“Hoje foi um dia de morte.”

Restos de um veículo destruído pelas explosões de quinta-feira (21/08) em Cali

Restos de um veículo destruído pelas explosões de quinta-feira (21/08) em Cali

Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Foi assim que o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, se referiu ao ataque com explosivos que abalou a cidade de Cali e ao abate de um helicóptero da polícia em Amalfi, no Departamento (Estado) de Antioquia, ocorridos na quinta-feira (21/08), deixando pelo menos seis civis e 12 policiais mortos, respectivamente, segundo as autoridades locais.

Na ausência de um balanço definitivo, a prefeitura de Cali informou que pelo menos 65 pessoas ficaram feridas no ataque a bomba.

O presidente vinculou este ataque e o de Antioquia a dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

“Após a derrota da coluna Carlos Patiño, com a perda de grande parte do Cânion Micay, temos uma reação terrorista em Cali”, escreveu Petro no X (antigo Twitter).

Antes, na mesma rede social, o presidente atribuiu o ataque ao helicóptero policial à Frente 36 do Estado-Maior Central (EMC).

Nenhum desses grupos armados assumiu a autoria dos ataques.

Os incidentes aconteceram em meio a repetidos questionamentos sobre a política de “paz total” de Petro.

Vozes da oposição associam essa política, que prometia mais diálogo e conciliação com grupos armados, à deterioração da segurança na Colômbia que, embora não esteja nos níveis de décadas atrás, afeta a percepção dos cidadãos.

Vale do Cauca e Cauca, alvos frequentes de ataques

De acordo com a polícia, o ataque desta tarde em Cali, realizado com cilindros-bomba, tinha como alvo a base aérea Marco Fidel Suárez, no norte da cidade.

Testemunhas no local disseram à agência de notícias AFP que ouviram explosões perto da base, que havia muitas pessoas feridas e que várias moradias foram danificadas.

Vários edifícios foram evacuados, e a prefeitura anunciou o fechamento de ruas e restrições ao tráfego.

Na mesma área, foi detectada a presença de uma van com cilindros-bomba em seu interior, embora tenha sido descartado posteriormente que estivessem carregados.

O prefeito da cidade, Alejandro Eder, ofereceu uma recompensa de até 400 milhões de pesos (cerca de R$ 545 mil) “a quem fornecer informações que permitam identificar e capturar os responsáveis”.

O Vale do Cauca, Departamento colombiano cuja capital é Cali, tem sido alvo frequente de ataques nos últimos meses.

No dia 10 de junho, também foi atribuída ao EMC a responsabilidade por uma onda de explosões e ataques armados em Cali que resultaram em sete mortes.

Outros 12 atentados ocorreram no Departamento vizinho de Cauca, deixando oito mortos.

Esta região do país abriga várias dissidências das Farc, facções herdeiras do paramilitarismo e do Exército de Libertação Nacional (ELN).

Todos esses grupos disputam o controle territorial e travam uma luta armada entre si e contra o Estado colombiano.

Cali é a terceira cidade mais populosa da Colômbia, com cerca de 2,2 milhões de habitantes.

Ataque a helicóptero da polícia

Horas antes das explosões em Cali, o diretor-geral da polícia, Carlos Fernando Triana, havia classificado como “ação terrorista” o abate do helicóptero policial em Amalfi, em Antioquia, no qual morreram 12 policiais.

Segundo Triana, a ação foi “contra um grupo de policiais que realizava tarefas de pulverização terrestre de plantações ilícitas e contra uma aeronave da instituição”.

De acordo com a emissora de rádio W, o ataque com drones ocorreu enquanto o helicóptero “se dirigia para apoiar um grupo de policiais que realizava tarefas de erradicação manual de plantações ilícitas”.

Grupos dissidentes das Farc e do autodenominado Exército Gaitanista da Colômbia (EGC), mais conhecido como Clã do Golfo, também operam em Amalfi.

O ataque contra o helicóptero e os policiais foi atribuído ao EGC pelo ministro da Defesa, Pedro Sánchez, enquanto o presidente Petro o vinculou a dissidentes das Farc.

O governo Petro, que vai terminar seu mandato em agosto de 2026, manteve negociações de paz com vários grupos armados, incluindo o EGC, dissidentes das Farc e o ELN, embora estas últimas estejam suspensas.

Enquanto essas negociações acontecem, especialistas consultados pela BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, destacam que vários grupos armados se “fortaleceram nos últimos tempos”, especialmente em termos de controle territorial e economias ilícitas.

Meses turbulentos

Desde o início de 2025, os colombianos observam com preocupação um agravamento da violência, manifestada em imagens que muitos acreditavam terem sido superadas.

Em janeiro, uma crise humanitária eclodiu na região de Catatumbo, na fronteira com a Venezuela, quando uma escalada militar entre o ELN e a Frente 33 das dissidências das Farc deixou pelo menos 117 mortos e mais de 60 mil desalojados.

Esse episódio coincidiu com vários confrontos mortais em Cauca, Guaviare, no sul de Córdoba, em Magdalena Medio e Cesar, todos cenários de confrontos entre grupos armados que lutam pelo controle territorial.

Jorge Mantilla, que tem doutorado em criminologia pela Universidade de Illinois em Chicago, especialista em temas como crime, segurança e conflito colombiano, já havia advertido sobre uma “implosão” da política de segurança de Petro em uma entrevista à BBC News Mundo.

Meses depois, em 7 de junho, o pré-candidato à presidência e senador da oposição Miguel Uribe Turbay foi baleado durante um ato público em Bogotá, morrendo no hospital na madrugada de 11 de agosto.

A morte dele foi o primeiro assassinato de um líder político na Colômbia nas últimas três décadas.

Após os ataques de quinta-feira, que até agora não parecem estar relacionados, os opositores do governo Petro, como o partido Centro Democrático, fundado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, questionaram duramente a gestão da área de segurança do atual presidente.

“Enquanto a segurança do país se deteriora de forma alarmante, o governo Petro concentra seus esforços e os recursos do Estado em proteger os criminosos das Farc e do ELN com o argumento dos diálogos da ‘paz total'”, afirmou o partido no X.

Na mesma linha, o ex-presidente César Gaviria, diretor do Partido Liberal, disse em uma carta que “é evidente que a chamada política de paz total do governo de Gustavo Petro fracassou em seu objetivo de reduzir a violência”.

Petro se defendeu mostrando um gráfico da Polícia Nacional que indica que a taxa de homicídios sob seu governo é consideravelmente menor do que a de governos de décadas atrás, incluindo o de Gaviria.

A menos de um ano das eleições presidenciais, a polarização da política colombiana gira cada vez mais em torno da segurança, que preocupa cada vez mais muitos cidadãos.


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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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