageiros instantâneos como ICQ e MSN;
- Programas de compartilhamento de MP3 como o eMule;
- Tocadores de .mp3 como o Winamp;
- Lan houses, onde a galera virava a madrugada jogando Counter-Strike em rede;
- Celulares que ainda tinham teclas físicas.
E, a partir de 30 de setembro, também será o fim oficial da internet discada. Descanse em paz!
:’)