Um novo material promete mudar a forma como a cadeia de frio é preservada. Trata-se do “jelly ice”, um substituto do gelo convencional que não derrete, é reutilizável e compostável. Sua base é um biopolímero de gelatina seguro para alimentos e água em 90%, tornando-se uma solução prática e ecológica em relação ao gelo tradicional, permitindo não desperdiçar água.
O impacto do gelo convencional nem sempre é perceptível, mas seus resíduos líquidos representam um risco sanitário em hospitais, supermercados ou mercados de peixe, onde poças podem ser focos de contaminação. O jelly ice, por outro lado, mantém a água presa em uma rede de hidrogéis naturais, evitando vazamentos e reduzindo riscos logísticos.
Além de eficiente, o material é sustentável: pode ser lavado, congelado e reutilizado várias vezes. No final de sua vida útil, não se transforma em lixo, pois pode ser compostado e utilizado como emenda agrícola. Na verdade, testes realizados com plantas de tomate demonstraram que, ao se degradar, este material favorece o crescimento de cultivos.
O desenvolvimento, impulsionado por pesquisadoras nos Estados Unidos, está em processo de industrialização e já possui licenças ativas para sua aplicação em diferentes setores. Seu potencial abrange desde a conservação de alimentos até o transporte de medicamentos sensíveis à temperatura.
Mais que gelo: um avanço com múltiplas aplicações
O jelly ice nasceu como resposta a problemas sanitários em vitrines de peixe, onde o gelo derretido poderia facilitar a contaminação cruzada. No entanto, sua versatilidade o levou a ser testado em áreas-chave.
No setor de saúde, representa uma alternativa segura para transportar vacinas e insulina em regiões sem acesso contínuo à refrigeração. Na biotecnologia, está sendo utilizado como suporte na produção de carne cultivada devido à sua estrutura porosa e biocompatível. Até mesmo revestimentos antibacterianos temporários para superfícies de contato com alimentos, que podem ser removidos sem deixar resíduos, estão sendo explorados.
A inovação também se projeta para a agricultura, onde sua capacidade compostável o torna útil para enriquecer solos, reduzindo a dependência de fertilizantes químicos e fechando ciclos de aproveitamento de resíduos.
O próximo desafio é escalar a produção sem perder eficiência ou sustentabilidade. As pesquisadoras trabalham em fórmulas baseadas em proteínas vegetais, como soja, a fim de reduzir o uso de polímeros sintéticos e aproveitar subprodutos agrícolas.
Um substituto sustentável
O jelly ice não é apenas uma curiosidade tecnológica, mas um exemplo de como materiais alternativos podem gerar um impacto positivo no meio ambiente. Entre seus benefícios destacam-se:
– Redução do desperdício de alimentos, ao manter temperaturas estáveis durante o transporte.
– Economia de água, ao eliminar a necessidade de produzir grandes volumes de gelo convencional.
– Menor pegada de carbono na logística, permitindo embalagens mais leves e adaptáveis.
– Regeneração de solos agrícolas, ao se transformar em composto no final de sua vida útil.
– Aproveitamento de resíduos agrícolas, que podem se transformar em biopolímeros de alta qualidade.
Este material incorpora a filosofia da bioeconomia circular: transformar resíduos em recursos, reduzir a pressão sobre os ecossistemas e substituir plásticos por soluções biodegradáveis.
Sua chegada ao mercado pode marcar um antes e um depois na refrigeração sustentável, demonstrando que a inovação não precisa estar em conflito com a saúde do planeta. Em um mundo onde os recursos hídricos e energéticos estão se tornando cada vez mais limitados, o jelly ice surge como uma ferramenta capaz de mudar hábitos cotidianos e, ao mesmo tempo, proteger o meio ambiente.